Novas mudanças no Twitter podem virar pesadelo de desinformação

Remover o título e a descrição de links pode contribuir para a disseminação de fake news e onda de cibercrimes, alertam os especialistas

Créditos: Sean Gallup/ Justin Sullivan/Getty Images/ Julian Christ/ Unsplash

Chris Stokel-Walker 2 minutos de leitura

A plataforma X, anteriormente conhecida como Twitter, planeja mudar a forma como exibe links de outros sites. O objetivo é remover os títulos e subtítulos dos artigos que são compartilhados na rede.

A mudança, reportada pela “Fortune e posteriormente confirmada pelo próprio Elon Musk no Twitter/ X, aparentemente foi projetada para “melhorar a estética” do site. A revista informou que a intenção é diminuir o tamanho dos tuítes individuais para exibir mais conteúdo no feed de uma só vez, além de impedir que usuários sejam influenciados a clicar em links com manchetes sensacionalistas.  

Já é possível ver algumas modificações no design, na maneira como conteúdos de grandes domínios são mostrados. Mas especialistas alertam que isso pode ter efeitos negativos na alfabetização midiática e desencadear uma onda de cibercrimes.

“O que parece é que estão buscando eliminar meios de direcionar o tráfego para os sites de notícias”, afirma Alan Woodward, professor de cibersegurança da Universidade de Surrey, no Reino Unido.

Woodward também está preocupado que isso possa ser o primeiro passo em direção à censura de sites que desagradam Musk – lembrando que a plataforma já rotulou links para sites concorrentes, como o Substack, como inseguros, embora sem evidências.

Outra grande preocupação são os potenciais danos que a remoção de informações contextuais sobre um link podem causar aos usuários da plataforma. “Acredito que isso poderá ser explorado por alguns para espalhar desinformação”, afirma Woodward.

Em um ambiente no qual as pessoas são enganadas com frequência, remover informações não parece uma forma de solucionar o problema. É possível que trolls ou cibercriminosos usem imagens inofensivas ou relacionadas a um determinado tópico para promover um link que, na verdade, é malicioso.

especialistas alertam que as mudanças podem ter efeitos negativos na alfabetização midiática e desencadear uma onda de cibercrimes.

“Quando tudo o que temos são imagens sem contexto, fica muito mais fácil enganar e influenciar as pessoas”, explica Steven Buckley, professor de mídia e comunicações, especializado em política dos EUA e mídias sociais na Universidade de Londres. “Assim, o impacto das notícias falsas aumenta.”

Além dos riscos já mencionados, Buckley também expressa receio de que a mudança proposta possa forçar as empresas de jornalismo a repensarem suas estratégias editoriais.

“Se as organizações de notícias se curvarem ao novo modo de pensar de Musk e passarem a depender exclusivamente de imagens para atrair cliques, elas podem começar a focar em imagens chamativas e sensacionalistas”, argumenta.

“Todos nós já vimos thumbnails caóticas no YouTube, mas, ainda assim, nos sentimos compelidos a clicar para ver o conteúdo do vídeo. Esse tipo de imagem pode em breve inundar nosso feed do X, se Musk tiver sucesso.”


SOBRE O AUTOR

Chris Stokel-Walker é um jornalista britânico com trabalhos publicados regularmente em veículos, como Wired, The Economist e Insider saiba mais