Menos alcance, mais crítica: o esgotamento do público com a cultura da influência

Discussão expõe a distância entre vidas reais e narrativas de comportamento e consumo de luxo nas redes sociais

gesto de rejeição a influenciadores digitais
Crédito: Deagreez/ Getty Images

Eve Upton-Clark 3 minutos de leitura

“Quero falar sobre algo que talvez seja um pouco controverso”, disse a criadora de conteúdo Jaclyn Hill em um vídeo publicado recentemente.

A influenciadora, considerada uma das pioneiras do universo da beleza no YouTube, iniciou sua trajetória na plataforma há mais de uma década. Desde então, expandiu sua presença para outras redes sociais, incluindo Instagram e TikTok, onde acumula, respectivamente, 8,5 milhões e 1,2 milhão de seguidores.

No vídeo – que já ultrapassou 3,5 milhões de visualizações – ela desabafa sobre a dificuldade em alcançar audiência no TikTok e diz sentir que está “nadando contra a correte” para se conectar com seus seguidores. “Quando você tem um milhão de seguidores, mas só consegue 30 mil visualizações, não é assim que costumava ser”, afirmou.

Em uma coisa ela estava certa: o vídeo gerou controvérsia. Fãs correram aos comentários para criticá-la, dizendo que a influenciadora estava “fora da realidade”.

Um usuário escreveu: “dizer ‘estou esgotada’ de postar produtos da Sephora e 'vem comigo' para pessoas que trabalham é insano.” Outro comentou: “amor, esse moletom custa US$ 140. Esse é meu orçamento da semana inteira de supermercado para a família.”

Em meio à repercussão, um ponto importante acabou se perdendo. Hill reclamava das baixas visualizações, um sinal de que seu conteúdo não estava sendo entregue às pessoas que escolheram segui-la. Ela não estava levantando a questão do baixo engajamento, o que indicaria que os seguidores não estavam mais gostando do que ela posta.

Sem querer, a influenciadora acabou se tornando o rosto mais recente de uma discussão antiga sobre o cansaço em relação a influenciadores. Esses sentimentos vêm crescendo há alguns anos e, de tempos em tempos, ressurgem impulsionados por algum vídeo viral.

a influenciadora Jaclyn Hill, no TikTok
Jaclyn Hill (Crédito: Reprodução/ TikTok)

“Jaclyn, você é rica e venceu”, disse um criador, em resposta ao vídeo. “Sinto muito se as pessoas não querem ser afogadas em consumismo exagerado por influenciadores quando elas mal conseguem pagar comida ou moradia.” A Fast Company entrou em contato com Jaclyn Hill para comentar o caso.

Esse resumo captura o sentimento geral online: usuários estão cada vez mais cansados da enxurrada de anúncios e da sensação de estarem sendo "vendidos" o tempo todo.

Em muitos casos, o público simplesmente não compra mais o que influenciadores tentam vender – itens de luxo e estilos de vida extravagantes que parecem totalmente desconectados da realidade da maioria.

CANSADOS DO CONSUMISMO OU DOS INFLUENCIADRES?

Vale reforçar: a crítica de Hill era direcionada ao algoritmo, não aos seguidores – um tipo de reclamação que diversos influenciadores já fizeram ao longo dos anos.

Diferentemente de plataformas como o Instagram, onde o usuário precisa seguir um perfil para ver seu conteúdo, o TikTok trabalha com um algoritmo que mostra vídeos na aba "Para Você" com base no comportamento e nas preferências de cada pessoa.

usuários estão cada vez mais cansados da enxurrada de anúncios nas redes sociais.

Funciona assim: se um grupo de espectadores responde positivamente a um vídeo – compartilhando ou assistindo até o fim –, o TikTok passa a exibi-lo para mais pessoas com interesses semelhantes. Esse processo se repete até que o vídeo viralize.

Mas, se o primeiro grupo assiste apenas alguns segundos antes de rolar a tela, o vídeo passa a ser entregue para menos usuários, reduzindo drasticamente seu alcance. Se o público não quer mais ver consumo exagerado de influenciadores, o algoritmo simplesmente deixa de promovê-lo.

Hill, então, fez a pergunta diretamente aos seguidores sobre o que eles querem ver. Em um vídeo de resposta à polêmica, afirmou: “meus ouvidos estão abertos, estou ouvindo.”


SOBRE A AUTORA

Eve Upton-Clark é jornalista especializada em cultura digital e sociedade. saiba mais