Também na Europa, pais tentam proibir smartphones para crianças

Eles não estão apenas tentando manter os celulares fora das escolas, mas também criando grupos para falar sobre os perigos destes dispositivos

Crédito: Jacob Wackerhausen/ iStock

Joseph Wilson e Laurie Kellman 4 minutos de leitura

Experimente dizer “não” ao seu filho quando ele pede um smartphone. O que vem depois, como muitos pais podem confirmar, é algo como: “mas todo mundo tem um. Por que eu não posso ter?”.

Mas e se nenhuma criança tivesse um smartphone – e ter um fosse algo estranho? Este é o objetivo de um número cada vez maior de pais em toda a Europa, preocupados com as evidências de que o uso de celulares entre crianças pequenas põe em risco sua segurança e saúde mental – e que acreditam que são mais fortes juntos.

Movimento semelhante vem tomando corpo no Brasil, onde pais e escolas, principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro, vêm se mobilizando para proibir o uso do aparelho no ambiente escolar. Muitos também estão lutando para convencer outros pais a não dar celulares a crianças antes dos 12 anos e a não permitir o acesso a redes sociais antes dos 16 anos.

Da Espanha à Inglaterra e Irlanda, pais estão lotando grupos de WhatsApp e Telegram visando não apenas manter os smartphones fora das escolas, mas também a se recusarem, coletivamente, a comprar estes dispositivos para crianças antes (ou até durante) da adolescência.

Inspirada por uma conversa com outras mães, Elisabet García Permanyer, moradora de Barcelona, criou um grupo de chat com pais do colégio de seus filhos para compartilhar informações sobre os perigos do acesso à internet para crianças.

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O grupo, chamado “Adolescência Livre de Celulares”, rapidamente se expandiu para outras escolas e, mais tarde, por todo o país. No momento, conta com mais de 10 mil membros. Os pais mais engajados incentivaram ativistas em escolas por toda a Espanha a aderirem, pressionando outros pais a concordar em não comprar smartphones para seus filhos até que eles completem 16 anos.

E não são apenas os pais. Policiais e especialistas em saúde pública alertam para o aumento no número de vídeos violentos e pornográficos sendo vistos por crianças em dispositivos móveis.

O governo da Espanha ouviu o movimento e baniu completamente os smartphones das escolas primárias em janeiro. Agora, eles só podem ser usados a partir do ensino médio, caso o professor considere necessário para uma atividade educativa.

um consenso vem sendo construído de que o uso de smartphones está ligado ao bullying, ansiedade e perda de concentração.

“Se nós, adultos, já somos viciados em smartphones, como podemos dá-los a uma criança de 12 anos que não tem a capacidade de lidar com isso?”, argumenta García Permanyer. “Isso saiu do nosso controle. Se a internet fosse um espaço seguro para crianças, estaria tudo bem. Mas não é.”

O movimento na Inglaterra ganhou força este ano depois que a mãe de Brianna Ghey, que foi assassinada por dois adolescentes no ano passado, começou a exigir que crianças menores de 16 anos fossem impedidas de acessar redes sociais.

Daisy Greenwell, mãe de três filhos com menos de 10 anos, e sua amiga Clare Reynolds, criaram um grupo de WhatsApp chamado “Pais Unidos por uma Infância Livre de Smartphones”, com três pessoas. Em quatro dias, duas mil outras haviam se juntado. Em três semanas, cada condado na Inglaterra já tinha seu próprio grupo.

HÁ MUITO EM JOGO

Até os 12 anos, a maioria das crianças já tem um smartphone, segundo estatísticas dos três países. De acordo com pais e escolas que conseguiram reverter a situação em suas comunidades, a mudança se tornou possível no momento em que entenderam que não estavam sozinhos.

O que começou como uma ferramenta para manter contato com familiares e amigos se transformou em algo mais preocupante, que deveria ser mantido longe das crianças – como cigarro e álcool.

Em Greystones, na Irlanda, esse momento surgiu depois que todos os oito diretores de escolas primárias da cidade assinaram e divulgaram uma carta, em maio, desencorajando os pais a comprar smartphones para os alunos. Mais tarde, os próprios pais voluntariamente assinaram compromissos por escrito, prometendo não permitir que seus filhos usassem os dispositivos.

Crédito: Reprodução/ Shoptime

Algo parecido com um consenso vem sendo construído há anos entre instituições, governos, pais e outros grupos de que o uso de smartphones por crianças está ligado ao bullying, ideação suicida, ansiedade e perda de concentração necessária para o aprendizado.

A China tomou medidas no ano passado para limitar o uso de celulares por crianças; a França já proíbe smartphones em escolas para alunos de seis a 15 anos.

O que começou como uma ferramenta para manter contato com familiares e amigos se transformou em algo mais preocupante.

As preocupações são várias. Alguns pais temem que seus filhos pequenos pedirão um celular, como seus amigos. Outros têm adolescentes com smartphones e se arrependem de ter dado o aparelho quando ainda estavam em uma “fase ingênua”, ou seja, quando ainda acreditavam que as telas eram apenas uma forma de deixar as crianças se divertir e conversar com os amigos. Eles afirmam que finalmente saíram de um estado de ignorância sobre a internet.

Laura Borne, uma mãe irlandesa com filhos de cinco e seis anos que nunca usaram um smartphone, diz estar ciente da necessidade de impor regras ao comportamento online – e que, provavelmente, deveria reduzir seu próprio uso. “Estou fazendo o meu melhor”, diz ela. Mas, assim como com as crianças, as pressões existem. E não vão embora.

Com informações da redação da Fast Company Brasil.


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