Por esse “efeito colateral” ninguém esperava: a imaginação artificial

Quatro maneiras possíveis de se pensar a IA generativa como cocriadora

Créditos: rawpixel.com/ Freepik/ Jose Antonio Gallego Vázquez/ Pexels

Natalie Nixon 5 minutos de leitura

A primeira vez que ouvi o termo “imaginação artificial” foi em 2017. Estava lendo uma entrevista com Shelly Palmer, musicista, tecnóloga e consultora. Ele descrevia a capacidade dos computadores de gerar improvisação de jazz e como isso era uma forma de “imaginação artificial”.

Eu ainda estava me familiarizando com a inteligência artificial. Fiquei atordoada e um pouco horrorizada. Minha reação inicial foi... ficar com medo. De lá para cá, tenho confirmado minha apreensão. Mas, desde que o ChatGPT entrou em cena, tenho ponderado cada vez mais a seguinte questão: 

O que significa ser criativo em meio à tecnologia onipresente?

Créditos: Brennan Burling/ Unsplash/ Andriy Onufriyenko/ Getty Images

O big data nos acompanha há muito tempo. Antes que a IA generativa se tornasse parte da linguagem popular, a internet das coisas já havia tornado possível, há anos, a sincronização da sua conta bancária, compras de supermercado e hábitos alimentares.

Corta a cena para a rápida proliferação da IA generativa. Quando seu dispositivo de mensagens de texto sugere palavras para ajudá-lo a terminar uma frase, isso é IA. Quando você brinca com dispositivos de transcrição de áudio, isso também é IA. Isso sem falar em outros aplicativos como Midjourney (geração de imagem a partir de linguagem) ou MusicLM, do Google (geração de música a partir de texto).

A inteligência artificial é um campo que combina ciência da computação e conjuntos de dados robustos para permitir a resolução de problemas.

A primeira onda de automação e IA afetou principalmente os operários. Havia uma ansiedade generalizada – e com razão – sobre a eliminação dos empregos nas fábricas, à medida que os robôs substituíam as pessoas nas linhas de montagem. Mas esta última iteração da IA afeta os trabalhadores do conhecimento. Aqueles de colarinho branco e aqueles cuja moeda de troca são suas ideias.

FUTURO DO TRABALHO CRIATIVO

Existem três respostas comuns à pergunta que fiz: “o que significa ser criativo em meio à tecnologia onipresente?” A primeira delas representa a típica visão distópica que recomendaria “fuja para as montanhas, porque os robôs estão assumindo o controle!”.

Precisamos não apenas de big data, mas também dos dados que vêm de observações profundas, interações interpessoais e histórias.

A segunda representa uma visão utópica: “está tudo bem. Afinal, a vida não ficou muito mais fácil depois de toda a automação e dos bots?”.

A terceira resposta é mais próxima da postura que adoto. Galit Ariel, especialista em realidade aumentada, chama essa perspectiva de heterotopia: há boas e más notícias.

Primeiro, as más: muitos empregos se tornarão irrelevantes e, portanto, exigirão requalificação e qualificação para se preparar para os novos empregos criados ao redor da inteligência artificial.

A boa notícia é que, à medida que as tarefas básicas são executadas por IA e bots, temos a oportunidade de redesenhar o trabalho e as diferentes métricas de produtividade. Isso abrirá mais espaço para o que nos torna humanos.

Pense em como é um local de trabalho onde a tecnologia está não apenas realizando tarefas mais mundanas, mas também nos levando a nos envolver em nossas emoções, nossa intuição, nossa criatividade. Em última análise, trata-se de uma mudança de mentalidade.

Se adotarmos uma mentalidade baseada no medo, a IA será um alarme do fim do mundo soando alto no ouvido. Mas se a mentalidade for de crescimento, ela oferece ferramentas e oportunidades sobre as quais podemos ser positivos, ter a mente aberta e entusiasmados. A IA oferece oportunidades para a criação de novos empregos.

NEM UTOPIA, NEM DISTOPIA

Existem, é claro, desafios que devemos manter em mente à medida que a IA entra no território criativo. Por exemplo:

• Como valorizamos o trabalho das pessoas que estão usando as ferramentas para criar em cima do que já existe e, ao mesmo tempo, damos o devido crédito às pessoas que originaram a ideia?

• Como garantimos ética e responsabilidade?

• Nossa imaginação está ameaçada com essa injeção de inteligência artificial generativa?

Com relação à última pergunta, acho que não. Vou explicar o porquê.

Embora funções como o Chat GPT pareçam, a princípio, propensas a tirar o trabalho dos humanos, isso não será tão rápido. A IA generativa não é nem um pântano distópico nem uma panaceia utópica.

O “I” em IA significa inteligência e imaginação.

A imaginação, brilhante e indisciplinada, é mais necessária agora do que nunca. Os algoritmos ainda precisam de humanos que saibam como formular boas perguntas. E quanto melhor você for em fazer perguntas (um catalisador para desenvolver sua capacidade criativa), mais eficaz será o ChatGPT.

Aqui estão quatro maneiras de pensar sobre a IA generativa como cocriadora:

1. IA como colaboradora para despertar nossa imaginação. Quaisquer aplicativos como o ChatGPT lançados são apenas o ponto de partida.

2. IA como um catalisador para nos ajudar a aprender a fazer perguntas melhores. Com o Chat GPT, as perguntas são os comandos, então você ainda precisa ser excelente na formulação de perguntas.

3. A integridade humana permanece suprema. Você deve ser inteligente e diligente ao fazer sua pesquisa prévia e posterior. Por exemplo, os dados de treinamento do ChatGPT foram colhidos apenas até 2021. Então, definitivamente, não tente escrever seu próximo livro usando somente o ChatGPT.

4. AI aumenta seu repertório para o pensamento crítico. Veja todos os três pontos acima.

Precisamos não apenas de big data, mas também do que eu chamaria de dados profundos. Os dados que vêm de observações profundas, interações interpessoais e histórias.

Então, tenha coragem. O “I” em IA significa inteligência e imaginação, mas você ainda é responsável por conduzir ambos. 


SOBRE A AUTORA

Natalie Nixon é estrategista criativa, palestrante e presidente da  Figure 8 Thinking. saiba mais