O jeito Apple de gerar buzz sobre seu metaverso: ficando em silêncio

Parte da estratégia de gestão de hype incrivelmente eficaz da Apple é saber quando não dizer nada

Crédito: Istock

Rob Walker 4 minutos de leitura

Poucas empresas são tão boas em alimentar e cultivar o hype em torno de lançamentos quanto a Apple. Mas qual é o segredo? Talvez seja manter tudo em segredo. Ou, pelo menos, fazer uma análise minuciosa de quando é o timing perfeito para anunciar formalmente a novidade ou produto mais recente. A gestão de hype da Apple é incrivelmente disciplinada, e parte dela é saber quando não dizer nada.

Basta olhar para a maneira como Apple e Meta estão lidando com suas respectivas iniciativas de realidade virtual do metaverso. Quando ficamos sabendo alguma coisa do que a Apple está fazendo, é por meio de especulações e rumores. Hoje, o mais comentado é que a empresa pode lançar seu próprio headset de realidade virtual/aumentada no ano que vem.

A Bloomberg publicou recentemente que as ofertas de vagas de emprego na Apple indicam que a empresa está buscando engenheiros com várias habilidades de hardware e software de realidade virtual, incluindo “o desenvolvimento de um mundo de realidade mista 3D”.

A Apple, supostamente, não gosta do termo “metaverso”, mas isso foi interpretado como mais uma prova de que ela enfrentará diretamente a Meta e outros concorrentes de VR/AR. No entanto, a empresa não fez comentários sobre esta afirmação.

FAZENDO BARULHO

A Meta, por sua vez, adotou uma abordagem bastante diferente, anunciando fortemente que está reorientando todo o seu modelo de negócios em torno do metaverso e mudando de nome para deixar isso bem claro.

Quando ficamos sabendo alguma coisa do que a Apple está fazendo, é por meio de especulações e rumores.

Esses anúncios não vieram acompanhados de uma grande revelação do produto, mas acenam para o futuro: o metaverso vai ser grande… algum dia. E estamos trabalhando nisso!

Essa combinação de hype exagerado e promessas vagas resultou em chacotas constantes sobre os resultados inexpressivos até agora. Também contribuiu para que as ações da Meta caíssem para um terço de seu valor há um ano.

Outro ponto de comparação é o que poderia ser chamado educadamente de abordagem transparente de Elon Musk na condução do Twitter: constantes pensamentos em voz alta sobre possíveis recursos, estruturas de preços, fluxos de receita, modelo de negócios principal etc.

Essa abordagem tão pública não gera ganhos perceptíveis, muitas vezes expõe falhas de execução e vem ajudado a tornar a marca sinônimo de caos, não de inovação.

A explosão de publicidade gratuita que a Apple desfrutou ao listar vagas de emprego sem qualquer comentário público, muito menos alarde, é apenas o exemplo mais recente e quase rotineiro de como a empresa parece gerar hype, em parte, mantendo o silêncio.

SUCESSOS E FRACASSOS

Este legado de sigilo inspirou uma série de especulações e rumores. É justamente por sempre parecer estar trabalhando em algo nos bastidores que existe um mercado para qualquer informação que possa surgir sobre a Apple. Até quando a empresa entrou com um pedido de patente da caixa de pizza que utiliza em seu refeitório, isso virou notícia.

quando chega a hora, a Apple sabe como anunciar seus produtos de forma impactante e pode ser extremamente agressiva.

Uma das razões pelas quais a abordagem da Apple realmente aumenta o hype é que, quando chega a hora, ela sabe como anunciar seus produtos de forma impactante. Pode ser extremamente agressiva e, claro, seus eventos de lançamento são extraordinariamente populares, cobertos ao vivo pela imprensa e pelos fãs da marca. Esses eventos muitas vezes são uma revelação dramática, na qual finalmente descobrimos quais rumores eram verdadeiros.

Outro grande motivo é que a empresa tem um ótimo histórico de atender às expectativas. Sim, o iPhone continua sendo o carro-chefe. Mas, além de produzir excelentes computadores, a Apple tem entrado em uma variedade de categorias de hardware – de tablets a AirPods e smartwatches – e em um número crescente de serviços, incluindo um de streaming com produções que venceram o Emmy e o Oscar, um serviço de fitness e um cartão de crédito.

Mas nem só de sucessos vive a Apple, ela também teve alguns fracassos completos. Lembra do Ping, a tentativa de entrar no universo das redes sociais? Também houve outros erros, desde as falhas no Maps, quando foi lançado, até o G4 Cube, que estava fadado ao fracasso. Se você não se lembra desses exemplos, bem, isso é em parte porque a Apple não os anunciou como o futuro da vida digital ou porque logo redirecionou a atenção para produtos e serviços que deram certo.

Claramente, a Apple aprendeu ao longo do tempo que o poder do hype eficaz depende, em grande parte, de saber o que não dizer – e usar o silêncio estratégico para despertar a curiosidade.


SOBRE O AUTOR

Rob Walker assina Brended, coluna semanal sobre marketing e branding. Também escreve sobre design, negócios e outros assuntos. saiba mais