Mesmo com Trump, X não é nem a sombra do que foi nas últimas eleições

A plataforma não é mais o palco principal da disputa presidencial – independentemente dos esforços de Elon Musk para mudar isso

Crédito: Sean Nufer

Harry McCracken 4 minutos de leitura

Mesmo que muitos duvidem da alegação da campanha de Trump de que a conversa no X Spaces entre o candidato republicano e Elon Musk na noite de segunda-feira (dia 12) foi a “entrevista do século”, é possível que concordem com a análise do meu colega Joe Berkowitz de que o evento foi uma vitória para Musk e para o Twitter (atual X). 

O número exato de espectadores ainda é um mistério. Mas, seja qual for esse número, certamente não foi pequeno. E enquanto escrevo esta matéria, o evento ainda está em destaque nos principais veículos de notícias.

Mas, embora a entrevista possa ter sido um sucesso, esteve longe de ser um triunfo completo. Se você tentou assistir no horário marcado, provavelmente foi expulso da sala do X Spaces várias vezes sem explicação.

Quando finalmente conseguiu entrar, teve que ouvir uma música de espera um tanto desconfortável e depois apenas silêncio, interrompido por ruídos do microfone de Trump. Somente após 42 minutos o candidato e o bilionário começaram a conversar.

Musk atribui o problema a um ataque massivo de DDoS, uma explicação que parece duvidosa. De qualquer forma, o episódio ilustra o estado instável do X como uma plataforma de debate político durante a disputa presidencial norte-americana de 2024.

Dizer que esta disputa é uma eleição “pós-Twitter” é literalmente correto, já que o nome do serviço mudou oficialmente para X há mais de um ano. Mas há algo mais profundo acontecendo. Independentemente do nome, a plataforma já não é o que era antes de Musk adquiri-la.

Isso não significa que o aspecto político da rede social está morto. Na verdade, a base de políticos, comentaristas, partidários, repórteres e entusiastas de campanhas continua quase intacta – ao contrário de outras comunidades que antes eram vibrantes, como a de tecnologia, que definitivamente encolheu.

As chances de a discussão migrar para fora do X são pequenas, considerando que o Threads, da Meta, o único serviço semelhante ao Twitter com escala de mídia de massa, optou por minimizar o assunto – pelo menos por enquanto.

Desde o fraco desempenho de Joe Biden no debate até a tentativa de assassinato de Trump, passando pela saída do atual presidente da corrida e a ascensão instantânea de Kamala Harris como sucessora, as últimas sete semanas foram algumas das mais marcantes na história das campanhas políticas nos EUA. No entanto, não parece ter tornado o X mais relevante.

Este declínio pode ter sido inevitável, considerando que os dias de glória da plataforma já passaram. Mídias antigas não desaparecem, como prova a persistência de canais de notícias em TV a cabo, programas de rádio, jornais e revistas impressas, que ainda desempenham um papel importante na forma como vivenciamos a política.

O que acontece é que essas mídias tradicionais tendem agora a lutar por relevância, em vez de dominar o debate. E o X pode estar seguindo o mesmo caminho.

o impacto potencial do TikTok nas 12 semanas restantes da corrida presidencial ainda é incerto.

Além disso, houve uma mudança significativa em janeiro de 2021, quando Donald Trump – que, como presidente, usava a plataforma para tudo, desde anunciar grandes mudanças políticas até demitir altos funcionários da administração – foi banido “permanentemente” após seu papel na invasão do Capitólio dos EUA, em 6 de janeiro.

Depois de enfrentar banimentos semelhantes em outras plataformas sociais, ele criou sua própria versão do Twitter, o Truth Social. Desde então, a maioria de suas postagens tem sido mais ruído do que notícia. Seu interesse financeiro em seu próprio serviço o manteve lá, apesar de Musk ter suspendido a punição logo após assumir o controle da plataforma.

O retorno pouco entusiasmado do candidato ao X ocorre apesar do apoio de Musk e de sua disposição em usar a plataforma para promover seus próprios interesses políticos de uma maneira que difere bastante do Twitter de antes. Esses movimentos vão contra sua declaração de que deseja transformar a rede social em uma praça pública digital ainda maior.

Crédito: Richard Bord/ WireImage

Se há algo que aprendemos com a administração de Musk no X até agora, é que ele raramente se preocupa com questões importantes, como administrar a plataforma como um negócio, em vez de um passatempo pessoal.

Enquanto isso, o TikTok vem ganhando espaço. A rede social extremamente popular tem pouco em comum com o X e tende a passar despercebida, em parte porque nunca foi uma obsessão como o Twitter para a maioria dos jornalistas que poderiam escrever sobre ela. 

Quando todos presumiam que a eleição presidencial de 2024 seria uma repetição dos candidatos de 2020, os apoiadores de Trump no TikTok eram vistos como mais engajados do que os de Biden, que nunca foi um ícone das plataformas sociais. A campanha de Harris, mais moderna e familiarizada com os memes, por outro lado, tem uma chance de alcançar esse público.

    No entanto, o impacto potencial do TikTok nas 12 semanas restantes da corrida presidencial ainda é incerto visto que seu algoritmo é otimizado para atrair atenção, não para verificar fatos. O X está longe de ser um bastião da verdade e da precisão, mas, pelo menos, há muitos usuários que contestam as informações falsas.

    Quando olharmos para trás e escrevermos sobre esse período singularmente estranho, é possível que cheguemos à conclusão de que esta foi, para o bem ou para o mal, a primeira verdadeira eleição do TikTok. Seria útil saber disso enquanto ainda está acontecendo – mas isso pode exigir que desviemos um pouco da atenção que há tanto tempo dedicamos ao X/ Twitter.


    SOBRE O AUTOR

    Harry McCracken é editor de tecnologia da Fast Company baseado em San Francisco. Em vidas passadas, foi editor da Time, fundador e edi... saiba mais