Realidade virtual imersiva é testada para tratar dores crônicas

FDA autoriza o uso de um programa de realidade virtual de oito semanas chamado RelieVRx

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Mark Sullivan 3 minutos de leitura

Os médicos do sistema integrado de saúde para veteranos do exército norte-americano, o Veterans Health Administration (VHA), em breve poderão oferecer aos pacientes um tratamento alternativo de alta tecnologia para dor lombar crônica: uma forma de terapia em realidade virtual.

Profissionais da saúde em 18 instalações do Departamento de Assuntos de Veteranos dos EUA (VA) poderão receitar um programa de realidade virtual de oito semanas, autorizado pela FDA, chamado RelieVRx, que foi criado pela empresa de “terapia imersiva” AppliedVR, com sede em Los Angeles.

A realidade virtual imersiva amplia o escopo do tratamento para incluir os aspectos mentais e emocionais da dor.

A empresa vem trabalhando com o departamento nos últimos dois anos, por meio de um contrato com o VHA Innovation Ecosystem, o braço de pesquisa e inovação do sistema de saúde para veteranos.

“O VA foi um dos primeiros a adotar a medicina imersiva. Eles sabem bem o poder que ela tem. Hoje, já a usam para tratar estresse pós-traumático em 120 regiões e contam com mais de mil profissionais”, afirma Matthew Stoudt, CEO da AppliedVR.

Por muitos anos, as dores crônicas, incluindo a lombalgia, foram tratadas com os mesmos procedimentos utilizados em pacientes com dores agudas – isto é, com medicamentos e cirurgia.

A realidade virtual imersiva amplia o escopo do tratamento para incluir os aspectos mentais e emocionais da dor, que Stoudt aponta serem cruciais. “Temos que tratar também as comorbidades de ansiedade e depressão”, ressalta.

O programa da AppliedVR combina técnicas conhecidas de controle da dor – como consciência corporal, distração, relaxamento e modificação de comportamento – com imagens e sons imersivos.

O programa da AppliedVR combina técnicas conhecidas de controle da dor com imagens e sons imersivos.

Para a distração da dor, por exemplo, o programa estimula o paciente a arremessar  bolas de neve em ursos virtuais, o que pode ter o efeito de preencher as vias neurais que transmitem sinais de dor. “Estamos trabalhando na relação entre dor e saúde mental”, diz Stoudt.

Após a prescrição da terapia, o VA notifica a AppliedVR, que envia um headset de realidade virtual para a casa do paciente, onde ele concluirá o programa de oito semanas. Ao final, o paciente envia o dispositivo de volta e o VA reembolsa a AppliedVR pelas despesas.

PROBLEMA PERSISTENTE

O VHA tem realizado procedimentos médicos e cirurgias para tratar dores crônicas, como lombalgias. Mas essas abordagens são caras. Um estudo de 2020 publicado no

Muitos pacientes demonstraram melhora clinicamente significativa até seis meses após a conclusão da terapia.

"Journal of American Medical Association" descobriu que os custos associados a lesões na região lombar e no pescoço chegaram a US$ 134 bilhões, fazendo desta a categoria de gastos com saúde com maior custo nos EUA. Na maioria dos casos, o resultado da cirurgia é apenas temporário.

Os médicos também usam remédios, geralmente opióides, para tratar a dor, e o vício nesta droga na comunidade de veteranos tem sido um problema sério. Portanto, novas abordagens para o gerenciamento da dor são muito bem-vindas. Para tanto, os profissionais de saúde estão buscando novas formas de tratamento em tecnologias emergentes, como a realidade virtual.

Um ensaio clínico de 2021 mostrou que o programa de terapia com realidade virtual imersiva pode resultar em uma melhora significativa na maneira como muitos pacientes lidam com a dor. Em julho, a AppliedVR divulgou um estudo complementar que aponta que um número expressivo de pacientes continuou a demonstrar uma melhora “clinicamente significativa” seis meses após a conclusão da terapia.


SOBRE O AUTOR

Mark Sullivan é redator sênior da Fast Company e escreve sobre tecnologia emergente, política, inteligência artificial, grandes empres... saiba mais