A escuta atenta pelo sucesso das marcas: “comuninclusão”

A tecnologia deu voz e vez aos invisíveis. Agora cabe às marcas prestar atenção no que eles têm a dizer

Crédito: VectorFun/ GettyImages

Luiz Buono 3 minutos de leitura

A comunicação, do jeito que era, colapsou. Os papeis se inverteram e o consumidor assumiu o comando das marcas. Melhor que isso, a digitalização das narrativas – que eu apelidei de “comuninclusão” – vem transformando a sociedade, criando um lugar de fala a quem não tinha como se expressar e simplesmente não existia, a não ser que caísse nas graças de algum figurão na antiga mídia de massa.

As marcas passaram a se inspirar nas pessoas e nos conteúdos para construir suas narrativas. A conversa substituiu a comunicação one way. Ficou comum uma marca fazer um post em suas redes sociais a partir de posts de influenciadores e cidadãos anônimos.

Ou seja, a narrativa não vem mais de cima para baixo, mas do povo e para o povo. De gente para a gente. Vozes que jamais sonharam em ser ouvidas, agora são. Novos talentos anônimos emergiram. Isso é transformador.

Na carona, a democracia do microempreendedorismo nos canais eletrônicos, e-commerce, redes sociais etc. viabiliza o lançamento de coisas, ideias e pessoas como nanomarcas. E o melhor, com a opção de se manterem pequenas com bastante sucesso em seus nichos, trazendo o ganha pão para muitos, ou se transmutarem em fenômenos globais, do qual destaco a Anitta.

Vozes que jamais sonharam em ser ouvidas, agora são. Isso é transformador.

A selfmaded woman não perde o rebolado nem fora dos shows. Se coloca para falar de investimentos, política, questões de gênero, sem querer ser a dona da verdade e como um ser humano vulnerável que é (e que somos).

Temos dezenas de exemplos, como o “Razões para Acreditar”, que só veicula boas notícias, ajuda pessoas e nos lembra que ainda existem brasileiros do jeito que a gente gostaria de ser. Com milhões de seguidores e milhares de causas (aliás, “causa” é o nome do jogo), prega uma filosofia interessante, de que não é o mundo que piorou. São as pessoas que não conseguem saber das coisas boas que acontecem.

Temos ainda inúmeros exemplos, como a comunidade Énois, Noticia Preta etc, conteúdos que representam as comunidades minorizadas e abrem espaço ao combate dos estereótipos.

EM QUE PÉ FICA A PROPAGANDA?

A meu ver, essa proliferação na produção de conteúdo vindo das mais diversas fontes, aliada à potência do e-commerce, é a grande revolução. É a evolução da comunicação em comuniclusão, a escuta atenta que as marcas devem fazer para serem amadas por seus clientes, o protagonismo migrando das marcas, dos poderosos, para as pessoas.

A publicidade sangue azul sai de cena e chegam os novos movimentos da periferia e seus temas fincados na raiz verdadeira da vida nacional: o convívio em rede, a diversidade, a igualdade de gênero, das raças, a inclusão social, a preocupação com o meio-ambiente, com o consumo consciente, com a regeneração das relações no trabalho e todo um universo esquecido pelo antigo mainstream.

A publicidade serve de guardiã para que as marcas não se percam em narrativas fragmentadas e infinitas.

Então, vem aquele pigarro na garganta: e a propaganda, como fica? Penso que ela ainda tem um papel importante, mas muito diferente do passado. Hoje, serve de guardiã para que as marcas não se percam em narrativas microfragmentadas e infinitas.

A propaganda dá o norte para que todas as conversas, vínculos e lacinhos com as marcas convertam para a mesma direção e se fortaleçam. Dá um framework para as marcas não ficarem perdidas num mar de conteúdo.

Esse é o poder agregador da propaganda: síntese, coesão e pertencimento. O caminho para transformarmos narrativas em valor para a sociedade.

Finalizo tirando o chapéu para essa tal comuniclusão, que mudou a comunicação e a vida de milhões de pessoas, deu voz, pão e honra a muita gente. Sobretudo, atende com precisão o chamado da humanização da tecnologia, em que é preciso avançar sem deixar ninguém à margem.

No final do dia, além de iluminar uma fatia de seres humanos que durante anos estavam invisíveis, a comuninclusão trouxe na mesma medida as inverdades digitais e os conteúdos sem qualidade. Nisso, a propaganda também tem o seu dever de curadoria. Faz parte do jogo. O mais legal de tudo é ver o renascimento em termos culturais, sociais e humanos.

Me sinto animado. Vejo que o mundo da comunicação mudou para melhor. E isso, para mim, é lindo!


SOBRE O AUTOR

Luiz Buono é fundador e líder da agência Fabbrica, mentor da Endeavor Brasil e membro do conselho da International Business School of ... saiba mais