Quer morar sozinho? Uma nova onda de influenciadores mostra como

A avalanche de youtubers que moram sozinhos ganhou popularidade nas redes sociais nos últimos três anos

Crédito: agrobacter/ iStock

Steffi Cao 3 minutos de leitura

Em um apartamento de luxo na cidade de Nova York, a youtuber Michelle Choi prepara uma tigela de arroz com atum para o café da manhã, leva para sua ampla sala de estar e vai comendo enquanto está sentada no chão, conversando com a câmera o tempo todo.

Ela passa o dia em casa, em seu apartamento de um quarto lindamente decorado, cozinhando e limpando. O vídeo tem 4,1 milhões de visualizações. Em outro vlog do tipo (com quase três milhões de visualizações), a criadora annika’s leaf monta um novo sofá, assiste televisão com um amigo e prepara o almoço.

O Bureau do Censo dos Estados Unidos divulgou um relatório em junho de 2023 revelando que em 27,6% dos domicílios do país morava apenas uma pessoa. Nas redes sociais, um novo tipo de conteúdo surgiu para atender a essa mudança.

Os "vloggers que moram sozinhos" do YouTube – criadores de conteúdo que romantizam as tarefas mundanas de viver e estar sozinho – ganharam popularidade nos últimos três anos, tornando-se um gênero consolidado por conta própria.

No crescente espaço da internet, os influenciadores se mostram tranquilamente fazendo compras, limpando a casa, cozinhando e assistindo TV antes de dormir, tudo dentro de seus apartamentos tipo estúdio, ao som de suaves melodias instrumentais de piano.

Mas quem assiste a isso? Bom, para se ter uma ideia, a hashtag #livingalone ultrapassou 1,3 bilhão de visualizações no TikTok, e #livingalonediaries alcançou mais de 429,4 milhões.

Michelle Choi (Crédito: Reprodução/ YouTube)

Mai Pham, uma youtuber de estilo de vida e que mora sozinha (e que tem mais de 3,27 milhões de assinantes em seu canal), diz que gosta tanto de assistir quanto de postar vídeos solo. "Prefiro assistir gente que mora sozinha", diz ela. Nos comentários, as pessoas compartilham como foram inspiradas a um dia viver esse mesmo tipo de vida.

Isso representa uma mudança significativa no cenário de influenciadores. Há alguns anos, casas de criadores de conteúdo eram a maneira mais garantida de encontrar espectadores. Julia Fei, uma youtuber baseada na cidade de Nova York com 120 mil seguidores, diz que, do ponto de vista do conteúdo, as casas perderam seu apelo.

"Principalmente com a geração mais jovem, há uma sensação muito grande de identificação com viver sozinho", diz ela. "Viver em uma casa grande é legal, mas evoca uma emoção diferente, como inveja, ou emoções negativas, enquanto viver sozinho evoca uma emoção como empatia.”

Crédito: Reprodução/ YouTube

O mercado imobiliário é sempre afetado por inúmeros fatores, mas Lyndsey Casagrande, corretora de imóveis licenciada de Nova York, diz que a cultura pop tem um efeito de longo prazo sobre o que as pessoas estão procurando.

"Quando uma figura pública ou celebridade compra um imóvel em um bairro que pode estar se destacando, a área ou o tipo de imóvel ganha mais destaque e isso, definitivamente tem correlação com a demanda”, analisa.

O impacto das redes sociais é apenas a última iteração do entretenimento atendendo à demanda do consumidor, segundo Emily McDonald, especialista em tendências de aluguel da Zillow (empresa especializada no mercado imobiliários dos EUA).

Julia Fei (Crédito: Reprodução/ YouTube)

"É complicado apontar uma relação direta entre as tendências da cultura pop e o mercado de aluguel", pondera.

É verdade que os vlogs de quem mora sozinho podem não ter o poder de alterar o mercado como um todo, mas eles refletem o interesse cada vez maior em ter seu próprio espaço e ser independente, especialmente entre os jovens adultos.

De fato, mais jovens sonham em comprar um imóvel próprio e desejam viver suas vidas sozinhos. Os influenciadores conseguem aproveitar essa tendência por meio de “vídeos solo”, projetando um estilo de vida, de espaço pessoal e de autonomia desejado por aqueles que assistem.

Mai Pham (Crédito: Reprodução/ YouTube)

Pham também percebe isso. Ela tenta incluir determinadas palavras-chave em seus títulos para garantir o engajamento e o interesse do público, Muitas vezes são frases específicas que evocam um senso de empreendimento, como "Morando Sozinha em Nova York aos 21 anos", "Dia Produtivo na Minha Vida" ou "Colocando Minha Vida nos Trilhos.”

Fei não tem certeza de como será o futuro desse gênero de conteúdo. "Você não pode viver sozinho para sempre, certo? À medida que os criadores que foram pioneiros nesse segmento avançarem, eles terão que se identificar de outro forma. Não tenho certeza se isso vai produzir efeitos em cascata.”


SOBRE A AUTORA

Steffi Cao escreve sobre cultura em publicações como Forbes, The Washington Post e Teen Vogue. saiba mais