Racha bilionário: parceria entre Microsoft e OpenAI entra em zona de atrito

OpenAI ameaça romper acordo com Microsoft em disputa por controle e autonomia

Créditos: Steve Johnson e Mariia Shalabaieva/ Unsplash/ Freepik

Chris Stokel-Walker 3 minutos de leitura

A aliança bilionária entre Microsoft e OpenAI, uma das mais influentes da era da inteligência artificial, está passando por seu momento mais delicado. Rumores apontam que a OpenAI estuda apresentar uma queixa antitruste contra a gigante do Windows, em uma tentativa de se desvincular de cláusulas antigas de um acordo que, por anos, definiu a dinâmica entre as duas empresas.

Desde que a Microsoft investiu US$ 1 bilhão na OpenAI, em 2019, a parceria cresceu até ultrapassar os US$ 10 bilhões. Em troca, a empresa fundada por Bill Gates tem direito a 49% dos lucros da OpenAI Global LLC, com um teto de retorno 10 vezes superior ao valor investido.

Até pouco tempo, a colaboração parecia sólida. Mesmo durante a breve saída de Sam Altman da presidência da OpenAI, em novembro de 2023, a Microsoft manteve apoio irrestrito. No entanto, um novo movimento da OpenAI está causando turbulência.

O estopim da crise é a aquisição, ainda em andamento, da startup de programação com IA Windsurf, avaliada em US$ 3 bilhões.

Fontes próximas afirmam que executivos da OpenAI ameaçaram acionar órgãos reguladores caso a Microsoft exija acesso total à propriedade intelectual da Windsurf após a conclusão do negócio. Ao mesmo tempo, cresce dentro da Microsoft o receio de que a OpenAI esteja desenvolvendo um produto rival ao Copilot, seu assistente de codificação com IA.

Ambas as empresas tentaram acalmar os ânimos com um comunicado conjunto: “temos uma parceria produtiva e de longo prazo que gerou ferramentas de IA incríveis para todos. As conversas continuam e estamos otimistas de que seguiremos construindo juntos pelos próximos anos.”

Especialistas, no entanto, alertam que acionar órgãos antitruste pode ser uma faca de dois gumes. “Pode parecer tentador chamar os reguladores para resolver disputas. Mas essa estratégia costuma se voltar contra a própria empresa quando ela cresce e ganha poder de mercado”, afirma Adam Kovacevich, CEO da organização Chamber of Progress.

Segundo Kovacevich, a briga distrai de desafios mais urgentes: “OpenAI e Microsoft enfrentam uma corrida intensa contra Google, Anthropic e Meta. Disputas internas desviam o foco da batalha central: vencer em tecnologia.”

QUEM TEM MAIS PODER DE BARGANHA?

Um documento estratégico da OpenAI, divulgado recentemente em um processo judicial, revela que a empresa planeja transformar o ChatGPT em um “superassistente de IA”, multifuncional e independente. Isso a colocaria tanto como parceira quanto como potencial concorrente da Microsoft.

A dependência de infraestrutura continua sendo um fator crítico. Até janeiro de 2025, a Microsoft era a provedora exclusiva de data centers para a OpenAI, o que garantiu a integração dos modelos de IA da startup aos produtos da empresa, como o Copilot.

Mas essa exclusividade já começa a ruir: a OpenAI firmou novos acordos com CoreWeave e Oracle, além de negociar com o Google – mesmo este sendo um rival direto no campo da inteligência artificial.

Enquanto isso, a Microsoft ainda detém uma fatia considerável dos lucros futuros da OpenAI. Fontes indicam que a startup propôs trocar esse direito por 33% de participação numa eventual reestruturação societária.

No entanto, qualquer reconfiguração depende da anuência da Microsoft. Um acordo firmado em 2023 ainda garantiria à big tech acesso a qualquer tecnologia adquirida pela OpenAI – incluindo, potencialmente, a da Windsurf.

O MELHOR CENÁRIO PARA MICROSOFT E OPENAI

Para a Microsoft, o ideal seria manter o status atual: acesso à tecnologia central da OpenAI e, agora, à expertise da Windsurf para reforçar o Copilot.

Já para a OpenAI, o melhor desfecho envolveria conseguir o aval da Microsoft para uma transição rumo a um modelo totalmente com fins lucrativos, estabelecendo ao mesmo tempo limites claros para evitar que a parceira domine áreas onde ela própria deseja competir.

OpenAI e Microsoft enfrentam uma corrida intensa contra Google, Anthropic e Meta.

A OpenAI também quer diversificar seus parceiros de infraestrutura – postura reforçada por declarações à Justiça indicando que “a infraestrutura atual [da empresa] não está preparada para lidar com [usuários anonimizados]”.

Acima de tudo, a OpenAI quer que seus produtos tenham identidade própria. “A verdadeira concorrência vem da liberdade de escolha”, diz o documento interno. “Usuários deveriam poder definir o ChatGPT como assistente padrão, seja no iOS, Android ou Windows. Apple, Google, Microsoft e Meta não deveriam impor seus próprios assistentes de IA sem oferecer alternativas justas.”

Se a OpenAI vai conquistar essa autonomia em meio a uma das maiores disputas corporativas do setor, é uma pergunta que segue em aberto.


SOBRE O AUTOR

Chris Stokel-Walker é um jornalista britânico com trabalhos publicados regularmente em veículos, como Wired, The Economist e Insider saiba mais