O impacto dos nanossatélites no milionário negócio da exploração espacial

Amazon e SpaceX já estão de olho no potencial do CubeSats

Crédito: NASA/ Unsplash

Ed Sappin 4 minutos de leitura

Recentemente, as viagens espaciais voltaram às manchetes.

Vimos Jeff Bezos enviando o ator William Shatner, de 90 anos (e que interpretou o capitão James T. Kirk na série original Star Trek) para a gravidade zero a bordo de um dos foguetes Blue Origin.

Vimos Elon Musk, diretor executivo da SpaceX, falando abertamente sobre missões a Marte enquanto também faz sua parte para promover o turismo espacial.

Vimos Richard Branson anunciando que, se alguém quiser reservar um voo pela sua empresa de viagens espaciais, precisará desembolsar US$ 450 mil.

Tudo indica que os voos espaciais comerciais estão de fato decolando. A economia espacial global como um todo ficou em US$ 447 bilhões em 2020, e o banco Morgan Stanley projeta que passará de US$ 1 trilhão até 2040.

Mas, se essas aventuras em órbita garantem grandes manchetes, muitas expectativas e muito dinheiro, elas também dependem de pequenos passos. É o caso dos CubeSats, nanossatélites que podem ser lançados na órbita baixa da Terra para pesquisa e exploração.

Desenvolvido pela primeira vez em 2000 por Bob Twiggs e Jordi Puig-Suari – professores de Stanford e da Cal Poly San Luis Obispo, respectivamente – os CubeSats têm meros 10 centímetros cúbicos de tamanho e custam US$ 100 mil para serem lançados – para fins de comparação, os satélites tradicionais custam US$ 500 milhões.

A Satellite Markets and Research observa que agora eles podem ser usados ​​em todos os tipos de áreas e indústrias, incluindo agricultura, silvicultura, energia, mídia e entretenimento, engenharia civil, monitoramento de tráfego e arqueologia.

NÃO SAIA DA TERRA SEM ELE

Tudo começou em 1999, quando Twiggs estava ministrando um curso de pós-graduação sobre design de satélites em Stanford e resolveu desafiar seus alunos a desenvolver um que coubesse em uma caixa do tamanho da embalagem de um Beanie Baby – um ursinho de pelúcia que, naquela época, era muito popular nos Estados Unidos.

Um CubeSat custa US$ 100 mil para ser lançado, contra US$ 500 milhões para o lançamento de um satélite tradicional.

Conforme os alunos foram progredindo na resolução do desafio, houve uma reação considerável da comunidade científica em geral. Entretanto, em 2003 uma empresa com sede em Palo Alto chamada Quakefinder lançou um CubeSat triplo – apelidado de “QuakeSat” –, na tentativa de determinar se a radiação eletromagnética poderia ser detectada em uma área específica antes de um terremoto.

Quase imediatamente, as empresas aderiram a essa tendência. Grandes companhias, como a Boeing, mas outras menores também, como a Pumpkin, que desenvolveu todos os tipos de componentes CubeSat desde 2003, a ponto de ter registrado a frase “Don’t leave Earth without it” (ou Não saia da Terra sem ele, em tradução livre).

Um relatório da BBC de 2019 observou que as empresas pioneiras nesse setor “adotaram o rápido modelo de tentativa e erro do Vale do Silício”, acrescentando que, embora uma agência pública como a NASA seja avessa ao risco, o mesmo não se aplica a empresas do setor privado:

“Enquanto a NASA tradicionalmente se concentra em garantir que um kit caro funcione perfeitamente, o modelo CubeSat não se desespera com o processo de tentativa e erro. Falhar com satélites descartáveis ​​sai mais barato do que ter sucesso com os grandes. Se não funcionar, basta tentar novamente”, dizia o relatório da BBC.

TENTATIVA E ERRO

Vejamos o caso da Astra, uma empresa com sede em Alameda, na Califórnia. Em dezembro de 2020 ela recebeu um contrato de US$ 3,9 milhões da NASA para desenvolver um sistema de entrega CubeSat. Embora o lançamento de quatro CubeSats da Astra, em fevereiro de 2022, tenha terminado em fracasso, a empresa prometeu que iria refazer tudo do zero.

Outras missões planejadas da Astra envolverão o transporte de CubeSats que rastreiam a atividade solar, determinam o posicionamento dos satélites, entendem a radiação que enfrentam e outras tecnologias que permitem inspeção ainda em órbita.

Falhar com satélites descartáveis ​​sai mais barato do que ter sucesso com os grandes.

É importante entender que os CubeSats não têm um grande impacto de detritos na Terra, porque são muito pequenos. O maior problema é rastreá-los no espaço, para que não danifiquem outros satélites. Mas, na verdade, esse é um problema que se aplica a todos os satélites, à medida que os céus estão se tornando cada vez mais movimentados.

A ideia por trás do CubeSats não escapou ao conhecimento de algumas das principais empresas privadas da indústria espacial. Em 2019, a SpaceX lançou 60 nanossatélites, como parte de um sistema de banda larga em órbita que eventualmente compreenderá 12 mil CubeSats. Já a Amazon planeja colocar 3,2 mil desses dispositivos em órbita baixa da Terra para uma rede de banda larga própria.

Certamente, há várias possibilidades que ainda precisam ser exploradas no curto prazo, incluindo a educação (principalmente em Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática), a pesquisa científica de alto risco e o engajamento público, de cientistas cidadãos.

A conclusão é que, embora os principais players tenham grandes planos para a conquista do espaço, ainda há muitas possibilidades para iniciativas literalmente menores. Elas oferecem potencial em muitas áreas e pretendem causar um impacto descomunal nos próximos anos.


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