Para quem gosta de notícias, os algoritmos de redes sociais são um fracasso

Twitter e Threads não estão acompanhando as necessidades dos usuários e Bluesky prova a importância de deixar a pessoa decidir o que quer ver

Crédito: Matt Jeacock/ Getty images

Harry McCracken 3 minutos de leitura

Em 2016, quando o Twitter trocou a linha do tempo cronológica por uma organizada por algoritmos, achei a mudança um detalhe irrelevante. Talvez eu tenha subestimado o impacto dessa decisão, que, na teoria, ajudaria usuários a descobrir tuítes relevantes que poderiam passar despercebidos.

O que ninguém poderia prever é que Elon Musk compraria a plataforma anos depois e alteraria os algoritmos para atender aos seus próprios interesses, promovendo tuítes cheios de desinformação e limitando postagens com links para notícias – algo que, aparentemente, não é prioridade para ele.

Hoje, se o feed padrão do X/ Twitter parece mais tóxico do que nunca, a explicação é simples: ainda o chamam de “Para Você”, quando, na prática, é “Para Elon”.

O Threads, da Meta, segue a mesma lógica e oferece uma experiência parecida, com um feed padrão também chamado “Para Você”. Mas sofre de outro problema: uma total falta de relevância.

Lançado após a aquisição do Twitter por Musk, o Threads cresceu rapidamente ao permitir que usuários acessassem a plataforma com suas contas do Instagram. Ele tentou replicar o que sua rede irmã tem de melhor: um ambiente tranquilo, amigável e livre de controvérsias.

Adam Mosseri, chefe do Threads, foi direto ao afirmar que a plataforma busca se afastar de notícias e política, tratando esses temas como problemas a evitar e não como atrativos.

Mas, embora tenha acumulado impressionantes 275 milhões de usuários mensais, a principal escolha dos ex-usuários do Twitter tem sido o Bluesky. Em outubro, a rede social tinha cerca de 13 milhões de membros. Após as eleições presidenciais dos EUA, esse número saltou para mais de 24 milhões, atraindo pessoas interessadas em discutir atualidades, mas longe da influência de Musk.

A noite das eleições norte-americanas também expôs uma falha importante no Threads: seu algoritmo, que deliberadamente evita notícias, exibiu apenas postagens antigas e irrelevantes, frustrando usuários que buscavam informações em tempo real.

META FOI OBRIGADA A SE MEXER

Assim como outras gigantes da tecnologia, a Meta só parece reagir quando enfrenta concorrência. Nas últimas semanas, o Threads ganhou novos recursos, muitos claramente inspirados no Bluesky. Além disso, ajustou seu algoritmo para priorizar postagens de perfis seguidos, em vez de aleatórios, o que, teoricamente, deveria melhorar a experiência.

Na prática, porém, essas mudanças não tornaram o feed “Para Você” mais útil. Na semana passada, por exemplo, não havia nada sobre a crise política na Coreia do Sul.

A Meta pode aperfeiçoar sua IA para oferecer conteúdos mais relevantes, mas o Bluesky traz uma lição ainda mais valiosa: algoritmos em feeds sociais podem criar mais problemas do que soluções, especialmente quando o timing é crucial.

Embora o Threads tenha 275 milhões de usuários mensais, a principal escolha dos ex-twitters tem sido o Bluesky.

O Bluesky impressiona por sua simplicidade. Sua visualização principal, chamada “Seguindo”, mostra apenas as postagens mais recentes das pessoas que você escolheu acompanhar, como nos tempos áureos do Twitter. Além disso, os Starter Packs – listas de perfis que você pode seguir com apenas um clique – são um grande diferencial.

Embora tenha elementos algorítmicos, como as abas “Descobrir” e “Popular Entre Amigos”, esses recursos são secundários. Este tipo de recurso só sobrevive se for realmente útil, sem ser forçado aos usuários como a primeira coisa que você vê ao abrir o app.

O crescimento do Bluesky é prova de que voltar ao básico pode ser um bom negócio. O Twitter de Musk pode não ter mais solução, mas se outras redes sociais seguirem o exemplo, todos vão sair ganhando.

Enquanto isso, o Threads já está trabalhando em sua própria versão dos Starter Packs. Que venham – junto com tudo mais que a Meta puder aprender com o foco humano do Bluesky.


SOBRE O AUTOR

Harry McCracken é editor de tecnologia da Fast Company baseado em San Francisco. Em vidas passadas, foi editor da Time, fundador e edi... saiba mais