O que aprendi nos 15 anos que passei na Amazon e no Google
A primeira vez que presenciei o impacto de assumir riscos calculados foi quando trabalhei para Jeff Bezos na Amazon no início dos anos 2000, em um período em que ele não apenas moldava o futuro do comércio eletrônico, mas também literalmente construía foguetes. No entanto, foi só quando trabalhei no Google que eu realmente entendi o processo por trás da inovação: uma vez por semana, durante mais de uma década, eu sentava com a equipe do Google X e os assistia inventar as tecnologias que solucionariam vários de nossos problemas atuais.
O Google X, agora chamado apenas de X, fica em um prédio que costumava ser um shopping center há várias décadas. Diferentemente de outros escritórios com cores vibrantes e cuidadosamente projetados do Google, Sergey Brin instruiu a equipe de design a manter um aspecto simples e tático. Nele, há poucas paredes e sua estrutura é composta principalmente por colunas de concreto, com as marcações originais dos engenheiros em tinta spray e cabos elétricos e de fibra suspensos no teto. É um ambiente frio, mas cheio de energia e movimento, como um galpão de aviões. Por todo lado, vemos fios e peças espalhadas entre modelos em escala real de carros, lasers, câmeras e balões meteorológicos. Escadas atravessam o meio do prédio, conectando todos os cientistas. É um ambiente com muita energia.
As reuniões da equipe de estratégia da liderança sênior foram transferidas do campus principal do Google para este prédio – um esforço consciente para garantir que ela estivesse em um ambiente que servisse como uma “tela em branco”, estimulando ideias inovadoras. Os subordinados diretos dos vice-presidentes sêniors, como eu, ficavam do lado de fora da sala de conferências em uma grande área aberta com mesas altas. Trabalhávamos em grupo, como uma colmeia, trocando ideias, atualizando uns aos outros, planejando e colaborando. Foi uma mudança tão produtiva de ritmo e ambiente que começamos a fazer nossa reunião trimestral do conselho de administração também lá. Esta foi nossa estratégia para nos mantermos criativos, disruptivos e inovar sempre.
Minha carreira me apresentou pessoas que se apoiam e buscam ativamente esse tipo de ruptura no setor, e aprendi como eles lidam não apenas com as dificuldades diárias de tentar criar algo que ainda não existe, mas também a lidar com o ciclo constante, mas necessário, de falhas que nos ajuda a definir nossos próximos passos.
“Minha filosofia sempre foi que meu trabalho deve dar tanto para mim quanto eu dou para ele.”
A verdade é que a mesma fórmula que ajudou o X a inventar tecnologias que transformam o mundo, como carros autônomos, por exemplo, também pode ser aplicada nas nossas vidas e carreiras. Malcolm X disse que “o futuro pertence àqueles que se preparam hoje para ele”. Mas, mesmo que ele estivesse falando especificamente sobre o movimento dos direitos civis nos Estados Unidos em 1962, esse princípio pode ser empregado amplamente. Se queremos um futuro que ofereça oportunidades excepcionais, precisamos agir primeiro, e não seguir o caminho mais fácil. Oportunidades futuras, muitas vezes, não acontecem sem uma ação decisiva antes.
Aprendi cedo que não posso simplesmente esperar sentada por oportunidades de realizar meus sonhos. Eu tive que me qualificar para que ter um futuro lugar à mesa, fazendo o trabalho de base hoje e aprendendo e adquirindo a experiência necessária para contribuir mais tarde. Mas há algo inevitável nesse processo de qualificação: o fracasso.
A FÓRMULA PARA INOVAR
Nas minhas duas décadas trabalhando na Amazon e no Google, aprendi três elementos-chave para criar nossas próprias oportunidades futuras de inovar:
- Ser um eterno aprendiz.
- Buscar aquilo que te deixa desconfortavelmente empolgado.
- Apostar alto.
A única garantia de sucesso é a vontade de aprender, experimentar, falhar e repetir tudo até que você alcance seu objetivo. O desafio de aprender novas habilidades e dominá-las é uma recompensa por si só, mas também nos qualifica para conquistas maiores no futuro.
Minha filosofia sempre foi que meu trabalho deveria dar tanto para mim quanto eu dou para ele. E, sem sombra de dúvidas, isso é uma grande exigência! O que eu doo em termos de tempo, esforço e dedicação deve ser recompensado com aprendizado, crescimento e avanços. Eu precisei tomar as rédeas e exigir essa troca. Isso não é algo que acontece naturalmente, tampouco passivamente. Cabe a mim definir o que quero aprender e quem quero me tornar e depois buscar oportunidades para isso.
Não é por acaso que Jeff Bezos é um dos CEOs mais bem-sucedidos do nosso tempo. Sim, ele tem um grande talento natural, inteligência e motivação. Mas o que o diferencia é a forma como emprega essas habilidades. Quando trabalhava na Amazon, eu era responsável por planejar um retiro de reflexão de uma semana para ele todos os trimestres. Essa já era uma prática dele muito antes de eu chegar na empresa. Ele costumava se hospedar em um hotel próximo e se mantinha distante de sua rotina habitual, de sua equipe e de sua família. Nos primeiros dias, ele sequer lia jornais, livros, assistia televisão ou tinha contato com outras pessoas, ele passava esse tempo sem qualquer influência externa.
Jeff me contou que precisava de um tempo para esvaziar sua mente de todos os ruídos para dar espaço a ideias inovadoras. O tédio era uma parte essencial de seu processo criativo. As únicas coisas que ele levava consigo eram cadernos em branco e uma caneta. Após esses primeiros dias, ele anotava todas as ideias que tinha tido, não se importando em edita-las. Ele retornava ao escritório na semana seguinte com cadernos cheios de ideias e estratégias capazes de mudar o setor como um todo e, então, passávamos o próximo trimestre implementando tudo o que ele criou neste período.
O impressionante era que Jeff, muitas vezes, saía para esses retiros nos momentos mais críticos da empresa, enquanto outros CEOs provavelmente dobrariam seus plantões no escritório. Jeff era sábio o suficiente para saber que seu maior ativo era sua mente, e ele precisava de um lugar onde pudesse explorar plenamente sua criatividade e engenhosidade. Quando ele retornava, sua produtividade aumentava, e ele mais do que compensava as horas que passou longe do escritório.
Mesmo agora, quase duas décadas depois, sorrio quando vejo a Amazon lançando coisas que foram concebidas naqueles retiros; ideias documentadas naqueles cadernos há tanto tempo.