O paradoxo da produtividade: por que tanta tecnologia não nos torna mais eficientes

Entre contradições, promessas exageradas e tecnologias banais, uma lição se repete: o progresso só acontece quando as máquinas servem às pessoas

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Greg Satell 3 minutos de leitura

Quando Peter Drucker conheceu pela primeira vez o CEO da IBM, Thomas J. Watson, nos anos 1930, o lendário pensador da administração ficou intrigado.

“Ele começou a falar sobre algo chamado processamento de dados”, lembrou Drucker. “Aquilo não fazia o menor sentido para mim. Levei a história ao meu editor, ele disse que Watson era um maluco e jogou a entrevista fora.”

Coisas que mudam o mundo sempre chegam fora de contexto, porque o mundo ainda não mudou. Por isso, temos dificuldade em imaginar como será o futuro. Visionários disputam nossa atenção, defendendo suas teorias sobre como tudo vai se encaixar em nossas vidas. Muito dinheiro é investido em visões concorrentes.

Hoje isso é ainda mais evidente com os avanços vertiginosos da inteligência artificial. Mas vale perguntar: e se o futuro parecer exatamente com o passado? Desde Drucker e Watson não faltaram inovações. Mas como essas tecnologias moldaram a economia e nossas vidas? Se queremos prever o futuro, é aí que devemos começar.

O PRIMEIRO PARADOXO DA PRODUTIVIDADE

Watson transformou a IBM em um gigante industrial. Mas foi seu filho, Thomas Watson Jr., que em 1964 revolucionou a indústria com uma aposta de US$ 5 bilhões (cerca de US$ 50 bilhões em valores atuais) no System/360, plataforma que dominaria a computação por duas décadas. Era, essencialmente, o iPhone e o Windows de sua época, combinados.

O processamento de dados tornou-se central para os negócios. Nos anos 1970 e 1980, os investimentos corporativos em TI cresciam mais de 20% ao ano. No entanto, paradoxalmente, a produtividade caía. Economistas cunharam a expressão “paradoxo da produtividade” para explicar a contradição.

Pesquisadores da Universidade de Sheffield apontaram três razões: as métricas de produtividade eram desenhadas para a economia industrial, não a informacional; os gastos em TI ainda eram parcela pequena do investimento total; e muitas empresas investiam não para aumentar a produtividade, mas para sobreviver em mercados mais exigentes.

Nos anos 1990, com o avanço da computação e a ascensão da internet, a produtividade finalmente disparou. Muitos proclamaram a chegada de uma “nova economia”. O mistério parecia resolvido: bastava esperar a tecnologia atingir massa crítica.

O SEGUNDO PARADOXO DA PRODUTIVIDADE

No início dos anos 2000, a economia digital acelerava. Google, Apple e Amazon despontavam, enquanto a Web 2.0 e depois o iPhone com 4G moldavam a era da internet móvel. A computação em nuvem democratizava o acesso ao poder de processamento.

Mulher mexendo em tablet
Crédito: Freepik

Mas já em 2006, a produtividade dava sinais de estagnação. Apesar do hype do Vale do Silício, vivemos nas últimas duas décadas um segundo paradoxo da produtividade.

Hoje, um adolescente com smartphone em um país em desenvolvimento tem mais informação à mão que um executivo de elite em 1990. Ainda assim, os ganhos de produtividade não aparecem nas estatísticas. Como disse o economista Robert Solow, “vemos a era digital em todo lugar, menos nos números da produtividade”.

GRANDES PROMESSAS, PEQUENOS RESULTADOS

Consultores de negócios dizem que nunca vivemos mudanças tão rápidas. Mas os dados mostram o contrário: meio século de crescimento fraco. Indústrias estão mais concentradas, menos competitivas e os lucros corporativos dos EUA triplicaram em relação ao PIB em 25 anos.

como a tecnologia molda nossas vidas? Se queremos prever o futuro, é por aí que devemos começar.

Os “tecno-otimistas” prometem utopias de abundância, mas a realidade é que a economia digital ainda representa apenas 9% do PIB. E muitas inovações – caixas de autoatendimento, pedidos em telas, SACs automatizados – geram ganhos modestos e até transferem o esforço para o consumidor.

Em um mundo vasto, a tecnologia digital é apenas uma peça limitada. Vale a pena perguntar: seu chatbot reduz o aluguel? Melhora o trânsito? Barateia sua consulta médica?

A INOVAÇÃO DEVE SERVIR ÀS PESSOAS

Em ensaios dos anos 1950, o filósofo Martin Heidegger já dizia: a tecnologia revela verdades sobre o mundo e, ao mesmo tempo, molda nossa maneira de viver nele. O que construímos depende de como queremos habitar esse mundo, e isso retroalimenta nossas criações.

Enquanto atravessamos mais um ciclo de hype, precisamos lembrar: não estamos construindo apenas para o futuro, mas também para o presente, que se parece muito com o passado. É possível que uma era de abundância esteja no horizonte. Mais provável, porém, é que a maioria continue lutando.

A verdade é simples: a inovação deve servir às pessoas, e não o contrário. Grandes avanços acontecem quando quem entende de soluções técnicas colabora com quem conhece os problemas reais do mundo. Foi assim no passado. E é disso que precisamos agora.


SOBRE O(A) AUTOR(A)

Greg Satell is Co-Founder of ChangeOS, a transformation & change advisory, a lecturer at Wharton, an international keynote speaker... saiba mais