Kiss faz seu último show ao vivo, mas seus avatares viverão para sempre
A banda encontrou uma maneira de continuar tocando após a aposentadoria: como uma banda virtual criada pelos empresários por trás do ABBA Voyage
A noite de sábado (2de dezembro) deveria ser o fim para a mundialmente famosa banda de rock Kiss – a última noite da última turnê, o final da “End of The Road World Tour” (Turnê Mundial Fim do Caminho). Uma despedida tão longa e ensurdecedora que ecoou por cinco continentes e centenas de estádios, durando 58 meses e quase matando o vocalista da banda, Paul Stanley, no processo.
À medida que a meia-noite se aproximava no Madison Square Garden, os acordes do bis final do grupo – "God Gave Rock n 'Roll To You" – subiam até o teto, até a noite da cidade de Nova York e até o público que pagou US$ 39,99 para ver o show no pay-per-view. Cinco décadas de heavy metal e maquiagem pesada estavam prestes a acabar.
E então veio o êxtase holográfico. Luminosos e flutuantes, os integrantes do Kiss se elevaram. Não aquelas formas terrenas conhecidas como Gene Simmons, Paul Stanley e os "novatos" Eric Singer e Tommy Thayer. Eles haviam desaparecido, provavelmente nos bastidores.
Era hora de seus avatares assumirem a performance como figuras colossais que, por meio de uma combinação de projeção em tela de LED, lasers, fumaça densa e pirotecnia, pareciam tridimensionais e muito maiores do que a vida. O Kiss havia sido transfigurado para essa forma superior: propriedade intelectual licenciada.
As imagens tecnológicas por trás dos avatares do Kiss são dos magos da Industrial Light & Magic (ILM). Eles se tornaram conhecidos, nos últimos anos, por levar os efeitos visuais pelos quais são famosos nos universos cinematográficos de “Star Wars” e “Jurassic World” para eventos ao vivo, na forma de avatares realistas e outras fantasias visuais.
“Isto é uma prévia à medida que a banda faz a transição do mundo físico para o digital", diz Grady Cofer, supervisor de efeitos visuais na ILM. "Queremos dar aos fãs uma ideia das muitas formas que esta banda poderia assumir no futuro.”
Os financiadores e produtores da empreitada são os fundadores da empresa sueca Pophouse Entertainment, responsável pelo show incrivelmente bem-sucedido ABBA Voyage em Londres. Outra colaboração de avatar com a ILM, esse show foi assistido por 1,9 milhão de visitantes desde sua estreia em 2022 e supostamente fatura US$ 2 milhões por semana.
A Pophouse é liderada pelo executivo musical sueco Per Sundin. Ela foi fundada por Conni Jonsson, que fundou a empresa de private equity EQT, e pelo próprio Björn Ulvaeus, do ABBA. Seu objetivo é adquirir os catálogos musicais de bandas antigas e revitalizar o interesse nelas de maneiras criativas.
O Kiss sempre ultrapassou os limites da tecnologia e do espetáculo. Os primeiros anos foram marcados por baixistas cuspidores de fogo, kits de bateria flutuantes e guitarras de chumbo disparando balas. Mais recentemente, a banda fez experiências de shows em realidade virtual. A banda também não se acanha em ganhar dinheiro – é conhecida por vender de tudo, desde quadrinhos e preservativos até caixões.
Há alguns meses, Simmons insinuou que o Kiss poderia continuar além do seu último show de maneiras que até ele não havia pensado, incluindo recrutar outras pessoas para usar a maquiagem e fazer turnês regionais, à la Blue Man Group. Em vez de novos humanos, os fãs do Kiss ganharam avatares.
Onde esses avatares vão aparecer e como serão monetizados ainda está para ser visto. A Pophouse contratou Thierry Coup, ex-diretor criativo da Universal Destinations & Experiences, para ser o diretor criativo do show de avatares do Kiss. Trabalhando com os membros da banda e a ILM, o grupo pode aparecer em uma performance ao vivo, nos metaversos Roblox ou Fortnite, ou em tudo isso.
“Vamos descobrir depois da turnê", diz Sundin. "Será um show do Kiss no futuro? Será uma ópera rock? Um musical? Uma história, uma aventura? Esses quatro indivíduos já têm superpoderes. Queremos ser o mais abertos possível.”
Os avatares da noite de sábado foram feitos na ILM usando captura de movimento da formação atual da banda. Mas poderiam Peter Criss e Ace Frehley, o baterista e guitarrista da formação original da banda, reaparecer? E os futuros avatares do Kiss poderiam parecer completamente diferentes?
Claro. Sundin pondera que o Homem-Aranha tem um multiverso de encarnações infinitas. Por que o Spaceman não poderia? "Podemos ser eternamente jovens e eternamente icônicos ao nos levar para lugares que nunca sonhamos antes", disse Simmons em um vídeo promocional filmado na ILM em novembro.
"A tecnologia vai fazer com que o Paul [Stanley] pule mais alto do que nunca. Estou ansioso por isso."
"E não vai doer!" exclamou Stanley.