Será o fim das redes sociais tal como as conhecemos hoje?

A transformação do Facebook em uma plataforma nos moldes do TikTok pode representar o começo do fim do “social networking”

Crédito: Fast Company Brasil

Mark Sullivan 4 minutos de leitura

É bem provável que a vida nas redes sociais, do modo como a conhecemos, esteja com os dias contados. Elas costumavam ser um grande painel com todo tipo de pessoa e, ao mesmo tempo, uma forma “agradável” de as plataformas coletarem dados pessoais para usar em campanhas publicitárias direcionadas ao público-alvo certo.

Só que tudo, na internet, é passageiro. O TikTok criou um aplicativo mais viciante que qualquer coisa já vista antes. E a Meta (antes conhecida como Facebook), cujos apps se mantiveram por anos a fio no topo das listas de mais baixados, sabe disso. Assim, lançou um arremedo do concorrente, o Reels, e anunciou que está transformando seu carro-chefe, o Facebook, em um tipo de aplicativo de vídeo.

Agora, o aplicativo do Facebook abre em uma página com aba Reels (a mudança chegará aos apps para desktop em breve, segundo a empresa). Se você quiser ver os posts dos seus amigos ou das pessoas da sua lista, vai ter que abrir a aba Feed. É lá que estão as funcionalidades de rede social – elas viraram uma espécie de atração secundária.

O Facebook era um lugar para se conectar com amigos e familiares. Até que deixou de ser.

A direção do Facebook agora considera sua principal rede social um “sistema legado”, escreveu Scott Rosenberg, editor de tecnologia do site de mídia Axios. No jargão do setor, “legado” quer dizer uma tecnologia antiga, mas que continua em operação, como o 3G ou os tocadores de MP3. Coisas que vão desaparecendo aos poucos até saírem de cena.

Por muito tempo, as características típicas das redes sociais foram o mais importante da brincadeira. Ao longo dos anos em que elas foram sendo construídas e ampliadas, a empresa de Mark Zuckerberg proporcionou um espaço no qual os usuários ficavam sabendo onde seus amigos estavam passando férias, curtiam fotos dos bebês dos parentes e ainda tinham a satisfação de ver um post seu ganhar montes de likes e comentários. Era um lugar para se conectar com amigos e familiares. Até que deixou de ser.

O LADO SOMBRIO

Lá por 2015, o feed começou a se encher de posts de gente desconhecida. Os usuários passaram a ver anúncios, notícias e posts de grupos, todos cuidadosamente direcionados de acordo com suas preferências pessoais, hábitos de navegação, dados demográficos (gênero, idade etc.), crenças religiosas e políticas, entre outros indicadores. Graças a isso, os anunciantes agora conseguiam filtrar e segmentar a audiência que desejavam atingir, pagando um preço razoável.

Mas os “caras maus”, tanto do próprio país quanto estrangeiros, logo descobriram como explorar e instrumentalizar o algoritmo. E fizeram isso muito bem, causando um efeito enorme na eleição presidencial de 2016 nos Estados Unidos.

Muita gente culpou o Facebook de ter ajudado Donald Trump a se eleger presidente.

A estratégia era divulgar anúncios (anônimos) criados para acirrar os ânimos da sociedade, incentivar o preconceito e as desavenças políticas e, principalmente, gerar desconfiança sobre as instituições nacionais, incluindo o sistema eleitoral norte-americano. 

Ao final daquela eleição, o Facebook estava bem longe de ser a rede social “da família e dos amigos” que era antes. Muita gente culpou a empresa por ter, inadvertidamente, ajudado Donald Trump a se eleger presidente.

Não ajudou em nada o fato de o Facebook ter permitido que dados pessoais de milhões de usuários fossem usados pela Cambridge Analytica, uma consultoria especializada em análise de dados contratada pela campanha de Trump.

PÚBLICO X PRIVADO

Na conferência anual de desenvolvedores do ano seguinte (F8), Zuckerberg disse que o “próximo capítulo” do Facebook seria focado na privacidade. “Acredito que o futuro é privado”, disse ele. “Os espaços privados da nossa rede social serão mais importantes do que a praça pública digital”, garantiu.

Quando o aspecto de rede social desaparece, alguma coisa tem que entrar no lugar.

A “praça pública digital” do Facebook é um fracasso. Não é uma plataforma de discussão e reconciliação, ela continua a ser uma rede na qual as pessoas se fecham em bolhas. Os espaços “privados” podem ser mais úteis para os usuários, mas não tão rentáveis para a empresa. 

Agora, o mais importante algoritmo do Facebook é algo chamado “motor de recomendação”. É a versão Menlo Park do motor de recomendação do TikTok, que analisa as visualizações e preferências dos usuários para sugerir o próximo vídeo, e o próximo, e o próximo.

Mostrar vídeos feitos por gente completamente desconhecida parece ser o futuro do Facebook. Ao longo de sua história, o modelo de negócios da empresa foi conquistar usuários oferecendo uma rede social gratuita para coletar e vender seus dados pessoais para publicidade.

Quando o aspecto de rede social desaparece, alguma coisa tem que entrar no lugar. No caso, provavelmente serão vídeos de 30 segundos de pessoas atazanando seus gatos.  


SOBRE O AUTOR

Mark Sullivan é redator sênior da Fast Company e escreve sobre tecnologia emergente, política, inteligência artificial, grandes empres... saiba mais