Bye, bye smartphone. A nova tendência são os celulares “burros”

Nova parceria entre Heineken e Bodega indica que os “dumbphones” estão chegando ao mainstream

Crédito: Fast Company Brasil

Grace Snelling 3 minutos de leitura

A geração Z está cansada dos smartphones – e as grandes marcas estão começando a perceber isso. Nos últimos anos, os “dumbphones” (ou celulares “burros”) – aparelhos inspirados nos anos 90 com recursos reduzidos – têm ganhado força.

Muitos fabricantes menores lançaram seus próprios modelos e a tendência até inspirou um subgênero de vídeos no YouTube dedicado a ajudar os espectadores a transformar seus smartphones em dumbphones.

Embora pais cautelosos e entusiastas da tecnologia já tenham aderido à tendência, parece que agora ela está se popularizando. Em uma colaboração inesperada, a marca de cerveja Heineken e a loja de roupas Bodega criaram o Boring Phone, um aparelho “sem recursos, mas cheio de estilo”.

O Boring Phone é uma homenagem à estética dos anos 2000, com um design translúcido, tela dobrável e detalhes em verde. De acordo com Andrey Tyukavkin, diretor criativo da LePub, a agência de branding por trás da campanha, ele foi projetado para “oferecer o básico para uma ótima noitada”, como mensagens de texto e chamadas, sem as distrações de um smartphone.

O aparelho é uma versão exagerada de um dumbphone. Ele conta com um aplicativo de e-mail que não tem espaço de armazenamento para receber e-mails. “Assim, sobra mais espaço para sua vida social”, diz Tyukavkin.

Os outros aplicativos são pequenos truques para incentivar os usuários a socializar mais, como um app de táxi que os encoraja a conversar com o barman e uma versão do clássico “jogo da cobrinha” que os incentiva a sair do celular e aproveitar a festa em que estão.

“Outros recursos incluem lanterna, calendário, rádio FM e alarme. Há apenas alguns anos, era tudo o que precisávamos para sair à noite, não é mesmo?”, lembra Tyukavkin.

Esses “aplicativos” são na verdade apenas iniciadores de conversa – e tudo bem. O Boring Phone não precisa realmente funcionar. A Heineken e a Bodega criaram apenas cinco mil unidades e planejam distribuí-las por meio de competições em vez de disponibilizá-las para venda.

A VOLTA DOS DUMBPHONES

Existem muitos dumbphones funcionais no mercado. Em 2023, marcas como Light Phone e dumbwireless relataram um grande aumento na demanda, especialmente entre o público mais jovem. A HMD, fabricante por trás da Nokia, dobrou as vendas de celulares tipo flip de 2022 para 2023 e prevê retornos ainda maiores para este ano.

O ressurgimento dos dumbphones coincide com as crescentes preocupações sobre o impacto das redes sociais na saúde mental dos adolescentes e com a dependência excessiva dos smartphones pós-pandemia.

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A Heineken e a Bodega realizaram uma pesquisa para descobrir como os “zillennials” (uma combinação da geração Z e dos millennials) em idade legal para beber no Brasil, EUA, Reino Unido, Alemanha, México e Itália interagem com smartphones em ambientes sociais.

Cerca de 90% dos entrevistados no Reino Unido e nos EUA admitiram ficar no celular enquanto socializam. Mais de um terço disse que checava o celular com mais frequência do que deveria enquanto conversam com outras pessoas e 38% afirmaram que consideram desligar o telefone ou deixá-lo em casa no futuro.

Tyukavkin acredita que a geração Z está aderindo aos dumbphones por causa de sua relação com a tecnologia. “Eles não veem a tecnologia da mesma forma que outras gerações”, diz ele.

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“A maioria das pessoas é levada a pensar que tudo está constantemente melhorando e que todos precisam acompanhar, mas a geração Z se concentra no que as tecnologias – tanto antigas quanto novas – podem fazer por eles.”

Como todas as iniciativas de marketing, o Boring Phone pretende servir como um reflexo direto da cultura atual. Mas o que isso significa para o futuro dos dumbphones? Se a tendência de tecnologias dos anos 90 continuar, a geração Z poderá exercer uma enorme influência sobre como as grandes marcas pensam o design de seus celulares.

Mas as manobras de marketing são uma faca de dois gumes. Elas sinalizam a chegada de uma tendência ao mainstream e, às vezes, o início de seu declínio.


SOBRE A AUTORA

Grace Snelling é colaboradora da Fast Company e escreve sobre design de produto, branding, publicidade e temas relacionados à geração Z. saiba mais