Versões aceleradas de músicas, a nova tática das gravadoras no TikTok

Para se tornar virais no TikTok e alcançar o topo das paradas, artistas e gravadoras estão aumentando o bpm de suas músicas

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David Salazar 3 minutos de leitura

Qualquer que seja a próxima música a estourar, é muito provável que venha acompanhada de uma versão acelerada.

Na semana passada, o novo grupo feminino de K-pop chamado Fifty Fifty quebrou um recorde na Billboard. Com o single “Cupid” – e suas versões em inglês e instrumental –, a girl band ficou no topo do Hot 100 por nove semanas, superando o recorde anterior estabelecido pelo Blackpink.

Ter três versões da música certamente ajudou, mas o que impulsionou o sucesso da faixa na Billboard foi uma tendência cada vez mais comum: um remix acelerado que viralizou no TikTok.

Pouco depois de “Cupid” ser lançado como um single, no final de fevereiro, um usuário do TikTok compartilhou no aplicativo uma versão mais rápida da música feita por um fã, com as cantoras com uma voz levemente mais aguda, enquanto cantavam sobre se sentirem solitárias e chorarem em seus quartos.

A faixa se tornou um sucesso e já apareceu em mais de 7,7 milhões de vídeos. A gravadora do grupo decidiu lançar um remix oficial em inglês, que desde então foi utilizado em cerca de 4 milhões de vídeos do TikTok. Em comparação, a original foi usada 2,1 milhões de vezes.

“É fácil associar a tendência de músicas aceleradas ao ritmo do TikTok e de plataformas digitais em geral”, afirma Tatiana Cirisano, analista sênior da indústria musical na Midia Research, empresa com sede no Reino Unido que analisa a indústria do entretenimento.

“Quando se cria conteúdo para essas plataformas – especialmente para o TikTok –, a ideia é capturar a atenção das pessoas o mais rápido possível. Há algo na música acelerada que combina com a energia do TikTok.”

O PODER VIRAL DO REMIX

Essa não é a primeira vez que uma versão com mais batidas por minuto ajuda a impulsionar um hit. A faixa “Bloody Mary”, de Lady Gaga, lançada há 12 anos, entrou nas paradas globais depois que uma versão mais rápida da música viralizou no TikTok, com a dança inspirada na série “Wandinha” da Netflix.

Mas, cada vez mais, a própria indústria da música está aproveitando o poder viral dos remixes acelerados para impulsionar artistas. Para a gravadora independente do Fifty Fifty, Attrakt, ter várias versões de “Cupid” – incluindo a mais rápida que tomou conta do TikTok – foi crucial para ajudar o grupo a se destacar em uma indústria dominada por gigantes como a Hybe, o selo por trás do BTS.

Steve Lacy, cujo single “Bad Habit” alcançou o topo da Billboard Hot 100 no ano passado, revelou que a versão acelerada lançada por sua gravadora ajudou a faixa a sair do segundo lugar, embora sua primeira reação ao ouvi-la tenha sido: “nossa, isso é horrível”.

Pegando carona nessa tendência, Sza lançou “Kill Bill” como single em janeiro, com quatro versões: original, acelerada, à capela e instrumental. Na semana passada, Lana Del Rey liberou uma faixa inédita, “Say Yes To Heaven”, também com uma versão mais rápida.

De acordo com Cirisano, isso marca um ponto de virada na indústria da música. “É uma mudança completa em relação ao passado, quando a indústria se sentia desconfortável com coisas assim”, afirma.

“Existe um sentimento geral na indústria da música de não repetir o erro de não se adaptar rapidamente à tecnologia ou de tentar resistir ou mudar o comportamento do consumidor, em vez de tentar antecipá-lo.”

Parte do trabalho acontece nos bastidores. As gravadoras secretamente introduzem versões com mais bpm nas redes sociais e nos serviços de streaming. A Bloomberg e a Billboard revelaram que a Warner Music e a UMG – duas das três maiores gravadoras do mundo – são donas de perfis que adicionam músicas aceleradas de seus artistas em plataformas como Spotify e Apple Music.

A Warner também parece estar por trás de uma misteriosa conta no Spotify chamada “sped up 8282”, que lançou a versão mais rápida de “Cupid” do Fifty Fifty. Essas práticas, segundo Cirisano, são uma tentativa de evitar perder espaço – e royalties – para remixes não autorizados. Mesmo assim, eles continuam sendo criados.

“Uma vez lançada, a música ganha vida própria”, afirma Cirisano. “Ela pode ser acelerada, remixada, transformada em meme.” Em outras palavras, versões com mais bpm são apenas o começo. As gravadoras estão começando a entender que a música do momento – seja ela qual for – provavelmente terá vários formatos.


SOBRE O AUTOR

David Salazar é editor associado da Fast Company. saiba mais