O projeto de lei que vai injetar bilhões na indústria de remoção de carbono

Crédito: Fast Company Brasil

Adele Peters 4 minutos de leitura

Na Islândia, uma usina que suga o CO2 do ar e o armazena permanentemente no subsolo já está operando, porém ainda em pequena escala. Ela faz parte da nova indústria de “captura direta de ar” e é um exemplo do quanto a indústria ainda precisará crescer para desempenhar um papel significativo no combate às mudanças climáticas. Mas bilhões de dólares em financiamentos decorrentes da recém-assinada lei de infraestrutura nos EUA ajudarão a impulsionar a tecnologia muito mais rápido.

“Acho que este projeto de lei representa um ponto crucial”, diz Noah Deich, presidente da Carbon180, uma organização sem fins lucrativos com foco na remoção de carbono do ar. O financiamento inclui US$ 3,5 bilhões para construir quatro novos centros de captura direta, capazes de armazenar pelo menos um milhão de toneladas de CO2 por ano. (É de longe o maior investimento americano nesse tipo de tecnologia e, talvez, o maior do mundo.)

Já a usina na Islândia, por outro lado, atualmente é capaz de capturar apenas 4 mil toneladas por ano. Porém, em meados do século, o mundo pode precisar remover 10 bilhões de toneladas anualmente para evitar impactos climáticos. Isso sem falar em todas as mudanças que ainda precisam acontecer para diminuirmos e, idealmente, zerarmos as emissões.

Carbon Engineering, uma startup de remoção de carbono, já está planejando abrir um centro em 2022 capaz de capturar um milhão de toneladas de CO2 anualmente. O novo financiamento do governo poderia custear quatro centros semelhantes a esse em diferentes regiões dos EUA. A forma como eles seriam implementados ficaria a critério do Departamento de Energia. Mas, para Deich, fica a dúvida: “até que ponto eles realmente querem centros de testes com tecnologia de ponta? Ou eles querem apenas ter um grande apelo comercial?”

Os centros mostrarão como o CO2 pode ser capturado, processado, transportado e usado em produtos, como combustível neutro em carbono, ou como pode ser sequestrado permanentemente. O projeto de lei prevê um repasse de parte do financiamento para ajudar a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos. O repasse ajudaria a contratar mais funcionários para lidar com um acúmulo de pedidos de licenças para armazenar CO2 no subsolo. O financiamento também inclui US$ 2,1 bilhões para infraestrutura de transporte e armazenamento, como dutos de CO2. Estes dutos serão extremamente úteis para a captura de carbono, porém não para a sua remoção, uma vez que as instalações industriais precisarão enviar o CO2 capturado para outro local de armazenamento. Como o CO2 na atmosfera está em toda parte, as usinas de captura podem ser construídas próximas ao centro armazenamento, embora também possam fazer uso dos dutos.

Estas usinas podem fazer mais sentido em comunidades onde a indústria de combustíveis fósseis opera atualmente, diz Deich. “Se empresas de petróleo e gás não focassem em extrair hidrocarbonetos do solo e, ao invés disso, focassem em retirar CO2 da atmosfera, poderiam utilizar a mesma expertise profissional e financiamento que já possuem, uma vez que ambos processos utilizam os mesmos mecanismos”, afirma ele. O capital financeiro e político dessa indústria também pode ajudar a aumentar a captura direta (isto é, contanto que não seja usado para mascarar mais extração de combustível fóssil). E se elas realmente mudassem para um modelo de negócio de “gerenciamento de carbono” – como a fabricação de combustível para aviação a partir de CO2 capturado, por exemplo — as emissões líquidas poderiam cair radicalmente.

O novo projeto de infraestrutura inclui US$ 115 milhões para apoiar a nova tecnologia de captura direta de ar. (Ele também possui um grande fundo para outras formas de remoção de carbono, com bilhões para proteger e restaurar florestas.) Deich diz que mais apoio é necessário para ajudar a direcionar a captura de ar e reduzir os custos da tecnologia. No projeto de lei “Build Back Better”, também é ressaltado a importância da expansão do 45Q, um crédito fiscal para o sequestro de carbono, algo que ajudaria a indústria a crescer. A Carbon180 defende que o governo americano contrate serviços de remoção de carbono para ajudar a remediar as emissões pelas quais tem sido responsável há décadas.

À medida que os primeiros projetos surgem, Deich afirma ser fundamental garantir que sejam feitos corretamente, desde o trabalho com as comunidades para conseguir adesão até o apoio aos sindicatos. “Para mim, o que [o novo projeto de lei] faz é trazer a captura direta de ar para fora do ecossistema empresarial do Vale do Silício… e, sobretudo, para as gigantes industriais que fazem projetos de engenharia, que é o que vamos precisar no fim das contas para o clima”, diz ele. “Mas também apresenta um novo conjunto de desafios sobre como implementar essas soluções em grande escala de forma equitativa, proteger o meio ambiente e oferecer todos os outros benefícios e princípios nos quais o projeto de lei se baseia.”


SOBRE A AUTORA

Adele Peters é redatora da Fast Company. Ela se concentra em fazer reportagens para solucionar alguns dos maiores problemas do mundo, ... saiba mais