Você sabia? Quase todos os dados do mundo passam por cabos submarinos

Um só cabo consegue suportar milhões de pessoas assistindo a vídeos e enviando mensagens simultaneamente sem que a velocidade diminua

Créditos: Cristian Palmer/ Unsplash/ piranka/ iStock

Robin Chataut 4 minutos de leitura

Já parou para pensar como um e-mail enviado de Nova York chega a Sydney em segundos? Ou como é possível fazer uma videochamada com alguém do outro lado do mundo em tempo real? Por trás desses milagres cotidianos está uma gigantesca rede invisível de cabos submarinos que silenciosamente alimenta as comunicações globais.

Os cabos submarinos, também conhecidos como cabos de comunicação submarinos, são cabos de fibra óptica instalados no fundo do oceano e usados para transmitir dados entre continentes. Eles são os alicerces da internet global, possibilitando a maior parte das comunicações internacionais. Mais de 95% de todos os dados que circulam pelo mundo passam por eles. 

Os cabos submarinos têm a capacidade de transmitir vários terabits por segundo e são o método de transferência de dados mais veloz e confiável disponível atualmente. São rápidos o suficiente para transmitir cerca de uma dúzia de filmes em 4K de duas horas instantaneamente.

Existem aproximadamente 485 cabos submarinos, cobrindo um total de quase 1,5 milhão de quilômetros. Eles atravessam os oceanos Atlântico e Pacífico, além de passagens estratégicas como o canal de Suez e áreas isoladas dentro dos oceanos.

A cidade de Fortaleza é um dos principais hubs de cabos submarinos de fibra óptica do planeta. São 16 cabos catalogados pelo site Submarine Cable Map, que traz um panorama global dos cabos submarinos que interligam diversos pontos no mapa.

Fonte: Submarine Cable Map

O processo de instalação dos cabos começa com uma minuciosa pesquisa para traçar uma rota que evite riscos naturais e minimize o impacto ambiental. Em seguida, navios de instalação equipados com bobinas gigantes de cabo de fibra óptica navegam pela rota pré-estabelecida.

Conforme o navio avança, o cabo é desenrolado e cuidadosamente colocado no fundo do oceano. Às vezes, é enterrado nos sedimentos do leito marinho em águas rasas para protegê-lo de atividades de pesca, âncoras e eventos naturais. Em áreas mais profundas, são colocados diretamente no fundo do mar.

Ao longo da rota, são instalados repetidores em intervalos iguais para amplificar o sinal óptico e garantir que os dados possam viajar longas distâncias sem degradação. Todo esse processo pode levar meses ou até anos, dependendo da extensão e da complexidade da rota do cabo.

AMEAÇAS AOS CABOS SUBMARINOS

Estima-se que de 100 a 150 cabos submarinos sejam danificados a cada ano, principalmente por acidentes, por equipamentos de pesca ou âncoras. No entanto, o potencial de sabotagem, especialmente por Estados, é uma preocupação crescente.

Esses cabos, cruciais para a conectividade global e de propriedade de consórcios de empresas de internet e de telecomunicações, frequentemente estão em locais isolados, mas amplamente conhecidos, tornando-os alvos fáceis para ações hostis.

Cabo submarino de fibras ópticas que conecta Brail e Europa (Crédito: Reprodução/ YouTube)

Essa vulnerabilidade foi evidenciada por falhas sem explicação em vários cabos ao longo da costa da África Ocidental há cerca de um mês, que causaram interrupções significativas na internet, afetando pelo menos 10 países. Várias falhas no Mar Báltico em 2023 levantaram suspeitas de sabotagem.

O corredor estratégico do Mar Vermelho se tornou o principal ponto de ameaças. Um incidente notável envolveu o ataque ao navio cargueiro Rubymar por rebeldes houthis.

Os danos aos cabos submarinos causados pela âncora do navio não apenas interromperam uma parte significativa do tráfego de dados entre a Ásia e a Europa, mas também ressaltaram a complexa relação entre conflitos geopolíticos e a segurança da infraestrutura global de internet.

PROTEGENDO OS CABOS

Os cabos submarinos são protegidos de diversas maneiras, começando pelo planejamento estratégico de rotas para evitar riscos conhecidos e áreas de tensão geopolítica. Eles são construídos com materiais resistentes, incluindo revestimento de aço, para suportar as condições adversas do oceano e impactos acidentais.

Além dessas medidas, especialistas propõem a criação de “zonas de proteção de cabos” para limitar atividades de alto risco perto deles. Alguns sugerem modificar leis internacionais para desencorajar a sabotagem e desenvolver tratados que tornem tal interferência ilegal.

Os cabos submarinos são o método de transferência de dados mais veloz e confiável disponível atualmente.

O recente incidente no Mar Vermelho mostra que a solução para esses desafios de conectividade pode estar fora dos oceanos. Após os cabos serem comprometidos na região, operadoras de satélite usaram suas redes para redirecionar o tráfego da internet.

Os cabos submarinos provavelmente continuarão sendo os responsáveis pela grande maioria do tráfego de dados no futuro próximo. Mas uma abordagem combinada que utilize tanto cabos quanto satélites poderia fornecer uma proteção extra contra acidentes ou tentativas de sabotagem.

Este artigo foi republicado do The Conversation sob licença Creative Commons. Leia o artigo original.

Com informações da redação da Fast Company Brasil.


SOBRE O AUTOR

Robin Chataut é professor assistente de cibersegurança e ciência da computação na Universidade Quinnipiac. saiba mais