Microsoft é quem mais sai ganhando com a polêmica em torno da OpenAI

Analistas questionavam há meses se a Microsoft seria capaz de explorar a tecnologia da OpenAI. A resposta parece ser sim

Satya Nadella, CEO da Microsoft (Crédito: Justin Sullivan/ Getty Images)

Chris Morris 4 minutos de leitura

Vai levar algum tempo antes que até que a poeira baixe após a implosão da estrutura de gestão da OpenAI, mas, pelo menos até o momento, a Microsoft parece ser a vencedora do imbróglio. O caso começou na sexta-feira (17 de novembro), quando o conselho de administração da OpenAI demitiu o fundador da empresa, Sam Altman.

Naquele dia, ninguém poderia imaginar que na segunda-feira seguinte (20 de novembro), ele e o ex-presidente da OpenAI, Greg Brockman (que se demitiu em apoio a Altman), seriam contratados diretamente pela Microsoft.

A situação parecia um pouco mais controlada com a indicação de Emmett Shear (fundador do que viria a ser a Twitch) para o lugar de Altman. Mas, na tarde desta terça-feira (dia 21), surgiram especulações sobre uma possível negociação para a volta de Altman à OpenAI, depois de um quase motim dos funcionários em protesto por sua saída. Até o fechamento desta matéria, a situação permanecia indefinida.

Em uma série de eventos em velocidade estonteante, o CEO da Microsoft, Satya Nadella, anunciou a contratação de Altman e Brockman para liderar uma nova equipe avançada de pesquisa em IA da Microsoft. Faz sentido. Afinal, a Microsoft investiu aproximadamente $13 bilhões na empresa e a tecnologia da OpenAI está incorporada a muitos dos seus produtos principais.

Por seu lado, Nadella postou no X/ Twitter que a empresa "permanece comprometida com nossa parceria com a OpenAI ... [e] aguarda ansiosamente conhecer Emmett Shear e [a] nova equipe de liderança da OpenAI e trabalhar com eles”. Mas como, exatamente, a Microsoft vai trabalhar tanto com a OpenAI quanto com sua própria divisão de IA?

Para responder a isso, Sarah Kreps, diretora do Instituto de Política Tecnológica da Universidade de Cornell, faz uma comparação com o jogo de Blackjack. De vez em quando, os jogadores recebem uma mão em que têm a oportunidade de dobrar a aposta. É uma manobra arriscada, mas pode resultar em grandes ganhos. A Microsoft, quando se trata de IA, basicamente fez isso.

“É o equivalente a dobrar a aposta no Blackjack", diz Kreps. "Encontrar talento em IA – pessoas inteligentes, com boas ideias e determinadas – é o Santo Graal na tecnologia. Recrutar [Altman e Brockman] não é apenas um investimento estratégico, mas também vai economizar [muito tempo e recursos para a Microsoft].”

É difícil imaginar como a Microsoft poderia ter se colocado em uma posição melhor. A empresa já tem uma licença perpétua para a propriedade intelectual da OpenAI, incluindo sua base de código e os parâmetros do modelo. A única exceção é a parte de IA generativa. Mas houve algumas reclamações internas este ano de que a Microsoft não está investindo em sua IA interna.

Isso, obviamente, mudou.

Analistas e especialistas vinham questionando nos últimos meses se a empresa teria capacidade para explorar o potencial da tecnologia da OpenAI, especialmente se houvesse uma fuga de talentos da empresa.

Com base nos eventos dos últimos dias, a resposta não só parece ser um sim retumbante como uma boa porcentagem do pool de talentos da OpenAI parece determinada a se transferir para a Microsoft.

É, de certa forma, uma aquisição de fato da OpenAI pela Microsoft. Mas a mudança ocorreu sem custar um centavo à gigante da tecnologia. E, o que é mais importante, de uma maneira que impede a Federal Trade Comission (FTC, órgão regulador da concorrência nos EUA) de iniciar uma investigação antitruste.

Enquanto isso, a OpenAI ainda tem o ChatGPT, o líder de fato em IA generativa, que já começou a ser monetizado. Dadas algumas declarações do conselho, é claro, há dúvidas sobre se a OpenAI quer trilhar esse caminho. Vale lembrar que ela foi criada como uma organização sem fins lucrativos e só depois abriu um braço “comercial”. Essa resposta se revelará com o tempo.

A Microsoft e a OpenAI sempre tiveram uma relação estranha de amigos/ inimigos, competindo por clientes, mas ainda dependendo uma da outra. Ambas alcançaram sucesso notável até agora. No entanto, com a fuga de talentos, é difícil imaginar que a Microsoft não vai tomar a frente.

“Acho que esse caos explica por que essas parcerias entre big techs e startups fazem sentido", diz Kreps. "A Microsoft já experimentou as ‘dores de crescimento’ na década de 1990 e agora tem um CEO que mostrou a capacidade de incorporar novas ideias e pensamentos e combinar isso com a capacidade de investimento da empresa.”

Já a OpenAI existe desde 2015, mas apenas no último ano explodiu e triplicou de valor. “O drama que se desenrola desde a última sexta-feira é a evidência do status ainda amador [da OpenAI]”, analisa Kreps.

Com informações de Michael Grothaus e da redação da Fast Company Brasil.


SOBRE O AUTOR

Chris Morris é um jornalista com mais de 30 anos de experiência. Saiba mais em chrismorrisjournalist.com. saiba mais