Precisamos salvar o metaverso antes que acabe sem nem ter começado

As pessoas nunca realmente acreditaram na ideia do metaverso, mas isso não significa que não estejam interessadas em mundos abertos colaborativos

Créditos: Evgenia Ivanova/ jacoblund/ iStock

Josh Rush 4 minutos de leitura

Após a quebra do banco Lehman Brothers, a indústria da tecnologia se tornou um ponto de luz em meio a uma economia sombria. Impulsionadas pelas taxas de juros históricas (que se traduziu em um fluxo quase ilimitado de capital de investidores), as startups podiam gastar sem preocupação, contratar à vontade e buscar novas oportunidades e ideias ambiciosas – quando não meramente especulativas.

Mas, infelizmente, os bons tempos não durariam para sempre. O aumento das taxas de juros pós-pandemia foi um alerta brutal, obrigando as empresas a reavaliarem seu quadro de funcionários e direção estratégica. Ideias que antes eram vistas como potencialmente revolucionárias agora são consideradas um luxo desnecessário. Talvez nenhuma delas mais do que o metaverso.

Mark Zuckerberg apostou alto na ideia de que as pessoas, em algum momento, trocariam seus navegadores por mundos virtuais 3D imersivos. Ele não apenas mudou o nome de sua empresa; sob sua direção, a Meta também teria gastado quase US$ 100 bilhões em pesquisa e desenvolvimento de produtos para o metaverso.

Outras – da Microsoft ao Walmart – seguiram o exemplo, investindo dinheiro e tempo em suas próprias iniciativas. Mas, com a nova realidade econômica e a IA atraindo grande parte do capital de risco, muitas estão mudando de rumo, levando as pessoas a se perguntarem se o metaverso estaria dando seus últimos suspiros.

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Mas há um problema fundamental nessa pergunta: presumir que o metaverso, como um segmento viável da economia digital, já era uma realidade.

UMA MORTE IMPOSSÍVEL

De acordo com a McKinsey, as empresas de metaverso atraíram US$ 120 bilhões em financiamento durante o primeiro semestre de 2022 – mais que o dobro do investimento total durante 2021. Nos últimos anos, algumas das maiores empresas de tecnologia do mundo também anunciaram projetos ambiciosos no mesmo sentido.

Enquanto isso, analistas do setor davam declarações ousadas sobre a trajetória futura do metaverso. Mas todo esse investimento e previsões otimistas não necessariamente se traduzem em adoção. A verdade é que ele permanece como um sonho distante.

as empresas de metaverso atraíram US$ 120 bilhões em financiamento durante o primeiro semestre de 2022.

Segundo documentos obtidos pelo “The Wall Street Journal”, o principal produto da Meta, o Horizon Worlds, viu sua base de usuários cair um terço no ano passado.

Também descobriu que o Decentraland e o The Sandbox, duas plataformas de metaverso conhecidas por usar moedas digitais, supostamente tinham menos de mil usuários ativos diários até o final de 2022. Em setembro do ano passado, o Decentraland afirmou ter cerca de 60 mil usuários ativos mensais, enquanto o The Sandbox disse contar com 201 mil.

COMO SALVAR O METAVERSO

Algumas das principais publicações de tecnologia retratam uma imagem negativa do sentimento atual em relação ao metaverso. Conceitualmente, falta credibilidade com o grande público. Ele acabou se tornando um desastre caro. Uma previsão do futuro que não se concretizou.

Mas as mesmas críticas não se aplicam às tecnologias que o sustentam. As pessoas realmente gostam de mundos abertos colaborativos, como evidenciado pelos cerca de 80 milhões de jogadores mensais do Fortnite.

A realidade virtual (RV) se estabeleceu como uma ferramenta para trabalho e lazer, com estimativas de vendas de 10,1 milhões de headsets em 2023 e projeções de ultrapassar a marca de mais de 20 milhões até 2026.

O problema é que a palavra “metaverso” se tornou tóxica. Então, por que ainda a usamos?

Crédito: Cottonbro/ Pexels

Expressões como “mundo virtual” ou “mundo imersivo” transmitem a mesma ideia e não carregam o estigma do termo original. Além disso, descrevem melhor o conceito. De acordo com um estudo de 2022 sobre consumidores dos EUA, apenas 16% das pessoas entendem e podem explicar o que é o metaverso. Em compensação, qualquer um sabe o significado de “mundo virtual”.

Mas não devemos ignorar a importância de um bom design de produto. Um componente considerável do hype em torno do metaverso é que ele poderia servir a um propósito prático para empresas e equipes. Seus entusiastas mais fervorosos prometiam que, com o tempo, ele se tornaria a principal plataforma de comércio e de trabalho.

O problema é que a palavra “metaverso” se tornou tóxica. Então, por que ainda a usamos?

Essa afirmação se baseava na ideia de que as empresas que se estabelecessem dentro do metaverso construiriam essa funcionalidade – seja em resposta à crescente comunidade de usuários ou na esperança de que isso os atraísse. 

Mas, na realidade, as empresas relutaram em investir tempo e dinheiro sem garantias de adoção. Embora algumas tenham dado uma chance ao metaverso, muitas reduziram ou abandonaram seus esforços.

Parte desse tumulto poderia ter sido evitada tratando o metaverso – ou os mundos virtuais – como qualquer outro produto, baseado em uma necessidade previamente identificada, com o objetivo de resolver problemas antes impossíveis de solucionar ou de uma maneira melhor do que as alternativas existentes.

O metaverso foi tratado como algo “bom de ter”, em vez de uma solução. Se quisermos que sobreviva, precisamos começar a pensar nele como uma ferramenta para construir novas aplicações e novos lugares para viver, trabalhar e jogar.

Agora que o alvoroço do mercado diminuiu, talvez o metaverso possa ter uma chance de se tornar realidade.


SOBRE O AUTOR

Josh Rush é CEO da Surreal Events, plataforma de eventos virtuais e desenvolvimento de metaverso. saiba mais