Os 3 Rs que a mídia deveria adotar para reduzir sua dependência das big techs

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David Cohn 4 minutos de leitura

Ao longo das últimas duas décadas, a relação entre os veículos de notícias e as gigantes da tecnologia, como Google, Facebook, Twitter, entre outros, tem sido complicada. Embora as big techs tenham proporcionado acesso à maior audiência da história, a indústria da mídia teve que ceder o controle sobre seu próprio destino em troca.

Essas gigantes controlam a compreensão da mídia sobre análises, KPIs e valor editorial, ao mesmo tempo em que mediam sua relação com o público e os anunciantes. Mas essa dinâmica pode mudar nos próximos anos.

Na década de 1970, os ambientalistas introduziram o conceito dos “três Rs” – reduzir, reciclar e reutilizar – como um guia para um mundo sustentável. De maneira semelhante, empresas de mídia que navegam nas águas turvas do oceano digital de hoje estão adotando seus próprios “Rs” como uma bússola para evitar a dependência  excessiva de plataformas de terceiros.

REDUZIR A DEPENDÊNCIA

O primeiro “R” é um lembrete de que quem paga as contas está, em última instância, no comando. As organizações de mídia precisam se questionar se sua audiência deveria ser própria ou “alugada” de terceiros.

Em outras palavras, os veículos precisam reduzir sua dependência de plataformas como X/ Twitter, Facebook ou Instagram para tráfego e alcance, já que estes podem ser totalmente controlados por algoritmos ocultos.

Mudanças recentes, como a decisão de Elon Musk de remover manchetes de links em sua plataforma ou a atualização do algoritmo do Facebook em junho de 2023, nos lembram de que as marés nas redes estão sempre mudando. E, se não tiver cuidado, você pode se ver navegando contra elas. Ter controle sobre sua marca e relação com a audiência é fundamental.

RECICLAR DADOS: MAPAS DO TESOURO À VISTA

O segundo “R” – reciclar – destaca o uso inteligente de dados próprios, um ativo frequentemente subutilizado. Coletados de maneira responsável e ética, esses dados podem criar experiências personalizadas que enriquecem o engajamento da audiência – e levam a maiores oportunidades de receita.

No passado, as organizações de mídia permitiam que empresas como o Facebook coletassem todos os dados pessoais e confiavam nelas para produzir métricas confiáveis em troca. Às vezes, porém, descobriam que as informações que recebiam eram completamente imprecisas.

Agora, elas precisam estar mais envolvidas nesse processo e incentivar usuários a fornecer dados diretamente. Isso já está acontecendo. Newsletters são um exemplo de como obter o endereço de e-mail de seus leitores.

As organizações de mídia precisam se questionar se sua audiência deveria ser própria ou “alugada” de terceiros.

Veículos que contam com canais de mensagem de texto via SMS podem ter acesso aos números de telefone. Empresas que rastreiam melhor os cliques podem desenvolver métodos de segmentação inteligente.

Com tudo isso, é possível construir uma narrativa mais robusta para anunciantes que também procuram praticar o primeiro “R” e reduzir seus gastos com plataformas.

Quem disse que os veículos de mídia não podem amplificar sua conexão diretamente com a audiência? Esta estratégia cria um círculo virtuoso: o engajamento gera dados e os dados levam a um engajamento mais personalizado.

REUTILIZAR: FLUXOS DE RECEITAS TESTADOS E COMPROVADOS

O último “R” – reutilizar – trata de redescobrir e resgatar o que as empresas de mídia já fazem bem: fluxos de receitas tradicionais, como relações publicitárias premium (em vez de programáticas), assinaturas, eventos e comércio afiliado.

Em uma era de incertezas em relação a grandes plataformas, depender de métodos comprovados como estes cria estabilidade, mantém a empresa de mídia no controle de seu próprio destino e elimina preocupações sobre se o Facebook abandonará novamente seu programa de financiamento de parcerias de notícias.

TRAÇANDO O NOVO CAMINHO

Adotar os “três Rs” não é apenas uma reflexão filosófica, é um apelo à ação para os veículos de mídia – e, indiscutivelmente, toda empresa digital é um veículo de mídia nos dias de hoje.

Quem disse que os veículos de mídia não podem amplificar sua conexão diretamente com a audiência?

Conforme navegam pelo cenário digital, guiados pelos “três Rs” – reduzir a dependência, reciclar dados e reutilizar receitas tradicionais –, o futuro das notícias e do público leitor depende de uma escolha crucial: independência ou dependência.

Uma abordagem sólida não apenas vai garantir uma experiência de leitura mais autêntica e personalizada como vai também proteger o papel da mídia como fonte confiável de informações, não influenciada pelos "caprichos" das plataformas de tecnologia.

Os riscos são altos, mas não abraçar esta estratégia pode fazer com que os veículos de comunicação percam importância no discurso público, ou pior, acabem esvaziando-o totalmente.


SOBRE O AUTOR

David Cohn é diretor sênior do Alpha Group. saiba mais