8 vezes em que a Meta foi acusada de copiar funcionalidades dos concorrentes

Do Stories no Instagram ao Facebook Namoro, a estratégia expansionista de Mark Zuckerberg está no centro de um importante processo antitruste

Crédito: Freepik

Chris Stokel-Walker 4 minutos de leitura

O longo depoimento de Mark Zuckerberg no processo antitruste movido pela Comissão Federal de Comércio dos EUA (FTC, na sigla em inglês) contra a Meta – dona do WhatsApp, Instagram e Facebook – chamou atenção por vários motivos.

Durante horas, na semana passada, o CEO da Meta tentou defender a companhia das acusações de sufocar a concorrência ao comprar empresas rivais assim que elas começam a representar uma ameaça.

Um e-mail de 2012 apresentado pela FTC parece falar por si só. Nele, Zuckerberg discute a possibilidade de comprar o Path e o Instagram, dois concorrentes em ascensão na época.

“Esses negócios ainda estão no início, mas suas redes já estão estabelecidas, as marcas já são relevantes e, se crescerem em larga escala, podem se tornar um grande problema para nós”, escreveu, sugerindo que o Facebook deveria comprá-los. Mas, no tribunal, ele negou que estivesse se referindo ao Instagram ou ao Path, dizendo que falava de forma geral sobre concorrentes.

Para os críticos, essa troca de e-mails revela uma estratégia mais ampla da Meta – algo que o próprio Zuckerberg deixou claro em outro e-mail de 2012. “Mesmo que surjam novos concorrentes, comprar Instagram, Path, Foursquare etc. agora nos dará um ano ou mais para integrar suas dinâmicas antes que alguém consiga chegar perto da mesma escala. Nesse tempo, se incorporarmos as mecânicas sociais que eles usam, os novos produtos não terão muita chance, pois já estaremos usando essas mesmas ideias em larga escala.”

Procurada pela Fast Company, a Meta preferiu não comentar oficialmente sobre as semelhanças entre seus produtos e os de concorrentes. Já no tribunal, os advogados da empresa classificaram o processo da FTC como “uma série de argumentos contraditórios, sem base nos fatos ou na lei”.

A estratégia da Meta de copiar concorrentes não é segredo.

É claro que se inspirar em concorrentes – seja em termos de ideias gerais ou recursos específicos – não é algo raro no universo das redes sociais. Mas, embora muitas empresas façam isso, a Meta costuma agir de forma mais rápida e agressiva.

“A estratégia da Meta de copiar concorrentes não é segredo”, diz o especialista em redes sociais Matt Navarra. “É o próprio modelo de negócios. A tática ‘ctrl+c e ctrl+v’ de Zuckerberg é motivo de piada, mas funcionou – e transformou a Meta na potência global que é hoje.”

Aqui estão oito exemplos marcantes de funcionalidades "copiadas" na última década:

2016: Stories (inspirado no Snapchat)

O Snapchat revolucionou as redes sociais em outubro de 2013 ao lançar o Stories, que permitia aos usuários compartilhar fotos e vídeos que desapareciam após 24 horas. O recurso logo virou febre – o que talvez explique por que, em 2016, o Instagram (já sob o controle do Facebook) lançou sua própria versão.

2018: Lasso (inspirado no TikTok)

Em 2018, o TikTok estava crescendo rápido entre os jovens, justamente o público que o Facebook tinha dificuldade em manter. Em novembro daquele ano, o Facebook lançou o Lasso, um aplicativo independente focado em vídeos curtos e divertidos.

Mais tarde, um áudio vazado revelou a estratégia de Zuckerberg: lançar o app em países onde o TikTok ainda não era popular. O Lasso, no entanto, não emplacou e foi encerrado em 2020.

2019: Facebook Namoro (inspirado no Tinder e outros apps de realcionamento)

No fim da década de 2010, apps como Tinder já faziam parte do dia a dia de muita gente. Em 2019, o Facebook lançou sua própria versão: o Facebook Namoro, no qual os usuários podiam ver perfis e dar “match” – bem no estilo de outros aplicativos já consolidados no mercado.

2020: Hobbi (inspirado no Pinterest)

A equipe de pesquisa e desenvolvimento da Meta lançou o Hobbi, um aplicativo para organizar e compartilhar fotos de hobbies – claramente inspirado no Pinterest. A imprensa especializada o descreveu como “uma experiência de criação de conteúdos curtos voltado para projetos pessoais e hobbies, bem ao estilo Pinterest”. O app durou poucos meses e registrou menos de 10 mil downloads.

2020: Reels (inspirado no TikTok)

Depois do fracasso do Lasso, o Facebook fez uma nova tentativa de competir com o TikTok, lançando o Reels. O YouTube também entrou nessa disputa, criando seu próprio recurso, o Shorts. Muitos críticos apontaram as semelhanças entre as interfaces como mais um sinal da cultura de cópia das big techs.

2020: Neighborhoods (inspirado no Nextdoor)

Durante a pandemia, com o aumento do engajamento em comunidades locais, a Meta lançou o Neighborhoods, um recurso para compartilhar conteúdo apenas com pessoas da mesma vizinhança. Especialistas logo apelidaram a novidade de “clone do Nextdoor”. O serviço foi encerrado após cerca de dois anos.

2021: Bulletin (inspirado no Substack)

Com o crescimento das newsletters, impulsionado por plataformas como Substack, a Meta correu para lançar sua própria ferramenta, o Bulletin. A iniciativa chegou a atrair nomes de peso, como o jornalista inglês Malcolm Gladwell. Mas, assim como outros produtos da empresa, teve vida curta: foi encerrado no início de 2023.

2021: Live Audio Rooms (inspirado no Clubhouse)

O Clubhouse virou sensação durante a pandemia com seu formato de conversas por áudio em tempo real, logo seguido pelo Space, no Twitter. Em meados de 2021, a Meta lançou sua própria versão, o Live Audio Rooms. No final de 2022, o recurso também foi encerrado.


SOBRE O AUTOR

Chris Stokel-Walker é um jornalista britânico com trabalhos publicados regularmente em veículos, como Wired, The Economist e Insider saiba mais