Spotify lança funcionalidade para resolver a moderação de comentários

As seções de comentários se tornaram espaços de discurso de ódio e polarização. A plataforma tenta resolver isso com um novo recurso para podcasts

Crédito: Spotify

Henry Chandonnet 3 minutos de leitura

O Spotify anunciou um novo recurso para comentários em podcasts. Outras plataformas já enfrentaram problemas com suas seções de comentários, que se tornaram redutos de discursos de ódio e polarização.

A solução do Spotify? Moderação feita pelos próprios criadores de conteúdo.

Em vez de permitir que todos postem livremente, a empresa está dando aos criadores a possibilidade de filtrar e decidir quais comentários serão publicados. Alguns críticos afirmam que essa abordagem pode prejudicar a livre expressão.

Outros dizem que sobrecarregará os podcasters, obrigando-os a lidar com comentários ofensivos. Mas ainda estamos nos estágios iniciais e o Spotify está dando só o primeiro passo para resolver o problema da moderação.

“Nesta primeira fase, estamos dando mais controle aos criadores”, diz Maya Prohovnik, vice-presidente de produto de podcasts da empresa.

Os usuários agora têm uma maneira mais fácil de enviar feedback. Em vez de usarem outra plataforma como o Twitter (atual X) ou Facebook, eles podem enviar mensagens diretamente pelo aplicativo.

Crédito: Jonathan Velasquez/ Unsplash

Lena Frischlich, psicóloga de mídia da Universidade do Sul da Dinamarca, está cética quanto ao sucesso da autogestão e ressalta que podcasters de todos os espectros políticos já recebem muitas mensagens de ódio e até ameaças de morte dos ouvintes.

“Os podcasts são espaços para debates sociais, que podem atrair muitas reações negativas. [Os comentários] podem ser muito pessoais e dolorosos. Para os alvos desse tipo de assédio, isso pode levar a emoções negativas e experiências traumáticas”, explica Frischlich.

O Spotify afirma que a função foi criada para promover o engajamento.

A ameaça de comentários não moderados é ainda mais grave por conta do anonimato. As contas do Spotify geralmente usam apelidos que não correspondem aos nomes verdadeiros dos usuários ou outro tipo de identificador.

Kevin Wallsten, professor de ciência política na Universidade Estadual da Califórnia, acredita que isso aumenta a probabilidade de comentários negativos e discursos de ódio.

“Como os comentários no Spotify são anônimos, é difícil rastreá-los até uma pessoa específica. Este é um dos principais fatores que determinam a qualidade do discurso”, observa Wallsten.

AUTOGESTÃO E ENGAJAMENTO

Com os próprios podcasters tendo que lidar com a enxurrada de comentários não moderados, há pouco incentivo para manter críticas construtivas ou opiniões contrárias. Muitos podem optar por permitir apenas comentários positivos, o que, na prática, elimina a possibilidade de qualquer discussão.

Wallsten acredita que a busca por engajamento pode ser mais uma declaração de intenção do que uma prática real do Spotify. A autogestão de comentários, segundo ele, é uma forma de não correr riscos.

“É o caminho menos arriscado para passar a imagem de que prioriza o engajamento sem realmente investir esforço na moderação de conteúdo, terceirizando isso para os podcasters e evitando os danos potenciais das seções de comentários”, diz Wallsten.

O Spotify afirma que a função foi criada para promover o engajamento, mesmo que alguns dos recursos interativos padrão estejam ausentes ou limitados. Ela boqueia funções como responder ao comentário de outro usuário. A ideia é "testar o terreno".

Isso seria uma forma de proteger os podcasters da plataforma. Prohovnik acrescenta que os criadores podem optar por não usar o recurso de moderação, usá-lo apenas em episódios específicos ou mesmo desativar todos os comentários.

“[Estamos] seguindo uma abordagem deliberadamente lenta e cuidadosa enquanto testamos esses sistemas”, ressalta a executiva do SPotify. “O modo como iremos expandir a função dependerá do feedback que recebermos dos criadores e dos usuários.”


SOBRE O AUTOR

Henry Chandonnet é escritor e editor baseado em Nova York. Atualmente, trabalha como estagiário editorial na Fast Company, onde cobre ... saiba mais