“Rei do NFT” projeta o futuro dos macaquinhos virtuais Bored Ape
Já faz algumas semanas que a Yuga Labs, empresa por trás do Bored Ape Yacht Club – o projeto NFT (Non-fungible Token, ou token não-fungível) mais valorizado do mercado –, adquiriu os projetos NFT blue chip da Larva Labs, o CryptoPunks e o Meebits. A Yuga também anunciou uma rodada de financiamento de US$ 450 milhões, o que fez com que a empresa fosse avaliada em US$ 4 bilhões.
Como parte desse anúncio, a Yuga anunciou o Otherside, seu projeto de metaverso que pretende unir os mundos dos vários personagens sob sua égide. Como se tudo isso não bastasse, um token ApeCoin (APE), administrado por sua Ape DAO (organização autônoma descentralizada), começou a ser negociado nas principais bolsas de criptomoedas.
NFTs são tokens, ou seja, códigos numéricos com registro de transferência digital que garantem autenticidade aos seus donos. O token não fungível representa algo específico e individual, com uma espécie de “cartão de autenticidade”, e que não pode ser substituído.
Se há alguém capaz de explicar o que tudo isso significa para o Bored Apes – e para os NFTs como um fenômeno cultural –, essa pessoa é Jimmy McNelis. Ele tem analisado o potencial e os perigos de uma única empresa controlar cinco das 20 coleções de NFT mais cobiçadas do mundo – e o que tudo isso significa para os NFTs e para o seu papel na cultura popular.
McNelis é um dos mais proeminentes colecionadores de NFT da atualidade, além de ser CEO da plataforma de construção de marca NFT42. Também lançou seu próprio projeto NFT, o Avastars, em 2020. No ano passado, fez sucesso quando quatro de seus Bored Apes formaram a banda Kingship, um projeto liderado por Celine Joshua, fundadora do Universal Music Group (selo focado na Web3). Possui ainda vários NFTs em seu portfólio, incluindo o CryptoPunks e o Meebits.
Tudo isso torna McNelis o entrevistado perfeito para fazer previsões sobre quais projetos de NFT estão por vir e sobre sobre o impacto das uniões de NFTs neste momento crucial, em que diversos problemas que assolam o espaço criptográfico – a Web3 – vêm se tornando mainstream.
O que a compra dos principais projetos de NFT da Larva pela Yuga sinaliza, na sua opinião?
O fato de a Yuga ter ganhado muito dinheiro com seu próprio projeto NFT e de ter decidido usar esse dinheiro para comprar os projetos NFT blue chip que existem agora é um sinal muito positivo, no geral, para o setor e para o mercado. Não tenho detalhes, mas não ficaria surpreso se houvesse empresas maiores, não nativas da Web3, que também estavam interessadas nesse IP. Acho que a Yuga está tentando adotar uma abordagem muito ampla no ecossistema NFT e ser líder nesse espaço. E eles estão dando um grande passo nesse sentido.
O NFT representa uma propriedade digital específica e individual, que não pode ser substituída.
Estaria havendo muita transferência de poder para uma única empresa?
Esse espaço ainda é extremamente incipiente. Não há muitas entidades no setor que possam lidar com algo tão importante e dessa amplitude. Havia por aí alguns outros interessados nessa compra. Eu vi que o Pixel Vault [criador do quadrinho cripto-nativo Punks] estava tentando comprar o IP. Isso seria algo muito legal. A alternativa seria: e se alguém como a Meta o comprasse? Ou seja, é melhor que tenha acabado nas mãos de uma empresa nativa da Web3 do que nas mãos de alguma gigante, porque veremos muitas gigantes no setor este ano.
A Yuga Labs também lançou a ApeCoin. Isso parecia inevitável para você?
Sinceramente, não. Eu esperava que o OpenSea ou o MetaMask fizessem uma moeda, antes que os Bored Apes fizessem um token. O token Ape tem uma chance real de se tornar um dos principais usados no ecossistema NFT nos próximos dois anos. Esse token também terá utilidade direta no ecossistema Yuga. Sentimos alguma propriedade sobre essa comunidade e sobre a existência desse token, porque somos os detentores que basicamente permitiram que isso acontecesse, por acreditarmos no projeto.
Uma questão que não pode ser ignorada são as preocupações de segurança em torno dos NFTs. O que você acha que é necessário para mitigar o hacking?
É assustador mesmo. As pessoas perderam imensas quantias de dinheiro. É muita pressão para que a gente acerte tudo e não cometa erros. Estamos agora em um mundo onde todo o nosso dinheiro está basicamente mantido sob a custódia de instituições. Temos bancos. Temos seguro FDIC. Mas esses mecanismos ainda não existem no universo da criptografia. No entanto, esta é uma oportunidade para todas as instituições existentes – que hoje estão resolvendo esses problemas com dinheiro fiduciário e com bancos tradicionais – para fornecer produtos e ferramentas que também ajudarão a proteger os consumidores. E o governo dos EUA claramente deseja isso também.
O token Ape tem uma chance real de se tornar um dos principais usados no ecossistema NFT nos próximos dois anos.
Na questão dos projetos NFT, muitos deles parecem bem semelhantes. O que você tem visto de novo e inovador?
A CyberBrokers foi lançada recentemente por uma artista chamada Josie Bellini. Esse NFT é uma pessoa completa. Acho o máximo que eles continuem inovando, ao colocar os SVGs [gráficos vetoriais escaláveis] diretamente na cadeia. Fica preservado para sempre. E como são SVGs em camadas, você consegue tirar peças de roupa do personagem e revelar traços ocultos por baixo. Acho que ela está desenvolvendo todo um ecossistema em torno da CyberBrokers. Eles têm traços complexos, como profissões e especialidades. Não é apenas um NFT típico. Não sei se foi o meu amigo Nate Alex que cunhou o termo “projetos de personagens complexos”, mas dou a ele crédito por isso. É como os Bored Apes, os Cool Cats – acho que é desse tipo de novidade que você está falando.
Que direção gostaria que os NFTs tomassem?
Quero ver a ampla adoção dos NFTs. Eu gostaria de ver grandes empresas entrarem neste espaço e começarem a brincar com seu IP existente, com um novo IP. Adoraria ver . . . se pudéssemos começar a construir algumas formas de identidade segura. Estou animado para ver cada vez mais interesse por NFTs em todo o mundo.
Mas a desconfiança e o ceticismo em relação a esse setor não são incomuns…
Para mim, o ceticismo vem da ignorância. Não estou tentando acusar ninguém em especial por isso. É difícil entender algumas dessas coisas, inicialmente. É quase como se você tivesse que mudar a maneira como pensa, para aí sim começar a entender o blockchain. Mas assim que consegue entender, vira uma chave na sua cabeça. O que todos nós provavelmente estamos tentando fazer é criar esse momento-chave e fazer as pessoas entenderem que há um benefício nisso para elas também. Neste momento, o público ainda não entende o que pode haver de interessante para ele nesse universo. Por que os NFTs são importantes? Por que o blockchain e criptografia são interessantes para mim? Uma vez que possamos transmitir isso claramente a todos, é aí que essa coisa toda vai cumprir sua vocação.