X/ Twitter restaura contas banidas e cancela perfis de jornalistas “liberais”

A plataforma diz querer que os usuários “desafiem suas perspectivas”, mas está cada vez mais se comportando como uma câmara de eco

Créditos: Bet_Noire/ iStock/ negoo-s/ Freepik

Clint Rainey 4 minutos de leitura

Recentemente, o X/ Twitter publicou um roteiro detalhando como pretende “transformar a praça global” ao longo do ano. Os planos incluem aproveitar os recursos lançados em 2023, como permitir que assinantes postem vídeos de até duas horas, apostar no Grok como um chatbot concorrente e reforçar o Community Notes para compensar a redução da equipe de moderação de conteúdo.

De acordo com a empresa, “2023 foi fundamental para o X”, mas antecipa uma transformação ainda maior para este ano. Ela será impulsionada por recursos como o aprimoramento da plataforma com IA, a integração de serviços de pagamento entre usuários para promover a ideia de “viver mais em um só lugar” e melhorias na função “ver postagens semelhantes”.

Agora, há também uma opção “ver postagens diferentes”, para que os usuários sejam expostos a pontos de vista contrários de uma maneira que “desafie suas perspectivas... melhorando a qualidade e o equilíbrio das informações que recebem”.

O problema é que a plataforma parece estar concentrando muita energia em banir uma categoria específica de usuários – progressistas, especialmente se forem críticos de Elon Musk –, ao mesmo tempo em que permite a volta de um outro tipo: aqueles que haviam sido banidos por disseminar discurso de ódio.

Nos últimos meses, o X/ Twitter reativou as contas de figuras controversas, que vão desde o teórico da conspiração Alex Jones (que ainda deve US$ 1 bilhão às famílias das vítimas do tiroteio em uma escola nos EUA por difamá-las) até Andrew Anglin, criador do site neonazista “The Daily Stormer”, que ignorou uma ordem judicial que determinava o pagamento de US$ 14 milhões em indenização para uma família judia, passando pelo ultranacionalista Nick Fuentes, que elogiou Hitler.

Agora há também a opção “ver postagens diferentes”, para que os usuários sejam expostos a pontos de vista contrários.

Em 2013, quando Jack Dorsey era o CEO do Twitter, a plataforma baniu permanentemente Anglin. Dias após seu retorno, ele tuitou, entre outras coisas, que as mulheres devem ser submissas aos seus maridos, mas “elas não fazem isso voluntariamente. Então temos que forçá-las. Temos que dominar as mulheres”.

Essas contas estão todas ativas, mas por 24 horas (no dia 8 de janeiro), o X/ Twitter reprimiu brevemente um outro tipo de perfis, aqueles operados por jornalistas progressistas, a maioria dos quais são críticos ferrenhos de Musk. E sem oferecer qualquer explicação.

Entre os atingidos estavam Ken Klippenstein, repórter de segurança nacional do “The Intercept”, e Steven Monacelli, jornalista investigativo do “Texas Observer”. Mikael Thalen, redator do “Daily Dot”, postou esta mensagem de Monacelli (que estava com a conta suspensa):

Não recebi nenhuma explicação do Twitter/ X sobre o motivo da suspensão da minha conta. Não consigo pensar em nada que eu tenha postado recentemente que justifique isso. Apenas o fato de ter escrito várias matérias críticas ao Twitter/ X e Elon Musk nos últimos meses.

Outras contas suspensas incluíam as de figuras como o comentarista Ryan Shead, os podcasters de esquerda Rob Rousseau e True Anon, o escritor do Substack e provocador online Zei Squirrel e o jornalista da “MintPress” Alan MacLeod.

Todas continham postagens criticando Israel ou eram administradas por figuras influentes contrárias às ações do país. A maioria também era crítica a Musk. A plataforma já havia suspendido jornalistas que criticaram o bilionário antes, como o repórter do “The New York Times” Ryan Mac e Drew Harwell, do “The Washington Post”.

O X/ Twitter não respondeu ao pedido de esclarecimento da Fast Company, apenas ofereceu uma resposta automática padrão para a imprensa: “estamos ocupados agora, por favor, volte mais tarde”.

No dia seguinte, as contas estavam ativas novamente. É possível que tenham sido reativadas com a ajuda do próprio Musk, após uma provocação do comentarista político conservador Jackson Hinkle, que questionava: “por que contas críticas a Israel estão sendo suspensas?”. 

Musk respondeu ao post de Hinkle: “vou investigar. Obviamente, não há problema em criticar qualquer coisa, mas não é certo apelar para a violência extrema, pois isso é ilegal.”

O jornalista Glenn Greenwald também se pronunciou, pedindo a Musk para reativar uma das contas – a do “altamente popular e polarizador” Zei Squirrel. “Fazemos varreduras para identificar contas de spam/ golpes e às vezes contas reais são pegas”, respondeu o CEO da empresa.

Vários usuários que tiveram suas contas suspensas passaram a semana exigindo uma explicação. Eles podem encontrar algumas pistas se vasculharem os comentários de “postagens diferentes”, onde Musk parece estar interagindo.


SOBRE O AUTOR

Clint Rainey é jornalista investigativo, mora em NYC e é colaborador da Fast Company. saiba mais