O metaverso pode não ter chegado, mas a tecnologia ambiente já está aqui

Enquanto a Meta e outros tentam alavancar o metaverso, uma visão diferente do futuro da tecnologia ganha força. E tem muito espaço para crescer

Crédito: Brandon Romanch/ Unsplash

Ross Rubin 5 minutos de leitura

Os smartphones são extremamente eficazes em atrair nossa atenção. Por mais que consigamos de vez em quando dar um tempo neles, essas pausas são curtas. Como se não bastasse a tentação de mexer nos muitos aplicativos que temos, as notificações asseguram que não nos esqueçamos deles.

Duas visões de um futuro pós-smartphone oferecem perspectivas contrastantes de como nossas vidas podem atingir níveis ainda mais altos de onipresença tecnológica. A maneira como se desdobram determinará o quanto teremos que nos acostumar com um novo mundo, em vez de viver em um que se adapte a nós.

De um lado, temos o metaverso, o destino para o qual Mark Zuckerberg conduziu a Meta. E a tecnologia mais madura que pode evoluir até ele é a realidade virtual (RV).

Tendo conquistado uma posição de liderança em RV com seus headsets Quest, a Meta atingiu um nível mais alto de realidade mista – no qual câmeras integradas podem ajudar a posicionar objetos digitais no mundo real – com seu novo Quest Pro.

A filosofia e o design da tecnologia ambiente prometem diminuir a tendência de uso exagerado, criando interações apenas quando necessário.

De outro, vemos grandes empresas de tecnologia, como a Amazon e o Google, adotando uma visão de tecnologia ambiente. Essa abordagem não requer nenhuma camada de objetos digitais sobrepostos ao mundo físico, muito menos uma em que excluímos o mundo real, como na realidade virtual.

Em vez disso, ela define novos métodos de interação em um ambiente personalizado e intuitivo repleto de sensores, conectividade e inteligência. Sua filosofia de design e a direção para a qual caminha prometem diminuir nossa tendência de uso exagerado, criando interações apenas quando são necessárias.

PIONEIROS DA COMPUTAÇÃO AMBIENTE

A primeira onda de produtos a ostentar a bandeira da tecnologia ambiente foi um punhado de aparelhos da década de 2000. Eles tinham tecnologias push sem fio mistas, transmitindo informações em displays não tradicionais. O Ambient Orb, uma esfera de vidro da Ambient Devices, mudava de cor dependendo da informação – como, por exemplo, quando uma ação estava em alta ou em baixa.

Em uma época anterior às redes 3G, a Microsoft também divulgava a natureza ambiente de seus chamados smartwatches SPOT (Smart Personal Objects Technology, ou Tecnologia de Objetos Pessoais Inteligentes), que recebiam trechos de notícias via sinais de rádio FM – a mesma tecnologia usada por relógios que ajustam automaticamente a hora.

Em 2006, o Chumby, um aparelho que exibia notícias e entretenimento de “canais” escolhidos em um painel, abriria o caminho para os smart displays (ou monitores inteligentes) modernos, como o Echo Show, da Amazon.

Os avanços na tecnologia de comando por voz permitiram que Alexa, Siri e outras ferramentas digitais forneçam informações sem necessidade de uma tela.

Esses primeiros dispositivos de ambiente ofereciam experiências rápidas, que contrastavam com as experiências práticas e ativas de PCs e smartphones. O conceito moderno de experiência de ambiente mantém esse contraste em relação ao uso de dispositivos como ferramentas, mas dá um passo adiante.

Os avanços na tecnologia de comando por voz permitiram que Alexa, Siri e outras ferramentas digitais forneçam informações sem necessidade de uma tela. Mas a popularidade dos smart displays, mostra que a tela ainda pode desempenhar um papel na funcionalidade do ambiente.

No entanto, essas experiências estabelecem padrões de onipresença, dinâmica e personalização que excedem os dos primeiros dispositivos. E, embora o ambiente de hoje inclua um nível de proatividade que conhece suas preferências e orienta suas escolhas, nem sempre implica passividade, mas sim interação conforme a necessidade.

No evento de outono da Amazon, durante o lançamento do Kindle Scribe, David Limp, vice-presidente de aparelhos e serviços da empresa, recontou a história do primeiro Kindle como uma investida na tecnologia ambiente. Mas um exemplo melhor seria o abajur inteligente de monitoramento de sono, Halo Rise.

Ele é inteligente o suficiente para monitorar apenas o sono da pessoa mais próxima e não requer que o usuário esteja usando um smartwatch ou outro dispositivo vestível.

O FIM DO SMARTPHONE?

Hoje, o smartphone é nosso portal para um mundo com acesso restrito a informações baseadas em sensores. Por exemplo, muitos sistemas de transporte agora têm sinalização digital que avisa quando o próximo trem chegará. Se você não estiver perto o suficiente da tela para conseguir ler, precisará usar um aplicativo em seu smartphone. Em um verdadeiro mundo de inteligência ambiental e conectividade, tal interação não seria necessária.

Construir um mundo de tecnologia ambiental é tão ambicioso quanto desenvolver o metaverso, o que levanta a questão de saber se as duas opções são compatíveis.

Neste mundo, o ambiente se torna imersivo, ou atmosférico, em vez de o usuário estar imerso. Construí-lo é algo tão ambicioso quanto desenvolver o metaverso, o que levanta a questão de saber se as duas tecnologias são compatíveis.

Na melhor das hipóteses, uma convergência entre as duas parece distante. Hoje, a realidade virtual é sobre engajamento com duração limitada para tarefas específicas. No entanto, a realidade aumentada pode evoluir a ponto de se integrar tão bem ao nosso mundo que se torne parte de um ambiente.

Nesse sentido, o Google Glass estava à frente do metaverso, assim como o Ambient Orb estava à frente da tecnologia de ambiente amplamente adotada.

De qualquer forma, um futuro com tecnologia ambiental está bem mais estruturado do que um futuro de metaverso. Comunidades como o Horizon Worlds, da Meta, e o Roblox, podem oferecer uma prévia de como o metaverso será. Mas a adoção em massa depende do desenvolvimento de óculos inteligentes que atendam às demandas de acessibilidade, qualidade visual, estilo e duração da bateria.


SOBRE O AUTOR

Ross Rubin é fundador e analista-chefe da Reticle Research. saiba mais