Petrolíferas e telecoms podem ser considerados monopólios. O Google, não

É fácil deixar de usar o mecanismo de busca mais popular do mundo – e a IA pode trazer mais mudanças do que qualquer ação governamental

Crédito: Arthur Osipyan/ Unsplash

Harry McCracken 4 minutos de leitura

Quando no início desta semana o juiz Amit Mehta concluiu que o Google havia agido ilegalmente para manter seu monopólio no mercado de buscas online, os principais veículos de comunicação não hesitaram em chamar a decisão de “histórica”.

Esta seria uma avaliação justa se estivéssemos falando apenas sobre o destino de uma enorme e extremamente poderosa empresa de tecnologia. Mas a decisão é a mais drástica até agora entre as atuais ações antitruste do Departamento de Justiça dos EUA (DoJ, na sigla em inglês) e da Comissão Federal de Comércio (FTC) contra não apenas o Google, mas também a Apple, a Meta e a Amazon.

Depois que esses casos passarem por todo o processo legal – algo que levará anos –, o impacto na indústria de tecnologia e na vida das pessoas pode ser significativo. Por ora, no entanto, seria um erro gastar tempo tentando prever o desfecho dessa decisão.

O juiz ainda especificou quais consequências a empresa poderá enfrentar, que podem variar desde uma cisão forçada – semelhante à que foi imposta à Standard Oil, em 1910, e à AT&T, em 1982 – até restrições mais específicas sobre sua capacidade de fechar acordos, como o que torna o Google o mecanismo de busca padrão nos dispositivos da Apple. 

A decisão de 286 páginas é uma leitura fascinante. O juiz conclui que a capacidade da empresa de gastar grandes quantias com Apple, Samsung e outros para garantir a posição de buscador padrão, bem como seu controle sobre o sistema operacional Android, lhe confere uma vantagem intransponível sobre potenciais concorrentes.

Mehta argumenta que a participação de mercado do Google Search – 89,2%, segundo a decisão – lhe dá acesso inigualável a dados que são inestimáveis tanto para a busca em sua forma atual quanto para novos produtos de inteligência artificial.

Também afirma que o controle sobre a publicidade permitiu que a empresa manipulasse os preços dos anúncios de uma forma que seria impossível caso houvesse uma concorrência mais robusta.

Mas é tarde demais para tentar mudar essa realidade. Mesmo há mais de 15 anos, quando startups como Powerset e Cuil tentaram construir alternativas ao Google (sem sucesso), a gigante das buscas já parecia imbatível.

Quanto ao seu poder de pressionar os anunciantes, não gosto do fato de que o Google tem sido muito mais eficiente em captar verbas de publicidade do que qualquer outra empresa cujo conteúdo aparece nos resultados de busca.

Mas a empresa ainda enfrenta a concorrência de duas outras gigantes – Meta e Amazon – e seu domínio sobre o mercado geral tem diminuído ao longo do tempo.

é perfeitamente possível viver sem o Google, se quisermos. Fácil até.

Seu atual domínio sobre as buscas não me parece tão semelhante ao controle que Microsoft, AT&T e Standard Oil exerceram em seus respectivos setores. No início deste século, o Internet Explorer dominava a vida online a tal ponto que muitos sites simplesmente não funcionavam em outros navegadores.

Hoje, o Google é indiscutivelmente o mecanismo de busca padrão do mundo, não apenas pelo que vem pré-configurado em nossos dispositivos, mas também pelo que nossos cérebros já estão habituados a usar. Ainda assim, existem várias alternativas viáveis, desde o Bing, da Microsoft, até novatos como DuckDuckGo, You.com e Brave Search.

Reconheço que nenhum desses produtos se tornará uma máquina de gerar lucros ou uma gigante da indústria como o Google. Mesmo que a Apple e outras empresas fossem obrigadas a permitir que os usuários escolhessem proativamente um mecanismo de busca – como a Comissão Europeia uma vez forçou a Microsoft a ajudar as pessoas a escolher um navegador – , ele provavelmente venceria por ampla margem, graças ao reconhecimento da marca, ao nível de conforto e talvez até à qualidade. E tudo bem.

Créditos: Pawel Czerwinski /Unsplash

A questão é que é perfeitamente possível viver sem o Google, se quisermos. Fácil até.

Mas existe outro motivo pelo qual a situação atual da empresa é diferente das grandes batalhas antitruste do passado. A decisão de Mehta surge em um momento no qual a busca online, em sua forma convencional ao estilo Google, enfrenta uma grande ameaça dos chatbots de IA generativa e outras ferramentas que visam responder diretamente às perguntas dos usuários, em vez de direcioná-los a sites em busca de informações.

Embora a decisão mencione a inteligência artificial, ela cita o ChatGPT, da OpenAI, apenas de passagem e não há menção ao Claude, da Anthropic, ao Perplexity, ao Arc Search ou mesmo ao AI Overviews. Ninguém sabe o que pode acontecer quando o Google for realmente obrigado a implementar as mudanças exigidas pelo governo.

    Por sua natureza, os processos antitruste movidos pelo Departamento de Justiça dos EUA e pela Comissão Federal de Comércio contra Google, Amazon, Apple e Meta avançam lentamente. Eles se baseiam em fatos documentados sobre o comportamento passado das empresas em mercados estabelecidos.

    Mas o futuro da tecnologia é imprevisível, implacável e está se aproximando cada vez mais – e, com o tempo, pode ser uma força mais potente para a mudança do que qualquer decisão que possa sair de um tribunal.


    SOBRE O AUTOR

    Harry McCracken é editor de tecnologia da Fast Company baseado em San Francisco. Em vidas passadas, foi editor da Time, fundador e edi... saiba mais