Ponto de vista: como recuperei minha capacidade de atenção ao sair do TikTok

Achei que sentiria falta. Mas, seis meses após deletar o app, meus hábitos de consumo de mídia melhoraram – e muito

Crédito: Nadezhda Moryak/ Pexels

Henry Chandonnet 4 minutos de leitura

Nos primeiros dias, meu dedo ainda buscava o ícone do TikTok no celular – que agora era só um espaço vazio na tela. Mas não adiantava: não tinha mais nada ali para abrir.

O TikTok entrou na minha vida na pior hora possível. Baixei o app no meu terceiro ano do ensino médio, justamente quando a pandemia de Covid-19 forçou o fechamento das escolas e a minha rotina virou uma maratona de aulas online.

O feed sem fim trazia uma sensação de conforto – quase viciante. Em pouco tempo, já passava horas rolando vídeos e boa parte das conversas com os meus amigos girava em torno dos conteúdos que tínhamos visto.

Em janeiro de 2025, decidi apagar o aplicativo de vez. O então presidente dos EUA, Joe Biden, estava prestes a banir o TikTok, e imaginei que logo todos os meus amigos também seriam forçados a sair.

Parecia o momento certo para mudar: queria recuperar meus hábitos de consumo de mídia, melhorar minha concentração e, finalmente, me libertar dos vídeos curtos.

Seis meses depois, nem penso em voltar.

SAIR DO TIKTOK ME AJUDOU A RECUPERAR O FOCO

Por anos, fui o típico “usuário de duas telas”. Enquanto assistia a um filme ou a uma série, meus olhos logo escapavam para o celular, alimentados por uma dieta constante de vídeos curtos que, sinceramente, estavam acabando com o meu foco.

Tentei de tudo: crochê, livros de colorir, qualquer coisa que ocupasse minhas mãos para me ajudar a prestar atenção. Mesmo assim, ficava entediado. No fim, acabava abrindo o X/ Twitter – ou pior, o próprio TikTok no mudo – enquanto o filme ainda rolava.

Existem muitos motivos para deletar o TikTok – desde questões com privacidade de dados até o simples desejo de ganhar umas horas a mais no dia. Mas, no meu caso, a motivação era direta: queria reaprender a consumir conteúdos mais longos.

No geral, funcionou. Hoje, leio mais, assisto a filmes com o celular em outro cômodo e, às vezes, escuto podcasts sem encostar na tela.

Crédito: Imagem criada por IA

Claro que apagar o aplicativo foi só o primeiro passo. Decidi que 2025 seria o meu ano de investir no foco. Assinei as versões impressas de jornais e revistas para ler jornalismo de qualidade longe das telas. Fiz assinatura do Criterion Channel para assistir a filmes mais densos. E, por fim, comprei um Kindle.

Mas não abandonei completamente as redes sociais. Ainda passo mais tempo do que gostaria no X/ Twitter e abro o Instagram de vez em quando (só evito os Reels – minha regra é manter distância dos vídeos curtos). E meu gosto por entretenimento “trash” segue firme: “The Real Housewives” continua sendo meu reality show favorito.

Mas, pela primeira vez desde o começo do ensino médio, consigo assistir a um filme inteiro sem pegar o celular. E isso, para mim, já é uma grande vitória.

COMO DRIBLEI O FOMO SEM O TIKTOK

Ao deletar o TikTok, meu maior medo era ficar fora das conversas. Não eram os memes ou as dancinhas que me preocupavam, mas sim perder as referências culturais, a piada do momento, a série que todo mundo comentava. Com a popularidade gigantesca do TikTok entre a geração Z, parecia que não ter o app era como se eu tivesse me desligado do mundo.

Mas, olhando de fora, percebi que a maioria dos vídeos não passa de ruído. Leio notícias o suficiente para saber o que está em alta no cinema e na TV. E, quando quero entender algo mais a fundo, recorro a críticos ou a um bom vídeo-ensaio no YouTube. Não preciso de um adolescente explicando por que todo mundo em “Love Island USA” é maluco.

pela primeira vez desde o ensino médio, consigo assistir a um filme inteiro sem pegar o celular.

Lembro da primeira vez que fiquei totalmente por fora de uma referência. Foi em março. Estávamos preparando o jantar quando um amigo usou uma expressão que nunca tinha ouvido. Achei que ele tivesse se enganado, ele achou que eu não tivesse escutado.

Mais tarde, descobri que era um bordão que tinha viralizado no TikTok. Antes, eu teria ficado ansioso por não entender. Mas, naquele momento, não liguei. Só segui a conversa.

Hoje, quem mais reclama da minha ausência no TikTok são meus próprios amigos. Eles ainda me mandam vídeos gravados da tela que “têm tudo a ver comigo” – acompanhados de uma leve reclamação por terem que fazer esse esforço extra.

Mas nenhum pedido para eu voltar ao app me convence. Sem ele, estou mais tranquilo, mais presente – e muito mais feliz.


SOBRE O AUTOR

Henry Chandonnet é escritor e editor baseado em Nova York. Atualmente, trabalha como estagiário editorial na Fast Company, onde cobre ... saiba mais