Quem aprende a “domar” os cookies fica mais cuidadoso ao navegar na web

Pesquisa mostra que a maioria das pessoas consente em ser rastreada na internet sem se dar conta disso

Crédito: Rumeysa Aydin/ Unsplash/ rawpixel.com

Elizabeth Stoycheff 4 minutos de leitura

Cookies são ferramentas de vigilância online e as entidades comerciais e governamentais que os utilizam preferem que as pessoas não leiam as notificações dos termos com atenção. Caso contrário, descobrirão que têm a opção de bloquear alguns, ou mesmo todos.

O problema é que essas notificações se tornaram um grande incômodo e nos lembram constantemente de que tudo o que fazemos pode ser rastreado.

Como pesquisadora de vigilância online, descobri que não ler as notificações cuidadosamente pode levar a emoções negativas e afetar o comportamento do usuário.

COMO OS COOKIES FUNCIONAM

Os cookies não são algo novo. Eles foram criados em 1994 por um programador da Netscape para otimizar as experiências de navegação através da troca de dados dos usuários com sites específicos. Esses pequenos arquivos de texto permitiam que os sites lembrassem suas senhas para facilitar o login e mantivessem itens em seu carrinho virtual para finalizar a compra posteriormente.

Mas, nas últimas três décadas, os cookies evoluíram e passaram a rastrear usuários em sites e aplicativos. É assim que os itens do seu carrinho de compras da Amazon em seu smartphone são usados para personalizar os anúncios que aparecem para você no Twitter ou no seu notebook. Um estudo descobriu que 35 dos 50 sites mais acessados usam cookies de forma ilegal.

Na Europa, há regulamentos que exigem permissão do usuário para usar cookies. Você pode evitar o rastreamento de suas atividades lendo atentamente as políticas de privacidade das plataformas e desativando os cookies, mas a maioria das pessoas não o faz.

Um estudo descobriu que, em média, os usuários gastam apenas 13 segundos lendo os termos de uso em um site antes de consentir com cookies. É que eles costumam ser complicados e têm como objetivo gerar “fricção”.

Um estudo descobriu que 35 dos 50 sites mais acessados usam cookies de forma ilegal.

Fricção é uma técnica usada para criar obstáculos durante a navegação, seja para manter o controle por parte das autoridades ou para reduzir a demanda de atendimento ao cliente, por exemplo. Envolve a construção de experiências frustrantes no design de sites e aplicativos para que os usuários que tentam evitar o monitoramento de suas atividades acabem desistindo.

COMO ELES NOS AFETAM

Minha pesquisa mais recente buscou entender como as notificações de cookies são usadas nos Estados Unidos para criar fricção e influenciar o comportamento do usuário.

Para realizá-la, usei o conceito de conformidade irracional, criado pelo psicólogo de Yale Stanley Milgram. Nos experimentos de Milgram – hoje considerados uma violação grave da ética em pesquisa –, exigia-se que participantes dessem choques elétricos em outros para testar a obediência à autoridade.

A pesquisa demonstrou que a maioria das pessoas consente com o pedido de uma autoridade sem antes refletir se é correto fazê-lo. Suspeitei que isso também poderia estar acontecendo com os cookies.

Conduzi um grande experimento representativo que apresentava aos usuários uma mensagem pop-up padrão, semelhante às que vemos na maioria dos sites.

É possível evitar o rastreamento desativando os cookies, mas a maioria das pessoas não o faz.

Então, avaliei se a mensagem desencadeava alguma resposta emocional – raiva ou medo, que são as respostas esperadas diante da fricção online. E também como influenciavam a vontade dos internautas de se expressarem no ambiente digital.

Os resultados mostraram que as notificações desencadearam fortes sentimentos de raiva e medo, sugerindo que os cookies não são mais a ferramenta útil do início. Em vez disso, são um obstáculo para acessar informações e fazer escolhas informadas sobre a nossa privacidade.

E, como já suspeitava, as notificações também reduziram a vontade das pessoas de expressar opiniões, buscar informações e ir contra o status quo.

SOLUÇÕES POSSÍVEIS

Existem três soluções de design que podem ajudar. Primeiro, tornar o consentimento mais transparente, para que as pessoas estejam mais cientes de quais dados serão coletados e como serão usados. Isso requer uma mudança no padrão do consentimento de cookies, para que as pessoas que desejam usá-los para melhorar sua experiência possam fazê-lo voluntariamente.

Em segundo lugar, as permissões mudam constantemente, e no centro do design devem estar quais dados são rastreados e como serão usados.

Terceiro, os usuários devem ter o direito de apagar informações online sobre si mesmos que sejam prejudiciais ou que não sejam usadas para sua finalidade original, incluindo os dados coletados por cookies de rastreamento.

Enquanto isso, recomendo que as pessoas leiam cuidadosamente os termos e condições de uso e consintam apenas com o necessário.


SOBRE A AUTORA

Elizabeth Stoycheff é professora associada de comunicação na Wayne State University. saiba mais