Nova rede social promete conexões mais próximas e nada de anúncios

Niche planeja ganhar dinheiro ajudando os criadores a encontrar um público maior de consumidores dispostos a pagar

Crédito: Fast Company Brasil

Mark Sullivan 4 minutos de leitura

As gigantes redes sociais, que se baseiam na publicidade, não são mais as inesgotáveis fontes de receita que já foram, como sugerem os recentes números de “crescimento” do Facebook. Acontece que muitos consumidores, aparentemente, preferem mais passar seu tempo assistindo vídeos curtos do que compartilhando memes e apertando botões de “curtir”. Além disso, as novas restrições ao monitoramento de usuários tornaram mais difícil a segmentação de anúncios.

Os fundadores de uma nova rede social chamada Niche acreditam que a próxima geração de plataformas pode atender a comunidades online com interesses mais específicos, como hobbies ou criação de conteúdo.

Crédito: Niche/ Divulgação

“Acredito que a intenção inicial das redes sociais era conectar a todos – seus amigos do ensino médio, sua família. Uma conexão bastante ampla, mas com muito pouco em comum”, sugere o CEO do Niche, Christopher Gulczynski, que foi da diretoria do Tinder e do Bumble. “Mas acho que a tendência agora é se tornar menor, ficar mais íntimo de todos.”

Assim, no aplicativo Niche (disponível na App Store), você encontra grupos segmentados por interesses, como escalada ou colecionáveis de Star Wars, por exemplo. No futuro, o Niche hospedará grupos sobre muitos temas diferentes, incluindo artistas musicais e eventos de negócios.

A plataforma não tem publicidade, ressalta o CTO, Zaven Nahapetyan, outro cofundador, que durante anos foi gerente sênior de engenharia do Facebook. A receita virá da ajuda aos criadores para ganhar dinheiro e do auxílio aos usuários para encontrar conteúdos valiosos.

“Queremos que a receita venha do valor que as pessoas produzem, seja conteúdo digital vendido por um artista ou músico vende ou do valor dentro de certas comunidades”, explica Nahapetyan. “Por exemplo, você pode ter diferentes tipos de redes profissionais [ou] fã-clubes, pessoas tentando organizar eventos ou planejar coisas.”

BLOCKCHAIN NA BASE

Já que criar e trocar coisas de valor é fundamental para usar o Niche, a plataforma está sendo construída em cima da tecnologia blockchain. Os fundadores acreditam que as comunidades, aos moldes de organizações autônomas descentralizadas (DAOs) no blockchain, criam um sistema econômico que permite que os membros possuam, controlem e monetizem o conteúdo que criam.

Crédito: Niche/ Divulgação

O Niche foi desenvolvido com o NEAR, uma tecnologia blockchain que permite que a plataforma emita tokens para pessoas que ingressam em uma comunidade específica. Também permite que criadores, como artistas, escritores ou músicos, comercializem NFTs representando seu trabalho. Como DAO é um contrato inteligente, os tokens criados e trocados na plataforma podem ser estruturados para que ela receba uma pequena parte das vendas.

Mas, segundo Nahapetyan, grande parte do material blockchain ficará nos bastidores. Os membros da comunidade não precisarão ser especialistas em web3 para usá-lo. “Tornamos muito fácil criar uma DAO e adicionar novos membros de um jeito que as pessoas não percebem que se trata de uma organização descentralizada”, diz ele.

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Quando a pessoa se junta a um clube no Niche, a plataforma emite um token que representa sua propriedade de uma fração do grupo. “É literalmente apenas um link de texto que você recebe, clica nele e se inscreve no aplicativo”, explica Nahapetyan. O token é de graça e o app cria uma carteira gratuita em segundo plano onde é armazenado.

Nahapetyan e Gulczynski acreditam que, conforme os grupos forem adicionando mais membros e mais conteúdo, se tornarão mais valiosos.

“A ideia é criar esses grupos e, à medida que se tornam mais populares ou mais procurados, o valor aumenta, especialmente se houver uma oferta fixa”, explica Nahapetyan. “Talvez aquele grupo de escalada de 200 pessoas se torne muito popular e todos queiram participar. Então, as pessoas que entraram antes podem vender seus tokens por um preço mais alto.”

Crédito: Niche/ Divulgação

Esta não é a primeira rede social a criar comunidades focadas em criação de conteúdo. A Mighty Networks, por exemplo, foi desenvolvida com o mesmo princípio. Mas o Niche parece ser o único que usa blockchain como base para a economia que sustenta a rede.

Seu sucesso depende dos criadores e da adesão. Muitos usam plataformas especializadas, como Substack e Patreon, para vender seu conteúdo. Além de outras redes populares, como YouTube e Instagram, que, aponta Gulczynski, não foram originalmente construídas com as necessidades dos criadores em mente.

Se o Niche conseguir fazer a ponte entre criadores e consumidores dispostos a pagar, poderá ganhar força. O aplicativo cria um gráfico para rastrear os interesses dos usuários, mas com o objetivo de sugerir criadores e conteúdo, não para segmentá-los com anúncios.

“[Estamos] basicamente codificando um gráfico de interesse e então associamos as pessoas a esse gráfico de um jeito muito inteligente”, diz Gulczynski. “Podemos fazer a mesma coisa com os criadores de conteúdo, abordá-los e dizer 'temos X grupos com X pessoas que estão à procura de criadores de conteúdo'.”


SOBRE O AUTOR

Mark Sullivan é redator sênior da Fast Company e escreve sobre tecnologia emergente, política, inteligência artificial, grandes empres... saiba mais