O que faz a tecnologia desenvolvida pelo TikTok ser tão valiosa?

Os algoritmos são essenciais para as operações da ByteDance e a empresa prefere encerrar o aplicativo a vendê-lo

Créditos: 8machine/ Simon Lee/ Unsplash

Josh Ye 3 minutos de leitura

O algoritmo de recomendação de conteúdo que alimenta a plataforma de vídeos curtos TikTok voltou aos holofotes depois que o governo norte-americano ordenou que sua controladora, a empresa chinesa ByteDance, vendesse os ativos do aplicativo nos EUA ou baniria a rede social no país.

Aqui está como ele funciona e por que está chamando mais atenção do que as tecnologias usadas por seus concorrentes, como Instagram, YouTube e Snapchat.

ALGORITMOS

Os algoritmos são considerados essenciais para as operações da ByteDance e a empresa prefere encerrar o aplicativo a vendê-lo, de acordo com a agência de notícias “Reuters”.

Em 2020, a China fez alterações nas leis que lhe conferem direitos de aprovação sobre qualquer exportação de algoritmos e códigos-fonte, adicionando uma camada extra de complexidade a qualquer esforço para vender o aplicativo.

Acadêmicos e ex-funcionários da empresa dizem que não são apenas os algoritmos, mas também a forma como eles funcionam, com o formato de vídeos curtos, que tornaram o TikTok tão bem-sucedido globalmente.

O APP TAMBÉM TEM UM PAPEL IMPORTANTE

Antes de seu surgimento, muitos acreditavam que a tecnologia que conecta usuários nas plataformas era o segredo para o sucesso de uma rede social, dada a popularidade do Facebook e do Instagram, ambos da Meta.

Crédito: klenger/ iStock

Mas o TikTok mostrou que um algoritmo que entende os interesses dos usuários poderia ser mais poderoso. Em vez de construí-lo com base nas conexões sociais, como a Meta, os executivos da plataforma se basearam em “sinais de interesse”.

Embora hoje os concorrentes tenham algoritmos semelhantes, o TikTok é capaz de turbinar sua eficácia com o formato de vídeos curtos. Ele permite que o algoritmo se torne mais dinâmico e até capaz de rastrear mudanças nas preferências e interesses dos usuários, sabendo até como seus gostos variam dependendo do horário e do dia.

COLETA RÁPIDA DE DADOS

Além disso, o formato de vídeos curtos permite que a plataforma aprenda as preferências dos usuários mais rapidamente, de acordo com Jason Fung, ex-chefe da unidade de jogos do TikTok.

“Por ser em formato de vídeos curtos, é possível coletar dados sobre as preferências de um usuário muito mais rapidamente do que no YouTube, onde talvez a média de duração dos vídeos seja de cerca de 10 minutos”, diz ele. “Imagine coletar dados sobre um usuário a cada 10 minutos em vez de poucos segundos.”

Créditos: gadost/ selimaksan/ InspirationGP/ iStock

O fato de o TikTok ter sido desenvolvido para dispositivos móveis desde o início também lhe deu uma vantagem sobre plataformas concorrentes, que tiveram que adaptar suas interfaces.

Ter entrado no mercado de vídeos curtos antes deu à empresa uma grande vantagem inicial. O Instagram só lançou o Reels em 2020 e o YouTube lançou Shorts apenas em 2021, o que fez com que ambos ficassem anos atrás do TikTok em termos de dados e experiência em desenvolvimento de produtos.

EXPLORANDO INTERESSES

Além disso, ele também recomenda regularmente conteúdo que está fora dos interesses dos usuários, algo que a empresa afirma ser essencial para a experiência.

Um estudo, publicado no mês passado por pesquisadores dos EUA e da Alemanha apontou que o algoritmo do TikTok “explora interesses em 30% a 50% dos vídeos recomendados” após examinar dados de 347 usuários e cinco bots automatizados.

Crédito: rawpixel.com/ Ron Lach/ Pexels/ Freepik

“Isso indica que o algoritmo do TikTok opta por recomendar uma grande quantidade de vídeos de exploração na tentativa de ou inferir melhor os interesses do usuário ou maximizar a retenção recomendando muitos vídeos que estão fora de seus interesses (conhecidos)”, escreveram os pesquisadores no artigo, intitulado “TikTok and the Art of Personalization” (TikTok e a Arte da Personalização).

MOBILIZANDO USUÁRIOS EM GRUPOS

Ari Lightman, professor da Universidade Carnegie Mellon, nos EUA, afirma que outra tática eficaz que a plataforma empregou foi incentivar os usuários a formar grupos publicamente por meio de hashtags. Ao fazer isso, ela pode aprender mais sobre o comportamento, interesses, alinhamento e ideologia de seus usuários.

Se o TikTok acabar sendo banido nos Estados Unidos, Lightman diz que, embora as gigantes da tecnologia dos EUA certamente tenham a capacidade de replicar a plataforma com seus próprios produtos, replicar a cultura de usuário possibilitada por ela pode ser uma tarefa difícil.


SOBRE O AUTOR

Josh Ye é repórter da agência Reuters. saiba mais