OpenAI volta a abrir seus modelos. O que isso significa?

Empresa libera duas novas IAs gratuitas e reacende o debate sobre transparência, competição e geopolítica na inteligência artificial

OpenAI volta a abrir seus modelos. O que isso significa?
Créditos: Gerd Altmann por Pixabay, Orla via Getty images

Camila de Lira 2 minutos de leitura

Cinco anos depois de fechar as portas para o open source, a OpenAI voltou a abrir, ao menos um pouco. A empresa anunciou que dois modelos de linguagem, o gpt-oss-120b e o gpt-oss-20b, estão agora disponíveis de graça.  Embora os modelos não sejam “open-source” no sentido estrito (os dados de treinamento e o código-fonte seguem fechados), eles têm peso aberto e estão licenciados sob a Apache 2.0, o que permite uso, modificação e comercialização, desde que com os devidos créditos à empresa.

Isso permite que desenvolvedores inspecionem, modifiquem e comercializem as tecnologias, desde que citem a fonte e renunciem a disputas de patente.

A mudança sinaliza uma reaproximação da empresa com sua proposta original de transparência, abandonada em 2019 com o argumento de que abrir modelos avançados poderia ser perigoso. De lá pra cá, a OpenAI se consolidou como referência na corrida dos Grandes Modelos de Linguagem (LLM), com o ChatGPT como produto principal, mas viu crescer a pressão de rivais como a Meta e a chinesa DeepSeek, que apostaram em modelos abertos para acelerar seus ecossistemas.

O RETORNO DOS MODELOS PEQUENOS (E POTENTES)

Mais do que a abertura em si, o destaque está no tamanho. O modelo gpt-oss-20b é leve o bastante para rodar em laptops com 16 GB de RAM. Já o gpt-oss-120b exige uma GPU dedicada, mas tem desempenho comparável ao modelo comercial o4-mini da própria OpenAI, segundo a empresa.

Essa eficiência abre espaço para um movimento que já vinha ganhando força: o uso de IA diretamente em dispositivos locais, sem depender da nuvem. Modelos menores, mas bem treinados, são ideais para tarefas específicas e ambientes mais seguros, o que interessa especialmente a empresas de setores hiper-regulados, como saúde, finanças e jurídico.

“Modelos abertos estão aqui para ficar”, disse Robert Nishihara, cofundador da Anyscale, para a coluna AI Decoded, da Fast Company, escrita por Mark Sullivan. Para Nishiara, a entrada da OpenAI nesse mercado torna a disputa mais acirrada e acelera a evolução de um ecossistema de ferramentas abertas e interoperáveis.

UMA JOGADA TÉCNICA E POLÍTICA DA OPENAI

A decisão também tem implicações geopolíticas. Em meio à tensão entre EUA e China, liberar modelos otimizados para chips da Nvidia pode fortalecer a presença de tecnologias americanas em países do Sul Global, onde modelos abertos chineses já ganham espaço.

Apesar dos riscos reconhecidos , como uso indevido para desinformação ou crimes cibernéticos, a empresa afirma ter feito testes por anos antes da liberação. “IA pode tanto causar danos quanto empoderar. O mesmo vale para qualquer tecnologia poderosa”, disse Greg Brockman, presidente da OpenAI, ao New York Times.

Ao voltar (parcialmente) à lógica de compartilhamento, a OpenAI se reposiciona em um debate que está longe de se encerrar: qual o limite entre abertura, inovação e responsabilidade na era da inteligência artificial?


SOBRE A AUTORA

Camila de Lira é jornalista formada pela ECA-USP, early adopter de tecnologias (e curiosa nata) e especializada em storytelling para n... saiba mais