O YouTube é a nova TV. Agora, a plataforma vai atrás da indústria de cinema

Apesar do rápido crescimento sobre o tempo de tela dos usuários, o domínio do YouTube ainda está longe de ser completo

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Jared Newman 4 minutos de leitura

Um executivo da plataforma de vídeos mais acessada do mundo precisou de apenas 27 minutos para mostrar o domínio do YouTube agora se estende por todos os formatos de criação e consumo de conteúdo em vídeo na internet.

Esse foi o tempo da apresentação de Fede Goldenberg, diretor de parcerias de TV e cinema do YouTube, durante a conferência StreamTV no mês passado. O título da palestra era otimista – “O YouTube é a nova TV” –, mas a mensagem implícita era clara: resistir é inútil.

Enquanto a maior parte do evento girava em torno de conversas entre os próprios serviços de streaming, o YouTube apareceu para dar um recado: mais cedo ou mais tarde, vai englobar todos eles. E, em muitos aspectos, isso já está acontecendo.

Goldenberg apresentou números que reforçam o domínio da plataforma no universo da TV. Segundo a Nielsen, o YouTube já responde por 12,4% do tempo diário que os norte-americanos passam assistindo televisão – um salto significativo em relação aos 8,6% registrados no início de 2024. E vale lembrar: o YouTube ultrapassou a Netflix (7,5%) há mais de dois anos.

Outros números impressionantes:

  • Cerca de dois bilhões de pessoas acessam o YouTube ao menos uma vez por mês, somando mais de dois bilhões de horas assistidas por dia;
  • Aproximadamente um bilhão dessas horas são vistas em aparelhos de TV;
  • A plataforma alcança 92% dos jovens entre 18 e 34 anos nos EUA;
  • Segundo a Edison Research, o YouTube responde por 33% da audiência de podcasts no país – à frente do Spotify (27%) e do Apple Podcasts (15%).

Com esse crescimento, as empresas de mídia estão tendo que repensar suas estratégias na plataforma. Muitas estão reaproveitando suas produções antigas para criar vídeos longos.

A Warner Bros. Discovery, por exemplo, publica compilações de uma hora da série “Friends” e episódios inteiros de “Joey”. Já a National Geographic exibe reprises e maratonas de várias horas. “Essa tem sido a estratégia de boa parte das grandes empresas de mídia”, comentou Goldenberg.

Segundo ele, a tendência é que, em breve, essas empresas comecem a criar conteúdo inédito pensado diretamente para o YouTube. “Minha aposta é que veremos cada vez mais produções originais feitas primeiro para o YouTube e que depois podem ser adaptadas para a TV”, afirmou.

UMA NOVA HOLLYWOOD

Enquanto tenta atrair os grandes estúdios, o YouTube também está formando seu próprio exército de criadores independentes para substituí-los.

Dhar Mann, conhecido por vídeos com mensagens inspiradoras, comanda hoje um estúdio de nove mil metros quadrados em Burbank, na Califórnia. Alan Chikin Chow, criador da série adolescente “Alan’s Universe”, abriu um estúdio de mil metros quadrados em Los Angeles.

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Já o grupo de esportes e comédia Dude Perfect recebeu um investimento de mais de US$ 100 milhões da Highmount Capital no ano passado. “Não é exagero dizer que esses caras são a nova Hollywood”, afirmou Goldenberg.

O YouTube também quer que seus maiores criadores tenham o mesmo prestígio que os grandes produtores da indústria. A plataforma está fazendo campanha para que alguns deles – como Sean Evans (“Hot Ones”), Rhett & Link (“Good Mythical Morning”) e Michelle Khare (“Challenge Accepted”) – sejam indicados ao Emmy.

“Quando isso acontecer, será um divisor de águas: os criadores finalmente serão reconhecidos como a TV tradicional já é”, afirmou.

O LADO SOMBRIO DO DOMÍNIO DO YOUTUBE

Claro que Goldenberg não falou sobre os aspectos mais problemáticos desse crescimento, como a pressão constante sobre os criadores para se adaptar ao algoritmo da plataforma – o que, muitas vezes, leva ao esgotamento. Também não mencionou a piora da experiência para os usuários, que agora precisam ver cada vez mais anúncios ou pagar mais para evitá-los.

Um mundo onde o YouTube é a nova TV pode ser também um lugar em que criadores e espectadores têm menos controle do que nunca. “O problema é que virou um monopólio”, diz Alan Wolk, analista-chefe da TVRev. “Se você publica algo que infringe as regras, está fora. Eles têm todo o poder.”

Com o crescimento do Youtube, as empresas de mídia estão tendo que repensar suas estratégias na plataforma.

Apesar do rápido crescimento, o domínio do YouTube ainda está longe de ser completo. A plataforma continua enfrentando dificuldade para atrair conteúdo premium, e é improvável que grandes serviços de streaming – como Netflix, Disney+ ou Amazon Prime Video – passem a apostar na plataforma como principal canal. Mesmo dentro do Google, o YouTube disputa espaço com outras visões sobre o futuro da televisão.

Wolk acredita que, embora a plataforma goste de se enxergar como o Império Romano – uma força dominante unificando o mundo da TV –, ela pode acabar mais parecida com Constantinopla: uma versão reduzida que surgiu depois da queda do império. “É, sim, uma nova fase da televisão. Mas nunca vai ter o mesmo impacto", conclui.


SOBRE O AUTOR

Jared Newman cobre aplicativos e tecnologia de seu posto remoto em Cincinnati. Ele também escreve dois boletins informativos, Cord Cut... saiba mais