Kagi, o improvável concorrente (pago) do serviço de busca do Google

Com os resultados do Google cada vez mais poluídos, o Kagi vem ganhando espaço ao oferecer uma experiência mais limpa, eficiente e centrada no usuário

Créditos: Kagi/ Reprodução de tela/ Konstantinas Ladauskas/ Unblast

JR Raphael 3 minutos de leitura

Fazer pesquisas online já não é como antes. De um lado, cresce a sensação de que os resultados do Google estão perdendo qualidade. Do outro, ferramentas de IA como ChatGPT, Perplexity e até o Gemini, do próprio Google, prometem respostas rápidas – mas nem sempre confiáveis. Não é fácil encontrar um buscador independente e eficiente.

Isso levanta dúvidas sobre o futuro da busca tradicional, enquanto gigantes da tecnologia lutam para conter o enorme volume de conteúdos gerados por inteligência artificial que estão contaminando os resultados.

No meio disso tudo, uma pequena empresa chamada Kagi vê uma oportunidade: convencer as pessoas a abandonar o Google, ignorar respostas imprecisas da IA e adotar um buscador independente, que oferece uma forma mais eficiente e transparente de encontrar informações sem abrir mão da qualidade da experiência.

O fundador do Kagi, Vladimir Prelovac, percebeu mudanças no cenário da busca online já em 2018, muito antes de o ChatGPT se tornar popular. Na época, ele havia acabado de vender sua plataforma de gerenciamento do WordPress e buscava um novo desafio.

Foi então que começou a notar um padrão: o Google parecia cada vez mais focado em agradar os anunciantes que pagavam para aparecer nos resultados, em vez de priorizar os usuários que realmente faziam as buscas.

“Achei absurdo não existir um buscador que realmente atendesse os usuários, e não os anunciantes”, diz ele. “Foi quando percebi que a única forma de mudar isso era criar um serviço por assinatura – porque esse é o único modelo que alinha os incentivos corretamente.”

Com essa ideia em mente, Prelovac começou a desenvolver um novo buscador. Em menos de um ano, criou um protótipo do Kagi – nome que, em japonês, significa “chave”, simbolizando a proposta de desbloquear uma experiência de busca mais eficiente e centrada no usuário.

A empresa busca um público fiel o suficiente para garantir a sustentabilidade do serviço no longo prazo.

Sete anos depois, o Kagi conta com 38 mil assinantes pagantes, que desembolsam entre US$ 5 e US$ 25 por mês. Esses números não são nada perto da gigantesca base de usuários do Google e dos bilhões de dólares que a empresa fatura com publicidade. Mas, para Prelovac, isso é justamente o que pode garantir o futuro do buscador.

Ele pode ser descrito como uma versão mais limpa, eficiente e personalizável do Google – sem anúncios, sem resultados patrocinados e sem distrações. Além disso, o Kagi não empurra respostas geradas por IA no topo da página. Mas, se o usuário quiser, pode acessar uma ferramenta própria da plataforma para buscas com inteligência artificial.

O foco é simples: levar o usuário diretamente à informação que ele procura, da forma mais rápida e agradável possível. “Se quem paga pelo serviço é o próprio usuário, então nosso único incentivo é melhorar a busca continuamente”, explica Prelovac.

POR QUE PAGAR POR UM BUSCADOR INDEPENDENTE

Para entregar uma experiência realmente personalizada, o Kagi permite bloquear sites específicos dos seus resultados; priorizar páginas confiáveis, para que apareçam com mais frequência; e customizar totalmente a interface, ajustando a aparência e o comportamento da busca.

Um dos diferenciais mais interessantes são as “lentes” – filtros personalizados que permitem restringir as buscas a determinados tipos de sites. Por exemplo, você pode criar uma lente para pesquisar apenas em publicações acadêmicas, fóruns ou sites específicos de sua preferência. No Kagi, a experiência de busca é definida pelo usuário – e não por algoritmos voltados para interesses comerciais.

Crédito: Reprodução/ Kagi

Ao contrário do Google, que se mantém por meio de anúncios, o Kagi aposta em um modelo de assinatura. E, diferente de outras startups de busca, como a Neeva – fundada por ex-executivos do Google em 2021 e encerrada dois anos depois –, ele já é lucrativo.

“Estamos desafiando um dos hábitos mais enraizados da sociedade: a ideia de que a busca online é algo gratuito e garantido”, afirma Prelovac. “Na realidade, é apenas um serviço oferecido por uma das empresas mais ricas do mundo.”

Mas o objetivo do Kagi não é substituir o Google. A empresa busca um público fiel e engajado o suficiente para garantir a sustentabilidade do serviço no longo prazo – provando que há espaço para um buscador independente, transparente e centrado no usuário.


SOBRE O AUTOR

JR Raphael escreve sobre produtividade e tecnologia. saiba mais