Música é a nova onda da Polaroid

Marca que é sinônimo de fotografia instantânea quer ir além, começando com app de música e alto-falantes bluetooth

Crédito: Polaroid/ Divulgação

Harry McCracken 4 minutos de leitura

Mesmo sem os logotipos, dá para identificá-los como produtos Polaroid. São todos estampados com o espectro de cores do arco-íris, com estojos brancos de plástico e grandes botões vermelhos que os conectam a outros aparelhos da marca, como era nos bons e velhos anos 1970.

Só que essas Polaroids não são câmeras de fotos instantâneas, mas sim alto-falantes bluetooth. Os Players são o primeiro resultado de uma iniciativa da marca para tentar fazer com que o público pense nela como um negócio que vai além das câmeras fotográficas.

O portfólio inclui quatro modelos, que vão de uma versão “quase de bolso’ (por US$ 60) até um aparelho mais robusto, parecido como uma caixa de som portátil (US$ 290).

Todos rodam streaming via bluetooh, graças ao aplicativo para celular Polaroid Music, que tem cinco canais próprios, mais integração com a Apple Music (um acordo com o Spotify está em negociação) e podem ser usados como um sistema estéreo sem fio.

A Polaroid de hoje é uma fusão dos remanescentes da empresa original com a The Impossible Project, startup que resgatou o filme Polaroid do ostracismo. Ele voltou à vida de formas que praticamente ninguém poderia ter previsto.

Crédito: Polaroid/ Divulgação

Mas o chairman da Polaroid, Oskar Smolokowoski, diz que a relação simbiótica da empresa com uma única tecnologia antiga e analógica é também um fator limitante. “Ela é mágica e ainda serve de inspiração para as pessoas, mas não pode ser a única coisa que fazemos. Não se quisermos que a Polaroid tenha futuro”, afirma.

Se era para tentar uma coisa nova, escolher a música tem uma certa lógica. A companhia sempre flertou com o áudio. Tanto a Polaroid original quanto a The Impossible Project tentaram descobrir um jeito de associar áudios curtos com fotografias instantâneas, embora os esforços não tenham levado a lugar nenhum.

Ainda assim o argumento mais forte para entrar no mercado de música é que o público já associa a marca Polaroid com criatividade, diversão e socialização – algumas das coisas que fazem com que as pessoas amem música. “Esse é um território que parece adequado para nós”, diz Smolokowski.

EXTENSÃO DE MARCA, PARA O BEM OU PARA O MAL

A ampliação do escopo da marca Polaroid, em geral, tem sido sinal de problemas. Nos anos 1980, conforme o mercado de fotografia instantânea ia chegando ao limite, a empresa começou a vender filmes fotográficos de 35mm e fitas de videocassete.

Crédito: Polaroid/ Divulgação

Tempos depois, após descontinuar a produção de filmes e câmeras instantâneas, sobreviveu como uma “marca de aluguel”, disponível para ser usada em quase qualquer coisa, de televisores a smartphones, passando por controles de videogame. Sem contar que houve, sim, alguns alto-falantes Polaroid com tecnologia bluetooth.

Nomes familiares do passado costumam manter um valor residual. Entretanto, com os novos Players, a Polaroid está em busca de algo mais profundo. Como as atuais câmeras, os alto-falantes evocam a estética da marca ao mesmo tempo em que passam uma sensação de renovação, em vez de algo gritantemente retrô.

A exuberância dos Players é impressionante em uma época na qual o design parece feliz em reciclar ideias batidas. Os produtos mais competitivos são “ou pretos ou em cores neutras”, diz o chairman. “Queremos animar um pouco mais, com brilho e vivacidade, por isso as cores são um aspecto muito importante”, explica.

E há ainda o aplicativo para smartphone. Com apenas cinco canais até o momento, ele certamente não será o único serviço de música a ser acessado pelos usuários, mas a Polaroid o vê como uma parte importante do pacote.

“Ficamos muito tempo pensando sobre que tipo de música provoca a resposta emocional que vem à tona quando se olha uma fotografia Polaroid”, diz o chief design officer da marca, Ignacio Germade.

Crédito: Polaroid/ Divulgação

Isso levou a empresa a criar canais com curadoria feita por seres humanos, com nomes como Polychrome (“como um delírio em um caleidoscópio”) e Royal Pine (“hinos inspiradores com raízes de verdade”), cuja programação é montada de acordo com determinado gênero ou década. Você pode ouvir Santana e Rosalia no mesmo canal.

Com os novos alto-falantes e o aplicativo, o objetivo é criar uma experiência que poderia servir como trampolim para a exploração da música como categoria, embora a Polaroid não tenha comentado sobre até onde pretende ir.

“Definitivamente, ainda levamos muito a sério o negócio da fotografia instantânea”, diz Smolokowski, ao acrescentar que a companhia está trabalhando em uma câmera com mais recursos, a ser lançada no ano que vem.

Afinal, mesmo que esse negócio de música dê certo, você pode apostar que a primeira coisa que vem à mente quando se fala em Polaroid é uma fotografia que se revela bem na frente dos seus olhos.


SOBRE O AUTOR

Harry McCracken é editor de tecnologia da Fast Company baseado em San Francisco. Em vidas passadas, foi editor da Time, fundador e edi... saiba mais