Após sucesso, criadora do ChatGPT enfrenta ações na justiça dos EUA

Ainda é cedo para dizer se a OpenAI e seus advogados conseguirão reverter a situação

Créditos: ilgmyzin/ Tingey Injury Law Firm/ Unsplash

Matt O'Brien 3 minutos de leitura

A fama global conquistada pela OpenAI está sendo abalada por uma série de conflitos que podem ameaçar sua posição de liderança na pesquisa em inteligência artificial.

Alguns deles decorrem de decisões tomadas antes mesmo do lançamento do ChatGPT, em especial sua transição de uma organização sem fins lucrativos idealista para uma empresa apoiada por bilhões de dólares em investimentos.

Ainda é cedo para dizer se a OpenAI e seus advogados conseguirão resistir à enxurrada de ações movidas por Elon Musk, “The New York Times” e escritores de best-sellers como John Grisham – sem mencionar a crescente inspeção por parte de autoridades –, ou mesmo se alguma delas terá um impacto significativo na empresa.

A OpenAI ainda é governada por um conselho sem fins lucrativos, cujo dever é fazê-la avançar em sua missão.

Mas a criadora do ChatGPT não está esperando o desenrolar dos processos para se defender publica- mente das alegações feitas por Elon Musk, um de seus primeiros financiadores, que agora afirma que a empresa traiu sua missão de beneficiar a humanidade ao buscar lucro.

Em sua primeira declaração desde que o bilionário entrou com o processo, a OpenAI prometeu contestar a alegação e divulgou e-mails de Musk que supostamente mostram que ele apoiou a transição – e até sugeriu fundir a empresa com sua fabricante de veículos elétricos, a Tesla.

Juristas expressaram dúvidas sobre se os argumentos de Musk, que se baseiam em uma suposta quebra de contrato, se sustentarão no tribunal. No entanto, o caso já expôs os conflitos internos da OpenAI sobre sua estrutura de governança, transparência em pesquisas e busca pela inteligência artificial geral (sistemas de IA que podem se sair tão bem quanto – ou até melhor do que – humanos em uma ampla variedade de tarefas).

INVESTIGAÇÕES INTERNAS

Ainda há muito mistério sobre o que levou a empresa a demitir abruptamente seu cofundador e CEO Sam Altman em novembro, apenas para trazê-lo de volta dias depois com um novo conselho que substituiu aquele que o afastou.

A OpenAI contratou um escritório de advocacia para investigar o que aconteceu, mas não está claro qual será o escopo da investigação e até que ponto divulgará suas descobertas.

Entre as principais questões está o que a companhia – sob seu conselho administrativo anterior – quis dizer quando afirmou que Altman não era “consistentemente franco em suas comunicações” de uma forma que prejudicava a capacidade do conselho de exercer suas responsabilidades.

Embora agora seja uma empresa com fins lucrativos, ela ainda é governada por um conselho sem fins lucrativos, cujo dever é fazê-la avançar em sua missão.

Créditos: Mojahid Mottakin/ Andrew Neel

Os investigadores provavelmente estão examinando mais de perto essa estrutura, bem como os conflitos internos que levaram a falhas de comunicação, segundo Diane Rulke, professora de comportamento e teoria organizacional da Universidade Carnegie Mellon.

Rulke ressalta que seria “útil e muito bom” para a OpenAI divulgar pelo menos parte das descobertas, especialmente dadas as preocupações sobre como a tecnologia de IA afetará a sociedade. “Embora seja uma empresa de capital fechado, é de grande interesse público saber o que aconteceu”, diz ela.

INVESTIGAÇÃO DO GOVERNO

Os estreitos laços comerciais da empresa com a Microsoft também têm chamado a atenção de órgãos reguladores antitruste nos Estados Unidos e na Europa.

A gigante do software investiu bilhões de dólares na OpenAI e usou seu vasto poder de computação para ajudar a construir modelos de IA. Além disso, garantiu direitos exclusivos para incorporar grande parte da tecnologia em seus próprios produtos.

Ao contrário de uma grande fusão, essas parcerias não acionam automaticamente uma revisão governamental. Mas a Comissão Federal de Comércio dos EUA (FTC, na sigla em inglês) quer saber se tais acordos “permitem que empresas dominantes exerçam influência indevida ou obtenham acesso privilegiado de maneiras que possam minar a concorrência justa”, de acordo com a presidente do órgão, Lina Khan.

A FTC aguarda respostas a “ordens compulsórias” enviadas a ambas as empresas – assim como à rival da OpenAI, Anthropic, e seus patrocinadores de computação em nuvem, Amazon e Google – exigindo que forneçam informações sobre as parcerias e o processo decisório em torno delas. Investigações semelhantes estão sendo conduzidas na União Europeia e no Reino Unido.

Kelvin Chan, da Associated Press, contribuiu para esta matéria. 


SOBRE O AUTOR

Matt O'Brien é repórter de tecnologia da AP. saiba mais