Netflix aposta em novo programa interativo

Crédito: Fast Company Brasil

KC IFEANYI 4 minutos de leitura

Em 2018, pouco depois de ter terminado o filme Black Mirror: Bandersnatch, Charlie Brooker, criador do programa, e Annabel Jones, produtora executiva, já estavam enjoados de fazer conteúdos interativos.

Como relembra Andy Weil, vice-presidente de comédia e líder de conteúdo interativo da Netflix, Brooker e Jones chegaram dizer que nunca mais queriam fazer algo naquele gênero: “‘É tão difícil. Você acaba se perdendo em alguns detalhes.’”

Mas, depois de terem sido agraciados com dois Primetime Emmy Awards e de colecionarem elogios inesperados do público, Booker e Jones mudaram de ideia. 

“Quando você vê a mágica desse tipo de serviço acontecendo depois de lançado, é tudo lindo, perfeito e funciona. É até meio viciante”, disse Weil. “É muito divertido observar a reação das pessoas quando jogam.” 

A mais recente experiência interativa da dupla é Cat Burglar, um desenho no estilo Tex Avery que envolve Rowdy Cat, um gato ladrão, contra Peanut, cão de guarda de um museu, em um assalto cheio de aventuras. Mas agora, em vez de o público controlar uma narrativa ramificada, os espectadores precisam responder corretamente a perguntas triviais para progredir na história.

“Estávamos discutindo internamente sobre como incluir informações curiosas durante o jogo”, diz Weil. “É como se a experiência de jogar se encontrasse com o acesso a novos conteúdos.”

A Netflix produz uma lista de conteúdos interativos desde 2017 e no ano passado fez sua aposta nos jogos para celular.

Mas Cat Burglar representa uma evolução na forma como o serviço de streaming está pensando em novos formatos de narrativa e mantendo, é claro, o público conectado.

“A animação é de primeira. A trilha sonora foi composta por uma orquestra ao vivo, que tocou especialmente para aquelas imagens. É uma [experiência cinematográfica], e não simplesmente um jogo para celular”, diz Weil. “É empolgante experimentar algo diferente, que pode tornar a Netflix um lugar atraente para jogar e, ao mesmo tempo, atrair mais público para outras de nossas animações para adultos, como Cuphead, BoJack ou Big Mouth.”

Nesse sentido, Weil ainda faz questão de marcar uma distinção clara entre os esforços da Netflix para produzir conteúdos interativos e a iniciativa de produzir jogos voltados para dispositivos móveis.  “Estamos nos mantendo a par de tudo o que todo mundo está fazendo nas duas áreas. Talvez essas coisas acabem se encaixando, mas, por enquanto, os jogos para celular são apenas para celular, enquanto os conteúdos interativos se assemelham mais a uma experiência cinematográfica para outros dispositivos.”

Mas esses esforços paralelos compensam?

Crédito: Netflix/ Divulgação

É compreensível que Charlie Brooker e Annabel Jones tenham pensado em abandonar o ramo dos conteúdos interativos depois que terminaram Bandersnatch. Um filme ou programa de TV que pode seguir várias direções é exponencialmente muito mais difícil de desenvolver do que uma história linear. Mesmo no caso de Cat Burglar, em que o enredo pode até ter um caminho, toda vez que um espectador erra uma pergunta há diferenças sutis na narrativa. 

“Isso fica extremamente complicado. Foi necessário contar com a ajuda de grandes cérebros – não o meu! – pensando conjuntamente no produto para ajudar os produtores a criar a estrutura”, diz Weil. “Parece muito simples quando você assiste, mas é um processo muito difícil.” Para o executivo, não há realmente um formato definido na criação de conteúdo interativo, o que traz desafios distintos para cada projeto.

Crédito: Netflix/ Divulgação

“Não existe um gabarito para produzir conteúdo de interação. Cada um é feito sob medida. Trata-se de delimitar o público, de garantir que [o conteúdo interativo] pareça único e que faça valer todo o tempo e esforço, interno e externo”, diz Weil.

“O plano maior é criar conteúdo para nossos usuários que eles amem e mantê-los como assinantes”, continua o VP da Netflix. “Portanto, não precisamos estipular um número X de conteúdos interativos para lançar a cada ano. Estamos desenvolvendo muitas coisas e, se forem ótimas, vamos conseguir atingir outro público, que não atingimos antes.”

Sem entrar em detalhes, Weil anunciou que uma nova experiência interativa já está prevista para o próximo ano, e que ela será diferente de tudo o que a Netflix fez antes, incluindo o formato de curiosidades de Cat Burglar.

“Não queremos nos repetir”, diz ele. “Queremos surpreender e encantar constantemente nossos assinantes. Vai valer a pena se as pessoas gostarem.”

Está claro que a plataforma de streaming está otimista em relação ao conteúdo interativo ser mais enxuto, mas ter uma base forte em meio ao seu oceano de opções de programação. “É um diferencial para o nosso serviço”, diz Weil. “Como estamos fazendo TV pela internet, há um desejo, eu acho, de que o espectador interaja com o conteúdo. Podemos aprimorá-lo e torná-lo mais agradável e divertido para as pessoas que demonstram esse desejo.”


SOBRE O AUTOR

KC cobre entretenimento e cultura pop para a Fast Company. Anteriormente, KC fazia parte da equipe vencedora do Emmy no “Good Morning ... saiba mais