Já sofreu ghosting? Como se proteger de relações tóxicas em apps de namoro

Alguém já te "deu um perdido"? Estudos mostram que as pessoas preferem receber atenção negativa a serem totalmente ignoradas

Ghosting
Crédito: Fast Company Brasil

Danielle Sukenik 4 minutos de leitura

Expressões que descrevem atitudes tóxicas em relacionamentos virtuais estão por toda parte. Já ouviu falar de ghosting? Orbiting? Breadcrumbing? Embora esses comportamentos não sejam novos, os termos usados para descrevê-los continuam evoluindo.

Como psicoterapeuta, vejo de perto o impacto que essas experiências podem ter na saúde mental. Dada a grande quantidade de pessoas que usam aplicativos de namoro, é provável que você já tenha tido alguma vivência direta ou indireta nesse mundo.

Aqui estão algumas descobertas da ciência sobre relacionamentos virtuais, tanto para curiosos quanto para aqueles que estão buscando estratégias para lidar com comportamentos tóxicos.

GHOSTING E ORBITING

Ghosting é um sumiço repentino, sem qualquer explicação. A pessoa some de repente, muitas vezes deixando a outra sem entender o que aconteceu.Orbiting é quando alguém desaparece, mas continua seguindo a outra pessoa, vendo seus stories ou interagindo com seu conteúdo. Esses comportamentos são bastante comuns e, sem dúvida, causam um grande impacto.

Um estudo de 2022 comparou as consequências psicológicas de ser vítima de ghosting, de orbiting e de ser rejeitado, perguntando a 176 participantes sobre uma das três estratégias de término que haviam experimentado. Em seguida, eles respondiam a um questionário sobre o que sentiram após o fim do relacionamento.

Embora o sentimento de rejeição estivesse presente em todos os casos – o fim de qualquer relacionamento é sempre doloroso –, os resultados mostraram que, para aqueles que sofreram ghosting, ele foi mais forte. Este grupo foi também o que mais sentiu que suas necessidades de pertencimento, autoestima e controle foram abaladas.

O orbiting, por outro lado, pareceu proteger parcialmente as vítimas das consequências emocionais de um término. Elas

também relataram sentir níveis mais altos de rejeição e abalo em suas necessidades do que aquelas que foram rejeitadas diretamente, mas menos do que as que sofreram ghosting. Talvez a atenção esporádica suavize o sentimento de rejeição.

Dois estudos em 2004 e 2005 mostraram que as pessoas preferem receber atenção negativa a serem completamente ignoradas. Nestes experimentos, aqueles que tiveram que lidar com o sumiço de seu(a) companheiro(a) relataram níveis mais baixos de pertencimento, controle e autoestima do que pessoas cujo término envolveu uma discussão.

BREADCRUMBING

Breadcrumbing (algo como "jogar migalhas") é quando alguém oferece pequenas doses de atenção apenas para manter o interesse do outro, mesmo que não tenha a intenção de entrar em um relacionamento.

Alguns sinais clássicos são não responder a mensagens por longos períodos, se comunicar de forma vaga e evitar falar sobre sentimentos. Esses comportamentos tendem a aumentar a autoestima, o ego e a sensação de poder da pessoa que pratica breadcrumbing.

Para quem sofre, porém, a história é completamente diferente. Um estudo de 2020 com 626 pessoas descobriu que vítimas de breadcrumbing são significativamente mais propensas a se sentir solitárias, impotentes e menos satisfeitas com a vida do que vítimas de ghosting.

Como elas ficam em uma espécie de limbo por mais tempo, experimentam repetidamente sentimentos de rejeição e exclusão. Essa natureza contínua explica por que o breadcrumbing pode ter mais efeitos negativos na saúde mental.

COMO SE PROTEGER

Dada a prevalência desses comportamentos, é provável que você também já tenha usado algumas dessas táticas. Se este for o caso, convido-o a refletir sobre como esse comportamento pode ter impactado o outro.

Caso já tenha sido vítima, aqui estão algumas estratégias com base em evidências para voltar a ter uma visão positiva dos relacionamentos online.

Cada vez que passamos por alguma experiência desse tipo, nossa mente cria uma narrativa em torno do que aconteceu para dar sentido a tudo e criar uma ilusão de controle ou segurança.

Crédito: Freepik

Quando não estamos cientes das histórias que contamos a nós mesmos, podemos acabar atribuindo culpa ou falha incorretamente, o que pode levar a autocrítica negativa, ansiedade e depressão.

Por exemplo, em vez de dizer “fiz algo errado para que ele(a) desaparecesse”, procure pensar que a decisão de sumir tem mais a ver com ele(a) e com a forma como se relaciona com os outros do que com você.

Estar atento aos padrões cognitivos e mudar a maneira como enxerga a situação pode ajudar a evitar que atitudes tóxicas em relacionamentos online causem estragos à sua psique.

Também recomendo variar as formas como você se conecta com os outros. Uma combinação saudável de aplicativos e conhecer pessoas “na vida real” geralmente produz melhores resultados e faz com que a aventura do namoro continue emocionante.

Este texto foi reproduzido do The Conversation sob licença Creative Commons. Leia o artigo original.


SOBRE A AUTORA

Danielle Sukenik é instrutora de psiquiatria no Campus Médico Anschutz, da Universidade do Colorado. saiba mais