Realidade aumentada pode ser o futuro da propaganda de varejo
A Coach instalou um espelho de realidade aumentada na vitrine de uma loja em Nova York para atrair clientes. A estratégia tem funcionado
A realidade aumentada (RA) está se tornando a nova melhor amiga das grandes lojas de varejo. Nos últimos anos, dezenas de marcas, como Ikea, Warby Parker e Cartier, começaram a experimentar diferentes tecnologias de RA.
Elas permitem aos clientes visualizar como um sofá ficaria no espaço de sua sala de estar, experimentar um par de óculos no conforto de sua casa ou mesmo ver como um anel Cartier de US$ 35 mil ficaria em seu dedo.
Mas em Nova York, uma marca começou a usar a realidade aumentada como isca para atrair mais pessoas. A luxuosa casa de moda Coach – especializada em bolsas, malas e acessórios de couro – instalou um “espelho RA” na vitrine de sua loja-conceito no bairro do SoHo.
Conforme a pessoa passa em frente à loja, acaba parando em frente ao “espelho”, que mostra um reflexo seu segurando várias versões do modelo de bolsa mais vendido da marca, a Tabby. Esse espelho é, na verdade, uma tela que exibe um vídeo de você se movendo em tempo real e sobrepõe um modelo 3D de uma bolsa pendurada no seu ombro virtual ou na palma da sua mão virtual.
A experiência foi desenvolvida pela Zero10, uma empresa de experimentação em moda que, até agora, se especializou em experiências com realidade aumentada de roupas, já tendo feito parcerias com Tommy Hilfiger, Crosby Studios e Maisie Wilen.
Discretamente até o momento, a empresa instalou quatro espelhos de RA, nas lojas da Tommy Hilfiger em Londres, Milão e Berlim. O CEO da Zero10, George Yashin, adiantou que lançará mais 40 espelhos nos próximos três meses, na França, Holanda, Alemanha, Austrália e China.
Na maioria das vezes, os espelhos de RA estão localizados dentro das lojas e sua missão é converter clientes em potencial em clientes efetivos. Mas o da loja da Coach tem um objetivo diferente: trata-se de capturar a atenção e atrair a pessoa a entrar na loja, onde ela pode experimentar os produtos na vida real (ou na frente de outro espelho de RA).
Uma semana após a instalação do equipamento, a equipe da Coach afirma ter notado que o número de pessoas que prestam atenção à vitrine aumentou em 93,5% e o tráfego na loja aumentou quase 50% (embora a proporção exata de clientes que sai de lá com uma compra na mão ainda não esteja clara).
Quando pisei na frente do “espelho”, fui presenteada com uma versão minha segurando um gato malhado roxo na mão direita, enquanto asas de borboleta roxa batiam suavemente nas minhas costas. Trinta segundos depois, lá estava eu segurando uma bolsa Tabby rosa, enquanto letras individuais formando a palavra “Tabby” flutuavam ao meu redor.
Os espelhos de realidade aumentada da Zero10 são alimentados por um supercomputador que usa modelos de visão computacional para renderizar roupas (e bolsas) em resolução 4K. Normalmente, um espelho de RA usa rastreamento corporal 3D e simulação de tecido para ajudar os consumidores a experimentar roupas com aparência realista.
Nesse caso, a empresa desenvolveu uma nova técnica que incorpora a física Ragdoll, como as usadas na indústria de jogos, para criar um personagem digital que responde às leis da física. Para a Coach, isso significa que os clientes podem mover as mãos e observar como a bolsa se move junto.
Para ser bem honesta, a experiência não é igual à de se olhar em um espelho. Quando entrei na loja e brinquei com o espelho de RA lá de dentro, notei que as bolsas virtuais pareciam mais brilhantes do que as reais. Meu “reflexo” também parecia ligeiramente torto.
Yashin diz que as cores supercarregadas e os gráficos adicionais – como as asas de borboleta – estão ali propositalmente, para adicionar um toque lúdico à experiência. Mas a equipe está trabalhando em um espelho que vai capturar a imagem de duas câmeras em vez de uma, resultando em uma imagem digital mais realista.
Por fim (e como era de se esperar), Yashin prevê que os espelhos de realidade aumentada se tornarão parte integrante de qualquer experiência de varejo. “Agora, a ferramenta faz parte da loja física para direcionar o tráfego de pedestres. Mas acredito que o espelho de RA se tornará um novo tipo de loja em si”, aposta.
Em vez de ocupar “100 metros quadrados” com uma loja no estilo tradicional, as marcas poderiam ocupar um espaço muito menor e instalar um “quiosque de RA” que permitisse ao cliente experimentar algo virtualmente, comprar e ter o produto entregue em casa.
Ainda não se sabe se os consumidores estarão dispostos a comprar algo sem poder tocar ou sentir na pele. Mas o espelho de realidade aumentada da loja Coach é a prova de que o neologismo (em inglês) “phygital”, que expressa cruzamento entre o físico e o digital, talvez de fato represente o futuro do varejo.