Startup quer “programar o acaso” com IA e reviver encontros inesperados

Novo aplicativo usa testes de personalidade e inteligência artificial para conectar desconhecidos por meio de experiências reais e personalizadas

Crédito: Deagreez/ Getty Images

Mariah Alanskas 3 minutos de leitura

“Uma chance de escolher o acaso.” Essa é a proposta do 222, uma nova plataforma social que foge dos moldes tradicionais dos apps de relacionamento – nada de arrastar pretendentes para o lado ou perfis para analisar. Aqui, quem decide com quem você vai se encontrar é a inteligência artificial.

“O nosso objetivo sempre foi tirar as pessoas de casa e colocá-las frente a frente”, explica Danial Hashemi, cofundador e diretor de operações do 222.

“A ideia surgiu quando percebemos que os chamados ‘terceiros lugares’ [como cafés, bibliotecas e praças] estão desaparecendo, e com eles, as interações espontâneas. As pessoas simplesmente pararam de se esbarrar por acaso. Criamos nosso algoritmo justamente para ‘programar o acaso’.”

UMA IDEIA QUE NASCEU NO QUINTAL

Em 2021, os amigos Keyan Kazemian, Arman Roshannai e Danial Hashemi, então com pouco mais de 20 anos, criaram a ideia da plataforma como parte de um projeto independente.

Eles elaboraram um questionário de personalidade e convidaram amigos e desconhecidos para respondê-lo. Depois, agruparam as pessoas com base nas respostas e organizaram encontros informais no quintal de Kazemian, com vinho e petiscos. No fim, avaliaram como as conexões se formavam.

“Essa experiência nos mostrou duas coisas”, conta Hashemi. “Primeiro, que é possível combater o problema da solidão com IA e aprendizado de máquina. Segundo, que mesmo naquele estágio super inicial – com combinações feitas quase na sorte –, as pessoas adoraram o resultado.”

Crédito: Luke Jones/ Unsplash

A solidão não é um problema novo – mas está mais presente do que nunca na era digital. Apesar de termos acesso a comunidades online de todos os tipos, nos sentimos extremamente sozinhos. Daí a ideia de "programar o acaso"

Segundo um relatório de 2023 do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA, estamos vivendo uma epidemia de solidão. Entre 2003 e 2020, o tempo médio que os norte-americanos passam sozinhos aumentou em 24 horas por mês, enquanto o tempo com outras pessoas caiu 10 horas. Em 2018, apenas 16% disseram se sentir conectados à sua comunidade.

Será que a IA é a solução de que tanto precisamos? Hashemi acredita que sim. De acordo com ele, o 222 ajuda a “criar conexões mais profundas” e “reaproximar as pessoas das cidades em que vivem”.

COMO FUNCIONA

O nome 222 vem do endereço em Los Angeles onde a ideia surgiu. A plataforma está disponível por aplicativo e pelo site. Não há fotos de perfil – tudo começa com um longo questionário, quase como um compilado de vários testes de personalidade.

As perguntas vão de filmes favoritos e posicionamentos políticos até questões como: “qual a chance de você usar cocaína?”. O objetivo é traçar um perfil detalhado baseado em identidade, interesses e estilo de vida.

Apesar de termos acesso a comunidades online de todos os tipos, nos sentimos extremamente sozinhos.

Depois disso, o usuário passa a receber convites para experiências personalizadas, como um “jantar com um show de stand-up” ou um “almoço depois de uma partida de tênis”, com outras pessoas que tenham perfis parecidos.

Para participar dos encontros – e ajudar a manter a plataforma –, os usuários podem pagar US$ 22,22 por evento, assinar um plano mensal pelo mesmo valor ou optar por pacotes trimestrais e anuais com desconto.

“Não queremos ser só uma experiência divertida que a pessoa testa uma vez e nunca mais volta”, observa Hashemi. “A ideia é construir algo duradouro, que ajude a criar uma base para a vida social das pessoas.”

Depois de cada evento, os participantes podem dar feedback sobre com quem gostariam de manter contato ou reencontrar. Isso ajuda o algoritmo a melhorar as sugestões e aumentar as chances de criar novas conexões ou aprofundar as que já se iniciaram.

Lançado originalmente em Los Angeles, o 222 já chegou a Nova York, São Francisco e, mais recentemente, Chicago. Até agora, o aplicativo já arrecadou US$ 3,6 milhões em investimentos, com apoio de fundos como General Catalyst, Y Combinator, Upfront Ventures e 1517 Fund.

A plataforma que ajuda a programar o acaso acaba de fazer sua estreia internacional em Toronto, no Canadá. Londres e Washington serão os próximos a receber o serviço.


SOBRE A AUTORA

Mariah Alankas é jornalista e comunicadora visual. saiba mais