DOOH: o que o Brasil pode (e deve) aprender com a Coreia do Sul?
Apesar da complexidade tecnológica das telas gigantes de resolução impressionante, sua aplicação se baseia no simples e no prático, sem invencionismos
Depois de quatro anos trabalhando na agência de publicidade Cheil, chegou a hora de finalmente embarcar para Seul para um encontro global de lideranças. Eles costumam acontecer todo ano, mas, por conta da pandemia, calhou de ser este meu primeiro CLC (Cheils Leaders Conference), que voltou agora em 2024 unindo executivos de todas as agências do grupo – Cheil, Iris, Mckinney, Barbarian e cylnder.
Nunca tinha ido para a Coreia e, confesso, resistia um pouco a realizar uma viagem de 30 horas – ou pouco mais do que isso. Apesar de estar conectada diariamente com os coreanos que vivem no Brasil, tinha receio do que encontraria. Afinal, estamos muito mais familiarizados e confortáveis com as práticas do mundo ocidental.
Lá fui eu. Voltei encantada com o que vivenciei. Já em terras brasileiras, foi impossível não refletir sobre a capacidade de desenvolvimento que esse “pequeno gigante” fez (e ainda faz!) em tão pouco tempo, se compararmos aos potenciais naturais que temos por aqui.
Sim, a Coreia do Sul é um país com riquezas naturais bem restritas. Um país que teve e ainda tem conflitos e que foi explorado por China e Japão, este último seu colonizador.
Como todos os sul-coreanos me dizem, “somos pequenos, não temos nada, fomos devastados, a terra não produz, não há alimentos em abundância. A única coisa que tínhamos, literalmente, era uns aos outros. Ou fazíamos, ou fazíamos”.
Esse é um aspecto fundamental para entender porque os coreanos são tão resilientes, porque sempre esperam mais e sempre há uma oportunidade de olhar sobre uma nova perspectiva para desenvolver um novo negócio, uma nova tecnologia. E, acima de tudo, há de se fazer de maneira eficiente e eficaz.
O sul-coreano é assim, direto e reto. Enxerga o todo, entende as particularidades e constrói de maneira simples e prática. Não tem “meia volta”: compreendida a necessidade, o foco é 100% em como podemos evoluir, melhorar e/ ou resolver.
“O brasileiro também tem muitos desses aspectos”, você pode me dizer. É verdade, e sempre digo que somos muito batalhadores e trabalhadores. Mas há nessa relação uma diferença importante, que molda o jeito coreano de ser: não sabemos, felizmente, o que é uma terra devastada e sem oportunidade de frutificar.
Tudo isso para dizer que a tal zona de conforto, por lá, não existe para absolutamente ninguém. Tudo muda a cada ano. Bairros que ficam antigos são 100% demolidos e reconstruídos. A cada dia, nascem das soluções simples, como os feixes de luz na calçada para auxiliar os pedestres e minimizar os crescentes acidentes (porque as pessoas vivem cada vez mais “com a cara no celular”), às mais elaboradas, como a checagem de passaporte 100% automatizada na saída do país.
Na publicidade isso também se reflete – e, nesse caso, literalmente. Numa cidade pulsante e tecnológica como Seul, o DOOH (digital out-of-home) impressiona e gera experiências únicas, tanto em impacto quanto em possibilidades imersivas.
Mais do que a simples oportunidade de expor marcas, sua estrutura nos traz pontos interessantes de reflexão sobre como podemos evoluir como comunidade.
O sul-coreano enxerga o todo, entende as particularidades e constrói de maneira simples e prática.
A capital coreana tem grandes ruas, com seis faixas em média para cada lado, quase como nossas marginais, mas todas elas com calçadas enormes. Na parte mais interna, as ruas se assemelham a pequenas vilas, com pessoas passeando pelas ruas quase em harmonia com os poucos carros – afinal, toda a cidade foi feita para que eles trafegassem pelo centro, entrando nesses espaços apenas quando estritamente necessário.
Com isso, a comunicação massiva fica concentrada nas grandes avenidas. Por seus enormes formatos e qualidade impressionante das telas, é possível ver os painéis de forma clara de diversos pontos, tanto para quem caminha quanto para quem dirige.
Evitando a poluição visual e aquele efeito caótico da Broadway, essas estruturas são razoavelmente espaçadas, o que gera muito mais conforto para o olhar e para o ambiente. Ao mesmo tempo, são pouquíssimos os painéis digitais na altura dos olhos: eles estão sempre acima, vívidos e brilhando para você.
É mais um bom exemplo de como o coreano consegue unir os dois extremos: apesar da complexidade tecnológica das telas gigantes de resolução impressionante, sua aplicação se baseia no simples e no prático, sem invencionismos, mas com grande efetividade no propósito: fazer com que as pessoas, de forma mais natural, vejam e prestem atenção nos anúncios.
Impossível voltar sem refletir: estamos realmente conseguindo ser efetivos nos nossos planos de comunicação? Como, enquanto comunidade publicitária, temos que discutir um ambiente melhor para execução de DOOH de forma eficaz?
Afinal, não adianta apenas importar e aplicar os grandes painéis de LED. Temos que falar da cidade e de como a nossa comunicação complementa, agrega e gera uma experiência mais relevante.