Qual a lógica da Nvidia ao comprar participação bilionária na rival Intel?
Investimento marca virada histórica no setor de semicondutores e acirra a disputa tecnológica com a China

A Nvidia seguiu os passos do governo dos Estados Unidos ao adquirir uma participação de US$ 5 bilhões na Intel Corp. No mês passado, o presidente Donald Trump já havia anunciado um aporte de US$ 9 bilhões do governo norte-americano na mesma empresa, colocando tanto a Nvidia quanto os EUA entre os maiores acionistas da fabricante de chips.
O movimento representa uma grande reviravolta no Vale do Silício, com efeitos que podem se espalhar pelo setor de tecnologia em meio à corrida global da inteligência artificial. No centro da nova parceria está justamente a disputa por liderança em IA: as duas companhias vão desenvolver em conjunto chips para computadores pessoais e data centers.
"Esta colaboração histórica conecta de forma inédita a pilha de IA e computação acelerada da Nvidia com as CPUs da Intel e todo o vasto ecossistema x86 – uma fusão de duas plataformas de classe mundial" declarou Jensen Huang, fundador e CEO da Nvidia. "Juntos, vamos expandir nossos ecossistemas e lançar as bases da próxima era da computação."
O mercado reagiu rapidamente: as ações da Intel dispararam mais de 30% na quinta-feira, enquanto os papéis da Nvidia subiram 3,5%.
IMPACTO GLOBAL
Mais do que valor de mercado, a jogada pode marcar o passo mais ousado de empresas de tecnologia dos EUA na disputa com concorrentes da China. A aliança também cria desafios para competidores como a AMD e inaugura uma nova dinâmica na indústria de semicondutores.
A gigante TSMC (Taiwan Semiconductor Manufacturing Company), até agora dominante no setor, viu suas ações caírem quase 7% no dia do anúncio do negócio da Nvidia/ Intel – embora tenham se recuperado logo depois.

Na prática, o investimento torna a Intel mais competitiva e abre para a Nvidia novos canais de distribuição de seus chips. O movimento acontece logo após notícias de que o regulador de internet da China estaria instruindo empresas de tecnologia locais a não comprar nem utilizar chips da Nvidia, segundo reportagem do "Financial Times".
O futuro, porém, permanece incerto. Resta saber se os esforços conjuntos de Intel e Nvidia serão suficientes para enfrentar gigantes como a Huawei, especialmente em meio à escalada das guerras comerciais globais. Para analistas, no entanto, o recado do mercado já está dado: as velhas rivalidades perderam o sentido.
"Isso é como dois times unindo forças para acabar com a rivalidade. As empresas simplesmente não se suportavam", afirmou David Wagner, diretor de ações e gestor da Aptus Capital Advisors, em entrevista à "Reuters". "É um passo enorme na direção certa, aproveitando as fábricas da Intel para fabricar chips e dando novo fôlego a uma companhia que foi mal gerida por décadas."