Pesquisas sugerem que vacinas podem ajudar a prevenir a demência

Pesquisadores descobriram uma rede genética que fornece evidências de uma resposta viral robusta

Crédito: iStock

Andrew Bubak, Diego Restrepo e Maria Nagel 5 minutos de leitura

Um em cada nove norte-americanos com 65 anos ou mais desenvolveu o Mal de Alzheimer em 2022 e inúmeros outros foram indiretamente afetados, como cuidadores, profissionais de saúde e contribuintes.

Hoje, a doença não tem cura. Os tratamentos disponíveis se concentram principalmente na prevenção, incentivando fatores de proteção como exercícios e dieta saudável, e reduzindo fatores agravantes, como diabetes e pressão alta.

Um desses fatores agravantes são as infecções virais. Pesquisadores identificaram que certos vírus, como o herpes simplex tipo 1 (HSV-1, que causa herpes labial), o vírus varicela zoster (VZV, que causa varicela e herpes zoster) e o SARS-CoV-2 (que causa Covid-19) podem levar a um maior risco do Mal de Alzheimer e de demência após a infecção.

Pesquisadores identificaram que certos vírus podem levar a um maior risco do Mal de Alzheimer e de demência após a infecção.

Descobrir como e quando esses vírus contribuem para doenças pode ajudar os cientistas a desenvolver novas terapias para prevenir a demência. No entanto, os pesquisadores não conseguiram detectar de forma consistente vírus suspeitos nos cérebros de pessoas que morreram de Alzheimer.

Como a doença pode se desenvolver décadas antes dos sintomas, alguns pesquisadores propuseram que os vírus agem precocemente, de maneira silenciosa. Eles desencadeariam uma série de eventos levando à demência, mesmo que os pacientes não apresentem carga viral posteriormente.

Em outras palavras, no momento em que os pesquisadores analisam os cérebros dos pacientes, todos os componentes virais detectáveis desaparecem e a causa é difícil de estabelecer.

Em nossa pesquisa publicada recentemente, usamos uma nova tecnologia para procurar os rastros desses vírus em pacientes com Alzheimer. Ao focar no ponto de entrada mais vulnerável do cérebro – o nariz –, descobrimos uma rede genética que fornece evidências de uma resposta viral robusta.

FOCO NO SISTEMA OLFATIVO

Muitos dos vírus implicados na demência, incluindo o herpesvírus e o vírus que causa a Covid-19, entram no nariz e interagem com o sistema olfativo, que é constantemente bombardeado com odores, poluentes e patógenos.

As partículas inaladas se ligam a células receptoras olfativas específicas no tecido que reveste a cavidade nasal. Esses receptores enviam mensagens que acabam sendo transferidas para a área do cérebro responsável pelo aprendizado e pela memória – o hipocampo.

Os vírus desencadeariam uma série de eventos levando à demência, mesmo que os pacientes não apresentem carga viral posteriormente.

Ele desempenha um papel crítico, atribuindo informações contextuais aos odores, como o perigo do cheiro desagradável do propano ou o conforto do odor de lavanda. Esta área do cérebro também é drasticamente danificada na doença de Alzheimer, causando déficits de aprendizado e memória. Para 85% a 90% dos pacientes com Alzheimer, a perda do olfato é um sinal precoce da doença.

O mecanismo que leva à perda do olfato no Alzheimer é relativamente desconhecido. Assim como os músculos que atrofiam por falta de uso, acredita-se que a privação sensorial leve à atrofia das regiões cerebrais especializadas na interpretação de informações sensoriais. Uma forte entrada sensorial nessas regiões é fundamental para manter a saúde geral do cérebro.

INFLAMAÇÃO E DESMIELINIZAÇÃO

Nossa hipótese é que as infecções virais ao longo da vida contribuem para o Alzheimer, e preveni-las pode ajudar a diminuir a chance de desenvolver a doença. Para testar essa ideia, usamos novas tecnologias de ponta para investigar o mRNA e as redes de proteínas do sistema olfativo de pacientes com a doença.

O corpo usa sequências específicas de mRNA para produzir uma rede de proteínas que são usadas para combater certos vírus. Em alguns casos, o corpo continua a ativar essas vias mesmo depois que o vírus é eliminado, levando à inflamação crônica e a danos no tecido.

Identificar quais sequências de mRNA e redes de proteínas estão presentes pode nos permitir inferir, até certo ponto, se o corpo está ou estava respondendo a um patógeno viral em algum momento.

Anteriormente, sequenciar mRNA em amostras de tecido era difícil porque as moléculas se degradavam muito rapidamente. No entanto, novas tecnologias abordam especificamente esse problema.

acredita-se que a privação sensorial leve à atrofia das regiões cerebrais especializadas na interpretação de informações sensoriais.

Usamos essas tecnologias para sequenciar o mRNA do bulbo olfativo e amostras do trato olfativo de seis pessoas com Alzheimer familiar, uma forma hereditária da doença, e seis pessoas sem Alzheimer.

Nas amostras de Alzheimer familiar, encontramos expressão gênica alterada indicando sinais de uma infecção viral passada no bulbo olfativo, bem como respostas imunes inflamatórias no trato olfativo. Também encontramos níveis mais elevados de proteínas envolvidas na desmielinização no trato olfativo de amostras de pacientes com a doença do que no grupo controle.

A mielina é uma camada gordurosa protetora em torno dos nervos que permite que os impulsos elétricos se movam rápida e suavemente de uma área do cérebro para outra. Danos à mielina bloqueiam a transdução do sinal, resultando em comunicação neural prejudicada e neurodegeneração.

Com base nesses achados, levantamos a hipótese de que infecções virais e a inflamação e desmielinização resultantes no sistema olfativo podem interromper a função do hipocampo, prejudicando a comunicação do bulbo olfativo. Esse cenário pode contribuir para a neurodegeneração acelerada observada no Mal de Alzheimer.

IMPLICAÇÕES PARA A SAÚDE DO PACIENTE

Dados epidemiológicos suportam o papel das infecções virais no desenvolvimento do Alzheimer. Estudos sugerem que a vacinação pode ser uma medida potencial para prevenir a demência. Por exemplo, a vacinação contra o vírus da gripe sazonal e o herpes zoster está associada a uma redução de 29% e 30% no risco de desenvolver demência, respectivamente.

Pesquisas adicionais investigando como as infecções virais podem desencadear a neurodegeneração podem ajudar no desenvolvimento de medicamentos antivirais e vacinas contra os vírus que estão ligados ao Alzheimer.


SOBRE O AUTOR

Andrew Bubak é professor assistente de pesquisa de neurologia, Diego Restrepo é professor de biologia celular e de desenvolvimento e M... saiba mais