Chegará o dia em que uma inteligência artificial acabará tomando o seu emprego?

Crédito: Fast Company Brasil

Sean Captain 5 minutos de leitura

Por décadas, os robôs têm trabalhado lado a lado com humanos. Na indústria automobilística, por exemplo, são os responsáveis pela solda e pintura, por serem mais precisos e confiáveis. Trabalhos que exigem manter-se no mesmo lugar e realizar tarefas repetitivas têm sido o foco principal da automação.

Mas, com a explosão da inteligência artificial (IA), os robôs estão começando a entender tarefas mais complexas. Na agricultura, eles não somente aram os campos, mas hoje já são capazes de reconhecer ervas daninhas e eliminá-las com lasers. Em hospitais, fazem de tudo, desde buscar medicamentos ou equipamentos para enfermeiros até ajudar cirurgiões a direcionar e manusear instrumentos com mais precisão.

O relatório do Fórum Econômico Mundial de 2020 previu que a robótica e a automação eliminariam 85 milhões de empregos em todo o mundo nos próximos cinco anos. No entanto, também previu que as tecnologias criariam 97 milhões de novos empregos – sobretudo, os que exigem mais habilidade e formação.

Sem dúvidas, isso causa muita ansiedade. Uma pesquisa realizada pela Morning Consult em 2021 aponta que 48% dos norte-americanos temem que a automação reduza o número de vagas de empregos. Esse temor se mostra maior entre adultos que ganham menos de US$ 50 mil por ano e entre pessoas sem diploma universitário.

“Pessoas com habilidades desejáveis e treinamento adequado conseguirão encontrar emprego”, afirma Lionel P. Robert Jr., professor do Instituto de Robótica da Universidade de Michigan. “No entanto, aqueles com nível de escolaridade mais baixo ou poucas qualificações terão menos opções, quando esses empregos desaparecem.”

A cadeia de suprimentos global está sob forte pressão, resultando em altas nos preços para o consumidor final. Já o comércio eletrônico cresceu de forma bastante rápida à medida que as restrições da pandemia começavam a ser impostas (aumento de 14,2% de 2020 a 2021). Essa grande demanda está fazendo com que a implantação de robôs seja cada vez mais necessária. Em nenhuma outra área ela é mais presente do que nos setores de armazenagem e transporte rodoviário.

ARMAZENAGEM AUTOMATIZADA

“Mover paletes, empilhadeiras e caixas em centros de armazenagem – essas são as funções onde vimos uma explosão da robótica”, relata Matthew Johnson-Roberson, diretor do Robotics Institute, da Carnegie Mellon University. A Amazon opera sua própria empresa de robótica para impulsionar a tecnologia. E um número crescente de startups, como Berkshire Grey, Covariant, Dexterity e Plus One Robotics, estão oferecendo serviços de automação para o resto do setor.

Pessoas com nível de escolaridade mais baixo ou poucas qualificações terão menos opções quando esses empregos desaparecem.

Tomemos como exemplo o “organizador de pedidos”, um sistema de controle no qual os funcionários registram os pedidos dos clientes. A Berkshire Gray agora oferece uma solução automatizada que preenche e transfere os pedidos concluídos para envio. Ela é capaz de lidar com a mesma quantidade de pedidos, necessitando apenas de um terço do número de funcionários, segundo a empresa.

Na medida em que a IA robótica se torna melhor no reconhecimento e manuseio de uma variedade maior de pacotes, a necessidade de humanos no processo será cada vez menor. “Trata-se de um campo onde centenas de bots trabalham juntos. Não há humanos”, diz Sri Solur, diretor de produtos da Berkshire Grey, que tem Walmart, Target e FedEx entre seus clientes. As pessoas só entram em cena quando o sistema trava, como quando uma esteira emperra, por exemplo.

Mas, por enquanto, a demanda ainda supera em muito o que as máquinas são capazes de suprir. Apesar da automação, a Secretaria de Estatísticas Trabalhistas dos EUA prevê que o emprego de armazenagem cresça 7% entre 2020 e 2030. Hoje, há aumento de salários e oferta de benefícios para reter e atrair novos trabalhadores para esses empregos exaustivos.

FRETE AUTOMATIZADO

As mercadorias percorrem um longo caminho entre o centro de armazenamento e a casa do consumidor, o que torna o trabalho dos caminhoneiros extremamente exaustivo. Uma das desvantagens desta função é o tédio de dirigir por horas na estrada – novamente, um trabalho ideal para a automação. Várias empresas, como Aurora, Plus, TuSimple e Waymo (empresa irmã do Google), estão testando sistemas de direção automatizada.

Algumas propuseram automatizar as rodovias – onde ocorre mais de 90% do transporte de longa distância – e usar motoristas humanos para lidar com o transporte nas cidades, onde a direção é mais complicada. Mas a Aurora, que atende FedEx, Uber Freight e Werner, afirma que será capaz de automatizar todo o sistema de frete até o final de 2023. “Apenas usaremos motoristas humanos quando for realmente necessário”, diz Chris Urmson, CEO da Aurora. (que anteriormente liderou o projeto de carros autônomos do Google). “Isso significa que temos que partir de um ponto específico e ter um objetivo claro.”

O investimento necessário para criar uma frota de robôs que mude completamente a dinâmica do mercado de trabalho é alto.

Rachel Binder, analista sênior de inteligência da CB Insights, diz que o sistema rodoviário de transporte poderá em breve ser automatizado, mas prevê que uma automatização completa leve mais cinco ou 10 anos. Demora bastante para que uma tecnologia se torne onipresente. “O investimento necessário para criar uma frota de robôs que mude completamente a dinâmica do mercado de trabalho é alto”, explica Johnson-Roberson sobre o transporte automatizado.

Se a automação for implementada em todo o setor de frete, poderá acabar com até 400 mil empregos nos EUA, de acordo com um estudo realizado em 2020 pela Cornell University. Mas será que este é um setor que fará falta para pessoas em busca de emprego? Hoje, já é difícil encontrar profissionais para essa área. Em 2021, os Estados Unidos tinham cerca de 80 mil vagas de motorista não preenchidas, segundo estimativas da American Trucking Association.

OS EMPREGOS DESAPARECERÃO – ALGUM DIA

As forças econômicas, demográficas e culturais estão se unindo para aumentar a demanda por robótica e economizar mão-de-obra, ao passo que a tecnologia está cada vez mais complexa e cria máquinas mais inteligentes. Os robôs sempre começam com as tarefas mais mundanas e simples. Mas, à medida que a IA evolui, até mesmo funções que exigem julgamento humano, destreza e precisão acabarão se enquadrando nessa definição.

No entanto, nada disso acontecerá nos próximos anos. O tempo necessário para que as IAs consigam ser tão boas em determinadas tarefas quanto humanos nos dará uma grande vantagem para aprender habilidades mais avançadas. No final, elas podem fazer com que os trabalhadores se tornem mais especializados e, consequentemente, conquistem posições e salários melhores. Em vez de serem substituídos por máquinas, a automação pode simplesmente se encarregar das funções que as pessoas já não querem mais realizar.


SOBRE O AUTOR

Sean Captain é jornalista e cobre as áreas de negócios, tecnologia e ciência. saiba mais