Robôs domésticos não são mais ficção: Neo está pronto para limpar sua casa
A 1X Technologies criou um robô doméstico que, segundo a empresa, pode mudar o mundo. Mas a primeira tarefa dele é aprender a fazer o trabalho

Com um movimento firme, Dar Sleeper ergue o robô humanoide do chão. Sustentando suas costas com um braço e as pernas com o outro, ele o carrega pela sala e o deposita gentilmente em um sofá. A máquina permanece ali, imóvel, como se estivesse tirando uma soneca.
A cena pode parecer surreal, mas tem um propósito sério. Estou visitando a sede da 1X Technologies em Palo Alto, na Califórnia, e Sleeper, vice-presidente de crescimento da companhia, demonstra que Neo, o robô doméstico da empresa, é leve: pesa apenas 30 quilos.
Esse é um detalhe crucial de design. Um robô mais pesado poderia se tornar perigoso caso caísse perto de um humano, de um animal de estimação ou de um objeto valioso.
Em breve, Neo enfrentará seu verdadeiro teste: lares reais. A 1X já está em fase de pré-venda e planeja entregar as primeiras unidades no ano que vem. O preço: US$ 20 mil, ou US$ 499 por mês em um modelo de assinatura com contrato mínimo de seis meses. Assim como um smartphone, o robô terá opções de cores: bege, cinza e marrom-escuro.
Espera aí: US$ 20 mil? Não há muitos produtos de consumo populares nessa faixa de preço. Carros, talvez barcos. Mesmo tentando lembrar de mais algum, a lista é bem curta.
Por outro lado, os objetivos de Bernd Børnich, fundador e CEO da 1X, para seus robôs envolvem alcançar um nível de utilidade que poucas invenções já atingiram. Ele quer ensinar Neo a realizar todas as tarefas domésticas que as pessoas fazem por necessidade, e não por vontade própria.
Mesmo que o tempo economizado seja em pequenas parcelas – cinco minutos descarregando a máquina de lavar louça aqui, 15 minutos dobrando a roupa ali – isso se somaria a muitas horas disponíveis para atividades mais gratificantes.
1 BILHÃO DE ROBÔS HUMANOIDES
A 1X não está sozinha em seu sonho de um futuro povoado por robôs humanoides convivendo com pessoas. Empresas como Agility Robotics, Apptronik e Figure AI também desenvolvem máquinas desse tipo.
Por enquanto, o foco das empresas do setor está em fábricas e armazéns, onde robôs podem assumir tarefas perigosas ou repetitivas (e que não exigem salário).
Segundo um relatório do Morgan Stanley, até 2050 pode haver mais de 1 bilhão de robôs humanoides em operação, a maioria em ambientes industriais e comerciais. Apenas 80 milhões estariam em residências – ainda assim, 80 milhões a mais do que existem hoje.

Mas apesar do objetivo grandioso de transformar a rotina doméstica, a 1X admite: Neo ainda está longe de lidar com todas as tarefas que alguém poderia delegar a um assistente robô.
Muitas de suas capacidades dependem da assistência remota de funcionários da empresa, que podem controlar o robô como se fosse um marionete. A ideia é que essa ajuda seja temporária, enquanto também gera dados para treinar o sistema de IA e torná-lo mais autônomo.
Meu encontro com Neo reforçou tanto os avanços quanto as limitações atuais do robô. Ele se move com desenvoltura: não chega a imitar o caminhar humano, mas é mais ágil do que eu imaginava.

Mostrou força ao erguer um saco de arroz do tamanho dos usados em restaurantes. Também me trouxe uma garrafa de água gelada, embora isso tenha exigido uma mistura de autonomia (caminhar até a geladeira) e controle remoto (abrir a porta e pegar a garrafa) e levou bem mais tempo do que se eu mesmo tivesse ido buscá-la.
Uma demonstração de limpeza fracassou quando o aspirador sem fio que o robô empunhava ficou sem bateria (um faxineiro humano teria percebido o problema imediata- mente). E algumas das funções citadas pela empresa – como lembretes de aniversário e organização de listas de compras – não parecem justificar um equipamento de US$ 20 mil.
DE ROSIE A C-3PO
Para que Neo decole, a 1X não precisa apenas aprimorar suas habilidades. Terá de atender a expectativas formadas ao longo de décadas de cultura pop, de "Os Jetsons" a "Star Wars".
“Nosso grande objetivo, na visão de muita gente, é chegar à Rosie, a robô”, diz Sleeper, citando a famosa empregada doméstica dos Jetsons. Børnich afirma que a empresa ainda não sabe exatamente qual será o papel do robô nos lares, e que vendê-lo ajudará a entender isso.
Desde o início, Neo terá suporte via assistência remota: funcionários poderão ver o que o robô vê e guiá-lo em tarefas mais complexas. A empresa afirma já ter se preparado para possíveis preocupações com privacidade: a assistência só acontece quando o usuário solicita e pode ser interrompida a qualquer momento.



Por ora, a 1X está ocupada ensinando Neo a realizar tarefas simples – aquelas que humanos fazem quase de olhos fechados.
Quando pergunto a Børnich se o modelo de negócios final da empresa será vender robôs domésticos ou serviços baseados neles, ele rebate a premissa. “Na verdade, penso na 1X principalmente como uma empresa de inteligência artificial geral”, diz.
“Queremos resolver a inteligência e o trabalho artificial em toda a sociedade. No digital e no físico – em toda a estrutura. E você não chega lá sem robôs.”
Agora, a 1X precisa provar que vai chegar lá com eles.