O caso Google/ Chrome: nova “guerra de browsers” seria uma boa notícia

É uma pena que o Chrome e seus principais concorrentes tenham se tornado tão chatos

Créditos: Google DeepMind/ Unsplash

Harry McCracken 4 minutos de leitura

O Departamento de Justiça dos EUA pretende forçar o Google a vender o Chrome, o navegador mais popular do mundo. Esse movimento potencialmente transformador faria parte da solução para amplo domínio do Google sobre a busca na web. Vale lembrar que, em agosto, o juiz Amit Mehta, decidiu que o Google exerce monopólio ilegal sobre o segmento de busca.

Embora a agência de notícias Bloomberg cite um analista que estima que o Chrome poderia ser vendido por US$ 15 bilhões a US$ 20 bilhões, não fica muito claro por qual motivo ele valeria tanto para qualquer um que não o próprio Google.

A empresa se beneficia tremendamente da popularidade do Chrome para exibir anúncios para bilhões de pessoas – um dos ativos que tem utilizado para se tornar a força mais poderosa da indústria de publicidade digital. Essa é, aliás, uma parte considerável do motivo pelo qual o Google está em apuros com o DOJ, para começar.

Poucas empresas conseguiriam fazer um modelo de negócios semelhante funcionar: Amazon, Meta, Microsoft. Mas será que alguma delas estaria disposta a gastar uma grande quantia com o Chrome?

Ou será que alguém poderia comprar o navegador e fazer um acordo com uma dessas empresas, como aquele que faz do Google o mecanismo de busca padrão no Safari e deixa a Apple nadando em dinheiro?

Dado o ritmo do andamento dos grandes casos antitruste na justiça norte-americana, poderíamos ter anos para especular sobre essas possibilidades antes que alguma coisa realmente acontecesse – isso se, nesse meio tempo, o Google não achar um jeito de se livrar da obrigação de vender o Chrome.

Pelo menos, a perspectiva de uma grande reviravolta no negócio de navegadores ao menos nos dá uma desculpa para refletir sobre como ele se tornou chato. O Chrome e seus principais concorrentes – Safari, Microsoft Edge, Firefox – são todos bons. Apenas bons.

Faz anos desde que qualquer um deles demonstrou alguma inovação relevante, talvez em parte porque os navegadores de Google, Apple e Microsoft são todos partes necessárias de plataformas como Android, iOS e Windows, em vez de negócios por si só. Eles são um meio para um fim, e é só isso.

Nos últimos anos, nenhum novo concorrente importante surgiu para retomar a guerra dos navegadores.

Mas os navegadores não precisam ser tão chatos. Na verdade, houve vários momentos ao longo das últimas três décadas em que eles foram vitrines para uma competição vibrante e ideias brilhantes. Houve três desses períodos até agora, que chamo de Guerra dos Navegadores 1.0, 2.0 e 3.0.

- Guerra dos Navegadores 1.0: envolveu a competição, nos anos 1990, entre o Netscape Navigator (o primeiro gigante da navegação) e o Internet Explorer, da Microsoft. Essa batalha se tornou material para o histórico caso antitruste contra a Microsoft, embora o Navigator estivesse praticamente morto quando o DOJ e a empresa chegaram a um acordo, em 2001.

- Guerra dos Navegadores 2.0: colocou o Internet Explorer contra o Firefox, da Mozilla, o sucessor (de código aberto) do Netscape que fez um grande estrago na participação de mercado do navegador da Microsoft pelo simples fato de ser um produto muito melhor.

- Guerra dos Navegadores 3.0: começou quando o Chrome entrou no mercado, em 2008, competindo tanto com o Explorer quanto com o Firefox e, eventualmente, superando ambos.

Em cada caso, todos os concorrentes passaram por melhorias rápidas. O Chrome, por exemplo, trouxe ênfase na velocidade e no minimalismo da interface, o que foi uma revelação na época. Isso inspirou outros navegadores a se livrarem dos excessos, o que foi bom para todo mundo.

Mas isso foi há muito tempo. O Chrome de hoje não parece nem de longe tão ágil quanto o original, e nenhum novo concorrente importante surgiu para retomar a guerra dos navegadores.

À medida que os grandes navegadores se acomodaram, estreantes de pequenas empresas mantiveram a inovação viva. Por exemplo, o Arc é um navegador repleto de "toques de frescor". Meu colega Jared Newman adora o Vivaldi.

Assim como o Edge, Arc e Vivaldi são baseados no Chromium, a versão de código aberto da tecnologia do Chrome. O Google tem todas as razões para investir nessa plataforma, que facilitou muito a criação de navegadores alternativos. Um novo dono do Chrome pode ou não dedicar tanta atenção a ela.

Até o Firefox, que usa seu próprio mecanismo de renderização em lugar do Chromium, depende da generosidade do Google: a maior parte da receita da Mozilla Foundation (criadora do navegador) vem do pagamento do Google para ser o mecanismo de busca padrão do Firefox, semelhante à sua relação com o Safari.

Talvez uma venda obrigatória do Chrome gerasse em um resultado realmente inesperado, que faria com que o navegador voltasse a ser um celeiro de novidades – por exemplo, se a OpenAI o comprasse e o transformasse em um produto voltado para a inteligência artificial.

Se não for assim (o que é muito provável), espero que algum outro desenvolvimento sacuda o segmento de seu atual marasmo. Passamos tempo demais na internet para que os navegadores seja tão chatos.


SOBRE O AUTOR

Harry McCracken é editor de tecnologia da Fast Company baseado em San Francisco. Em vidas passadas, foi editor da Time, fundador e edi... saiba mais