Precisamos reconhecer a privacidade como direito fundamental do ser humano
O único caminho para construir negócios sólidos é reconhecer o direito de cada pessoa sobre sua identidade e sobre o que querem ou não revelar aos outros
Andar vestido, trancar a porta de casa, lacrar envelopes, criar senhas. Vários hábitos diários têm algo fundamental em comum: fazemos tudo isso para preservar nossa ideia de privacidade.
O advento da internet e da comunicação global instantânea mudou drasticamente a forma como encaramos a privacidade pessoal. Para início de conversa, cada aplicativo, cada compra ou pesquisa online nos obriga a compartilhar muito de nós mesmos. Basta um nome, um e-mail, um número de telefone e um endereço para que um estranho consiga desvendar toda a nossa vida particular.
Com tantas informações pessoais divulgadas na internet, começamos a experimentar as consequências do manuseio irresponsável de dados e de práticas mal-intencionadas. Geralmente, costumamos pensar que o problema está nos suspeitos habituais, como as invasões hackers, os golpes na internet, as senhas fracas e os crimes de violações de dados.
No entanto, precisamos prestar atenção ao papel que as empresas de tecnologia desempenham e, assim, começar a entender como podemos construir processos melhores, com a privacidade na base, e como devolver o controle dos dados a quem ele deveria pertencer: aos indivíduos.
EXPECTATIVA X REALIDADE
Sempre que uma pessoa fornece suas credenciais, informações pessoais, senhas e outros detalhes na internet, tem a esperança de que os dados permaneçam privados. Infelizmente, isso raramente acontece.
A questão é como devolver o controle dos dados a quem ele deveria pertencer, ou seja, aos indivíduos.
Depois que uma empresa consegue suas informações, ela pode agregá-las em um banco de dados de marketing maior e, a partir daí, esse banco é vendido a corretores online que usam suas informações para obter lucro.
Quando seus dados estão na internet, qualquer um pode comprá-los e usá-los para marketing, correntes turbinadas por robôs, mensagens de spam ou mesmo para atividades criminosas.
Mas, e se nossos dados online fossem tratados com a mesma reverência e respeito que uma correspondência ou uma casa trancada? Entrar na casa de alguém para ver seus pertences na tentativa de personalizar sua futura experiência de vendas terminaria em prisão. Por que com as suas informações pessoais online é diferente?
Estamos começando a testemunhar cada vez mais empresas abraçando mudanças para proteger a privacidade pessoal, em resposta a novas leis ou devido a uma nova consciência de seu papel na manutenção de dados seguros. No entanto, temos um longo caminho a percorrer antes que as empresas em todo o mundo defendam o direito fundamental à privacidade de todos os consumidores.
PAPEL DOS LÍDERES NA PRESERVAÇÃO DA PRIVACIDADE
Embora muitas empresas não saibam por onde começar a transição para práticas de privacidade que priorizem o consumidor, a realização de uma auditoria de privacidade pode ajudar a identificar pontos fracos e fornecer um roteiro geral para mudanças. Comece por aí.
Entenda suas responsabilidades com os dados. A realização de uma auditoria de privacidade começa com a compreensão das responsabilidades com os dados específicos do setor em que a empresa opera. A indústria médica terá uma abordagem diferente de uma empresa de comércio eletrônico, por exemplo. Como regra geral, todo empresário deve tratar a proteção de dados de forma igual e séria.
Examine de quais dados você realmente precisa. As empresas precisam analisar honestamente os tipos de dados que estão sendo coletados. É importante começar a entender o raciocínio por trás da coleta, as permissões envolvidas nesse processo e a maneira como os dados são armazenados.
Depois disso, eles podem ser divididos por níveis de sensibilidade. Legalmente, os dados financeiros e médicos devem ser tratados de forma diferente do primeiro nome de uma pessoa – embora, na prática, a melhor abordagem seja tratar todos os dados pessoais com o mesmo nível de cuidado.
Encontre o recurso de segurança adequado. Para empresas que não contam com um amplo departamento de TI ou de
As empresas precisam analisar honestamente os tipos de dados que estão sendo coletados.
segurança na internet, terceirizar essa tarefa para um contratado bem recomendado pode ser uma solução rápida. Certifique-se de que esses prestadores de serviço entendam a posição da empresa em relação à privacidade e desejem adotar um modelo de privacidade que prioriza o consumidor. Como alternativa, construir sua própria equipe interna pode ser uma boa ideia para empresas de todos os tamanhos fazerem da proteção de dados do consumidor sua prioridade.
Torne as escolhas consensuais. Abraçar completamente a privacidade do consumidor significa adotar a coleta de dados consensual na forma de botões de consentimento e transparência na comunicação, deixando o consumidor saber o que está sendo coletado e para qual finalidade. Fazer isso pode ser fácil, basta acrescentar um pop-up rápido, criar uma página detalhada no site da empresa ou enviar uma comunicação por e-mail.
Agende auditorias contínuas. Saiba que auditoria de privacidade não é uma atividade única. Novas auditorias precisam ser agendadas e concluídas regularmente, a fim de garantir a conformidade contínua e para manter a empresa nos mais altos padrões de forma consistente.
Volte uma casa para avançar duas. Pesquisas mostram que, para cada dólar que as empresas gastam em privacidade, elas obtêm um retorno de US$ 2,70. Além disso, investir em práticas consistentes de privacidade aumenta a retenção, a fidelidade à marca e aumenta a probabilidade de atrair novos clientes.
É importante abandonar a crença de que você precisa de todos os dados de um consumidor para expandir seus negócios. Na verdade, ficamos mais eficientes concentrando os dados no uso, e não na criação de perfis de usuários. A experiência do cliente também se torna melhor, porque passa a mirar no consumidor como ele é hoje, e não em sua versão do passado.
Não tem jeito: a única maneira de construir algo com sucesso duradouro é reconhecendo o direito à privacidade de cada pessoa.