“Que mundo queremos e que tecnologias nos ajudam a chegar lá?”, questiona CEO do Signal

Meredith Whittaker participa do Programaria Summit 2025, evento de diversidade de gênero e tecnologia que acontece a partir desta quinta-feira

Meredith Whittaker, CEO do aplicativo de mensagens Signal
Créditos: Florian Hetz/ Getty Images/ Faded Gallery/ Shubham Dhage/ Unsplash

Redação Fast Company Brasil 3 minutos de leitura

E se, em vez de perguntar que tecnologia precisaremos no futuro, começássemos a perguntar que mundo queremos habitar no futuro? A provocação resume a visão de Meredith Whittaker, presidente da Signal Foundation e uma das vozes mais influentes na defesa da ética digital.

No lugar de pensar o futuro com base nas promessas da inteligência artificial, ela olha para as próximas décadas por outra lente. “Tecnologia é apenas uma forma de fazer as coisas. Um garfo é uma tecnologia, um ritual é uma tecnologia. Então, precisamos inverter a pergunta: que mundo queremos criar e que tecnologias nos ajudam a chegar lá?”

A executiva fará parte do PrograMaria Summit 2025, maior evento de diversidade de gênero e tecnologia do Brasil. Ela participou de uma conversa com a advogada e diretora do escritório de advocacia popular Curumim Ere, Horrara Moreira, em uma live que vai ao ar nesta quinta, a partir das 20h.

Criado em 2014, o Signal é um aplicativo de mensagens gratuito, de código aberto e sem fins lucrativos. Conta com cerca de 70 milhões de usuários ativos mensais e mais de 200 milhões de downloads no mundo.

REPROGRAMAR O SISTEMA

A Fast Company Brasil teve acesso com exclusividade à conversa e participou do bate-papo com Meredith. No diálogo, a executiva não fala em inovação como evolução inevitável, mas como decisão política e coletiva. Para ela, o sistema tecnológico atual foi desenhado para servir aos interesses de poucas empresas e não às necessidades da sociedade.

“A indústria de tecnologia que temos hoje foi criada para servir aos acionistas, um modelo baseado na coleta massiva de dados, nos efeitos de rede e nas economias de escala. Isso não é inevitável. É uma escolha.”

A Signal Foundation, que ela preside desde 2022, é uma tentativa prática de mostrar que outro caminho é possível. O aplicativo é gerenciado por uma instituição sem fins lucrativos, com objetivo de manter a máxima privacidade de dados.

Para ela, esse formato é uma maneira de fugir do modelo de vigilância perpetuado pelas big techs. Uma forma de reprogramar o sistema de dentro para fora.

UM PODER QUE NÃO É NEUTRO

A executiva, que foi um dos principais nomes do festival South by Southwest (SXSW) deste ano, em Austin, afirma que as infraestruturas tecnológicas globais concentram poder e são, por definição, antidemocráticas. Segundo ela, dependemos de sistemas controlados por pouca gente, cujas motivações e códigos são protegidos por segredo comercial.

“Estamos dependentes de infraestruturas controladas por um número muito pequeno de pessoas, fora de qualquer supervisão democrática. Esse tipo de poder centralizado é, por definição, antidemocrático.”

"A indústria de tecnologia que temos hoje foi criada para servir aos acionistas."

A executiva relaciona esse cenário à própria expansão da IA. O problema não é a expansão da tecnologia, ela explica, mas dos modelos que a estruturam. Uma forma de mudar o futuro é alterar exatamente essas estruturas.

“Precisaremos pensar em estruturas democráticas para os sistemas computacionais que temos. Uma questão de governança, de transparência", diz. 

INOVAR PARA ALÉM DOS CHIPS

Uma das formas de reformular o sistema está em questionar a própria função do que significa inovar. “Quando pensamos em inovação, pensamos em um chip mais rápido ou em uma nova versão de software. Mas há uma enorme necessidade de inovação real em perguntas como essa”, aponta Whittaker.

logotipo do aplicativo de  mensagens Signal

Ela cita Signal, Mozilla e Wikimedia como exemplos de projetos que tentam estender paradigmas de código aberto e resistir às limitações impostas pelo mercado. 

“Todos nós, de algum modo, estamos tentando expandir esses modelos, mesmo que eles não caibam nas caixas do sistema atual. É um esforço que exige trabalhar com os recursos que temos e, ao mesmo tempo, continuar imaginando o que ainda não existe.”

O FUTURO COMO ESCOLHA

No centro da fala de Whittaker está a ideia de que a tecnologia não é inevitável. “Não podemos nos dar ao luxo de esperar gerações para ver o que acontece. Precisamos agir agora – e continuar pensando em direção a esse futuro.”

Reprogramar o sistema, diz ela, é a única forma de garantir que a tecnologia volte a servir ao propósito que deveria ter desde o início: ampliar, e não reduzir, a liberdade humana.

SOBRE O PROGRAMARIA SUMMIT

O PrograMaria acontece de 16 a 18 de outubro, combinando palestras e workshops online com um evento presencial. Tem desde atividades de graça até workshops pagos. Confira aqui.


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